Mães desempregadas reclamam dos critérios de seleção nas creches

Lajeado

Mães desempregadas reclamam dos critérios de seleção nas creches

Impedimento de inscrever filhos reduz chance de voltar ao trabalho

Mães desempregadas reclamam dos critérios de seleção nas creches
Lajeado

Três meses atrás, Marcia Boelhouwer, 32, tentou pela primeira vez inscrever a filha Antonella, de 11 meses, na creche Jeito de Criança, no bairro Moinhos d’Água. Desempregada e em busca de trabalho, ela esperava entrar na lista de espera. Por estar fora do mercado de trabalho, Marcia foi impedida de inscrever a criança.

Depois da negativa, ela e o marido Rodrigo procuraram a Defensoria Pública para esclarecer a recusa para concorrerem a uma vaga. Foram informados do direito de entrar na fila e procuraram a direção da creche mais duas vezes, ambas sem sucesso.

“A diretora foi super educada (sic), só que disse que não podia porque a mãe precisa estar trabalhando.” Segundo Marcia, a orientação para barrar a inscrição é uma determinação do governo. “Ela nos informou que foi dada uma orientação que eu preciso estar trabalhando para fazer a documentação da Antonella, pois ela precisa dos meus registros de trabalho.”

Ela  diz não ter problemas em aguardar a vaga, mas quer ao menos poder entrar na lista de espera. “Não estou conseguindo nem inscrever na creche. Eu sei que demora, e não teria problema em esperar porque tem a fila e temos de respeitar.”

O critério de exclusão é questionado por Marcia, já que apenas a mulher tem de comprovar estar empregada. “Não entendi porquê, se o pai trabalha porque a mãe também precisa. Claro que eu quero trabalhar, mas como vou fazer isso se não tenho onde deixar ela.”

Ela lembra ainda do problema caso seja contratada por alguma empresa. “Se me chamarem para o emprego onde eu vou deixar ela de uma hora para outra.”

Dificuldade financeira

Sem ter com quem deixar a criança, Marcia não consegue sequer procurar um emprego. “Eu nem procurei ainda porque tenho medo de me queimar, porque não tenho nem com quem deixar ela para fazer uma entrevista.”

A família cogitou contratar com uma babá, mas as dificuldades financeiras dificultam. “A única forma é pagar alguém, mas eu não tenho esse dinheiro justamente porque preciso trabalhar.” Rodrigo, marido de Marcia, é autônomo e trabalha com telefonia móvel e não tem renda fixa, pois depende de vendas. “Se ele não vender não recebe, no mês passado as vendas foram fracas e não recebeu quase nada. Então eu preciso ajudar ele.”

O último emprego de Marcia foi como vendedora de calçados, emprego no qual precisa trabalhar aos sábados. Agora, ela procura uma atividade onde atue de segunda a sexta-feira, para poder ficar com a filha no fim de semana.

Regra não será alterada

A proibição de mães desempregadas entrarem na fila de espera por vagas na creche foi uma medida adotada no governo passado e mantida pela atual gestão.

Segundo a secretária de Educação, Vera Lucia Plein, as exigências para seleção de alunos estão sendo de estudadas. “As diretoras seguem com os critérios pré-estabelecidos.”

Na próxima quinta-feira, 16, a secretária fará uma reunião com a promotoria pública para a política de matrículas nas creches. Porém, a mudança na proibição não é um dos temas que podem ser mudados segundo Vera.

“Estamos elencando todos os itens, não estão bem definidos, considerando os já existentes e alguns que estão sendo estudados.”

As análises de novos critérios não incluem, porém, uma mudança na exigência de que mães estejam trabalhando no momento da inscrição.

“Essa conduta já vem acontecendo a mais anos, então não interferimos nisso. Não previmos nada neste momento.”

Para Vera, o fato de não poderem entrar na fila por uma vaga não é um empecilho para que as mães procurem um emprego. “Eu vejo que ela pode procurar um emprego mesmo estando com a criança e no momento da inscrição vai dizer que está trabalhando.”

Ela destaca ainda a necessidade das crianças conviverem com a família. “A gente sabe o quanto é importante essa convivência com a mãe e o pai.”

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