Faz duas décadas, um grupo da comunidade de Forqueta se reuniu para montar pela primeira vez uma peça que recontasse a história de Jesus Cristo. Hoje, 20 anos depois, o espetáculo cresceu em produção, número de participantes e público.
Na edição anterior, realizada em 2015, a Paixão de Cristo atraiu cerca de cinco mil pessoas ao Cenário da Lagoa. Foi o maior público da história, o que surpreendeu a comissão organizadora. Em 2016, o evento não ocorreu devido à chuva.
O agricultor Paulo Grassi, 49, participa desde o início. Para o ele, o engajamento comunitário em prol da fé e da arte ajudou na manutenção da proposta. “Era muito rudimentar, com poucos recursos e um público bem menor.”
Como o passar do anos, o teatro ficou conhecido na região e o público aumentou. Segundo Grassi, esse reconhecimento da comunidade dá motivação ao grupo. “A gente percebe quando você faz alguma coisa e as pessoas admiram, pois o resultado aparece nas ruas, nos comentários.”
É um momento em que as pessoas mais humildes colocam os talentos à disposição, pois o mais importante é a melhora da autoestima dos integrantes. Grassi afirma ainda que é o trabalho desperta nas pessoas a autoestima. “As pessoas se sentem sujeitas do processo e não apenas coadjuvantes.”
Sair de casa é preciso
Grassi atuou nas comunidades de interior quando era secretário da Agricultura. Para ele, as pessoas precisam desse tipo de evento para proporcionar encontros e integração. “Faz uma sociedade crescer porque a cultura ajuda até no entrosamento e faz as pessoas evoluírem também.”
Para o agricultor, o acesso à cultura dá uma visão de mundo diferente. “Se não for de uma forma consciente, mas na percepção delas.”
Para ele, muitas cenas bíblicas são atuais, comparadas com a situação política. Ao interpretar um dos sacerdotes de acusação do Sinédrio, o agricultor faz uma reflexão. “Jesus representava a ameaça ao status quo da época.”
Se no Sinédrio havia um júri corrupto que tentava condenar Jesus mesmo sem provas, no Estado, Pilatus lavava as mãos sobre o destino do inocente.
O ator Liniker Duarte participa desde os 12 anos e acompanhou grande parte da evolução do espetáculo. Para ele, as mazelas do mundo encenadas na paixão e morte de Cristo são simbólicas. “Sempre há o que fazer pelo próximo, como encher os corações de paz e amor e estender a mão pela figura humana. Viver é plantar amor.”