União das mulheres fortalece  busca por direitos e igualdade

Vale do Taquari

União das mulheres fortalece busca por direitos e igualdade

Dia relembra os avanços e as dificuldades para romper o preconceito

União das mulheres fortalece  busca por direitos e igualdade
Vale do Taquari

Ao alto dos seus 77 anos, Iolanda Menta Giasson rememora o peso e a alegria de ser mulher. Na poltrona da sala, lembra-se de quando quase morreu no parto, e da felicidade ao ter o filho nos braços.

Recorda-se dos momentos em que precisou gritar e de quando não queria escutar, mas foi obrigada a ouvir relatos sobre a violência doméstica e o machismo.

Também pensa na repressão sofrida na sala de aula durante a ditadura. Professora municipal, foi substituída pelo prefeito, teve provas barradas e passou a ser filmada depois de falar sobre organização política e social.

Lembra ainda do trabalho, realizado desde a década de 1980, junto às Mulheres em Movimento, que até hoje é a sua maior prova de que a união feminina pode garantir direitos, espaço e valorização às mulheres.

Professora aposentada, Iolanda Menta Giasson participa de grupos de defesa dos direitos das mulheres faz mais de 30 anos

Professora aposentada, Iolanda Menta Giasson participa de grupos de defesa dos direitos das mulheres faz mais de 30 anos

Ativismo

“Fui criada sabendo que todos têm direitos iguais e essa foi a forma que encontrei para ajudar as mulheres, e a todos. Não podia deixar isso passar despercebido.” Além de trabalhar com as mulheres urbanas, Iolanda passou a ajudar as moradoras do campo.

Percebeu que no interior o problema era maior. Ela conta que na época, apesar de trabalharem tanto quanto os homens, as mulheres do campo não conseguiam comprovar a atuação como agricultoras. O Ministério do Trabalho não as reconhecia.

Não podiam, nem mesmo, associar-se aos sindicatos rurais. Eram consideradas donas de casa, que auxiliavam os maridos. “Havia uma discriminação forte. Precisávamos mudar toda uma cultura. Elas mesmas tinham que valorizar o próprio trabalho.”

Em Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul, Iolanda ajudou a organizar as primeiras reuniões das mulheres no Vale. Depois de debates, o movimento foi sendo reforçado. Porém, era malvisto por diversos segmentos da sociedade.

“Tínhamos que convencê-los que só queríamos nossos direitos, que iríamos manter a família em pé.”

No primeiro encontro estadual, o grupo reuniu 12 mil mulheres no Gigantinho, em Porto Alegre, para lutar pelo direitos trabalhistas. “Aproveitamos para levá-las a conhecer a cidade. A autonomia garante a cidadania das mulheres.”

Depois da capital gaúcha, foram a Brasília enfrentar senadores e deputados. “No Congresso, não nos deixavam abrir os cartazes, queriam nos calar. Mas não desistimos.” Conseguiram uma reunião com o ministro do Trabalho e após 12 anos de luta conquistaram o direito merecido.

Uma agricultora de Arroio do Meio foi a primeira a receber a aposentadoria. “Foi muito difícil mostrar a uma sociedade machista, patriarcal, a necessidade disso. Mas conseguimos. Muitas mulheres disseram que o grupo foi a universidade delas.”

Hoje, o passado lhe dá orgulho, e o futuro, força. Para ela, a batalha por direitos e igualdade de gênero ainda não acabou.

Durante intervenção em Teutônia, mãe levou a filha para acompanhar o ato

Durante intervenção em Teutônia, mãe levou a filha para acompanhar o ato

A luta continua

Recém-formado, um grupo de mulheres de Teutônia realizou intervenções urbanas usando mordaças com panos pretos. Empunhando cartazes com frases que questionavam atitudes machistas, receberam apoio de um grande número de mulheres e de alguns homens. Por outro lado, foram criticadas por alguns homens, que se sentiram ofendidos de alguma forma. “A máquina de lavar roupas já fez mais pelas mulheres do que o feminismo”, disse um deles.

A comerciante Letícia Abreu Gomes participou das intervenções. Para ela, a violência de gênero e doméstica, estupro e todas as mazelas que atingem as mulheres em uma relação com homens devem ser combatidas. “Frases machistas, de senso comum, reforçam isso. Mas acho que, diante da positiva repercussão e sensibilização de novas parceiras, isso foi insignificante.”

Até agora, o grupo organizou três intervenções na cidade. Segundo Letícia, as integrantes foram procuradas por algumas vítimas de violência psicológica e física..

Debates em rede

A repercussão nas redes sociais foi maior do que o grupo poderia esperar. A partir do momento em que as primeiras fotografias passaram a ser publicadas, mais mulheres começaram a escrever depoimentos e a apoiar a causa.

Para a atriz e estudante de Pedagogia, Rosemary Schweig, é preciso mudar. Afirma que o grupo denunciou a violência, principalmente a romantização dela, para assuntos encarados por parte da população como tabu. “É sobre combater o patriarcado que nos condicionou. Precisamos desconstruir essa ideia de que as mulheres são submissas.”

A fotógrafa Nany Mayer mora em Teutônia faz 16 anos. Ela acompanhou as intervenções. Em uma das fotos, de uma criança em meio ao movimento, fez uma breve reflexão. “Ela ainda não sabe, mas hoje lutamos por ela. Pelo direito de ir e vir sem ser incomodada, vestir a roupa que desejar, ter a profissão que sonhar, amar o próprio corpo sem precisar seguir padrões e amar quem seu coração mandar. Pelo direito de ser e de viver.”

As ações do grupo fazem parte da 1ª Semana da Mulher Teutoniense, que iniciou no sábado e se estende até o dia 12, domingo.

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