A Política Nacional de Fauna pode ser alterada devido ao projeto que pretende autorizar a caça de animais selvagens e silvestres.
A justificativa dá ênfase aos ataques de animais silvestres a humanos e em propriedades rurais, interferindo na produção.
De acordo com o autor do texto, Valdir Colatto (PMDB/SC), esses animais causam prejuízos econômicos.
A atividade seria permitida em uma série de situações para caçadores registrados. Seria possível, inclusive, a criação de uma reserva onde fosse permitida a caça esportiva. O deputado cita como exemplo os Estados Unidos, onde a caça é legalizada.
Para as entidades de proteção aos animais e ao meio ambiente, a proposta é um retrocesso de uma lei estabelecida nos anos 1960.
Conforme o presidente da Rede de Proteção Ambiental e Animais (Repraas), Vladimir da Silva, trata-se de uma ação predatória e irresponsável. “Hoje existe um grande lobby político para legalizar a caça. Afeta todo o equilíbrio de um bioma.”
Segundo Silva, na região, animais como javalis, capivaras e macacos são mais comuns. “A capivara lança junto com as fezes sementes que podem germinar e possibilitar um reflorestamento natural. Elas são importantes”, alerta.
Para o presidente, o Código Florestal não é respeitado e nenhum município consegue dar conta das demandas na fiscalização. “Grande parte da fauna se perde nas estradas. Os órgãos não fiscalizam nem a própria caça e pesca. Sem fiscalização, vai haver um matança.”
Para ele, são necessárias outras maneiras de evitar prejuízos nas lavouras e criações de animais. “Animais silvestres são diferente, pois todo dia precisa sobreviver. É preciso cercar as propriedades com aparelhos de ruídos ou choque.”
Afirma ainda que o maior animal no Brasil é a onça pintada, depois a onça parda. “É uma mentira dizer que estão atacando. Muitas vezes os selvagens fogem ao ver um ser humano. É uma lei falsa e mentirosa”, critica.
Animais estão fugindo
Em Teutônia, no bairro Languiru, moradores afirmam ter avistado macacos e outros animais silvestres em árvores e pátios das casas, nas últimas semanas. Segundo o biólogo e professor de Zoologia e Ecologia da Univates, Hamilton Grillo, os animais estão fugindo devido à invasão humana. “Isso é uma desestruturação do sistema. Estão concentrados em um determinado lugar e acabam migrando para outro.”
Segundo o professor, o macaco mico ou o prego é o mais comuns na região. Alerta que é preciso cuidado dos moradores. “Os silvestres fogem em função do impacto das obras, principalmente das explosões. É preciso manter a casa fechada ao sair e não deixar alimentos na rua.”
Ele critica o projeto de forma veemente. “É uma medida criminosa. Estudos comprovam que o desleixo dos pecuaristas em deixar o rebanho solto, em partos não acompanhados, tem mais perdas do que a ação direta dos selvagens.”
A caça liberada, sem conhecimento técnico, segundo ele, é um risco e pode provocar um desequilíbrio ambiental ainda maior. “Considerar um elemento como praga não pode ser feito por uma pessoa qualquer. Pode causar danos inimagináveis que acaba por atingir a todos, inclusive com doenças”, alerta.
O professor encerra dizendo que é uma medida irresponsável que põe o Brasil mais uma vez como preocupação ao mundo, uma vez que é considerado o país com maior diversidade de espécies. “A caça, por prazer, é uma coisa ridícula. A natureza não está aqui como mero adereço.”