Com uma carta de menos de 400 palavras, o ex-prefeito de Lajeado, Leopoldo Feldens, colocou fim à trajetória dentro do PMDB. Para ele, o partido, do qual foi um dos fundadores em 1979, deixou de representar os ideais defendidos desde a formação.
“Este não é meu partido das lutas pela Constituinte, das Diretas Já, e de companheiros que lutavam imbuídos da brasilidade que convivíamos na época.” Para Feldens, a sigla se transformou em “um balcão de negócio.”
Na carta, classifica os dirigentes nacionais como “políticos que transformaram o PMDB (…), sem a mínima ideologia, comprometido em coalizões nefastas que só visam o poder.”
A militância política iniciou quando ele era ainda adolescente, nos movimentos estudantis. Logo depois, filiou-se ao MDB, partido que reunia os opositores da ditadura militar. Com o fim do regime, a sigla acrescentou a letra P ao nome.
Feldens mora em Porto Alegre faz quatro anos, para onde transferiu o título eleitoral. Apesar de morar em outra cidade, ainda era um dos membros do diretório. O ex-prefeito diz não querer liderar um movimento de saída coletiva do partido.
Segundo ele, a decisão de deixar a legenda foi pessoal, e não deve virar um movimento interno do PMDB. Garante ainda que seguirá atuando na política, mas sem vinculação partidária no primeiro momento.
Saída não oficializada
Embora a carta tenha sido escrita no dia 28 de fevereiro, ainda não chegou aos dirigentes do partido. Perguntado sobre a saída de Feldens, o presidente municipal do PMDB, Celso Cervi, disse não saber da notícia. “Não sabia da saída, sou um grande amigo dele, que foi o meu primeiro chefe.”
Cervi lamentou o afastamento de Feldens e destacou a importância do político na história do partido. Mesmo assim, concorda com as justificativas do colega de partido. “É uma surpresa grande que ele tenha saído. Ninguém está contente com o partido em âmbito nacional.”
O presidente disse que entrará em contato com Feldens, e ainda espera que ele mude a posição.
“Eu não vou pertencer a um partido corrupto.”
A Hora – Não há possibilidade de o senhor mudar de posição?
Leopoldo Feldens – De jeito nenhum, porque é uma questão ideológica. O PMDB em nível nacional é hoje um balcão de negócios, não tem ideologia. Eu sempre fiz política com ideologia, não admito um partido que não tenha as suas certeza ideológicas porque esse é o objetivo de um partido político. E o PMDB nacional perdeu completamente o sentido ideológico, participa de uma corrupção nunca vista no país. Ele foi protagonista de uma corrupção enorme, e eu não vou pertencer a um partido corrupto.
Denúncias de corrupção envolvendo integrante do partido não são novidade. Por que sair agora e não antes?
Feldens – Eu fiquei escondido na trincheira alguns meses, com uma minoria que ainda tinha os princípios ideológicos que ainda tinham os ideias de Ulysses Guimarães. A maioria do comando atual do PMDB são pessoas comprometidas com corrupção, e esse não era o objetivo quando criamos a legenda. Era um partido limpo, que buscava ideias, que lutou pela Constituinte, Pelas Diretas Já, com um objetivo ideológico claro. O comando nacional do PMDB hoje podre, corrupto.
O senhor permanece na política ou o afastamento será total?
Feldens – Por enquanto não tenho ideia de participar de nenhum partido político. Vou continuar na política porque esse é um dever de todo brasileiro, ser responsável politicamente pelo país. Sou um cidadão brasileiro, e tem vergonha do que está acontecendo nesse país hoje.
Como o senhor pretende manter a atuação política?
Feldens – Participando de todos os movimentos que vêm do povo, no sentido de busca e de correção, apoiando os raros políticos decentes, independente de partido. Eu quero o bem desse país independente de partido, eu só sei que o meu se corrompeu e não fico mais nele. Eu com 14 anos já participava da política no Grêmio Estudantil no meu colégio. Participei de política minha vida inteira, e sigo até hoje. Como cidadão brasileiro não podemos abrir mão, de jeito nenhum, da política. Eu vou seguir dessa maneira, se entender que um movimento é a favor do meu país e da decência eu vou participar sem dúvida.
Como fica a relação com a política de Lajeado?
Feldens – Meu título não está mais em Lajeado, mas a minha ligação com o PMDB da cidade é histórica. Hoje, Lajeado é um passado do qual guardo boas lembranças. O PMDB de Lajeado eu jamais chamaria de corrupto, porque ele não é. Mas ele está ligado com o brasileiro, pois não é um partido só da cidade.