Levantamento divulgado ontem pela Emater durante a Expodireto-Cotrijal, em Não-Me-Toque, projeta a colheita recorde de 30,86 milhões de toneladas de grãos. Um aumento de 2,7% em relação ao ciclo passado. Se considerar a safra 2016/17 – culturas de inverno como o trigo – a produção alcançará 33 milhões de toneladas.
Conforme o presidente da Emater, Clair Kuhn, o volume injetará R$ 29 bilhões na economia gaúcha. O montante se refere ao valor da produção, sem calcular os reflexos indiretos na área de serviços, indústria e comércio. Destaca que as próximas semanas serão determinantes para confirmar as expectativas. “Torcemos para não termos qualquer intempérie de agora até o fim da colheita.”
O resultado é atribuído às boas condições meteorológicas, com volumes de chuva dentro da média. As inovações tecnológicas e a profissionalização também colaboraram para alcançar a maior safra da história no RS, destaca Lino Moura, diretor técnico da Emater. Nos últimos dez anos, a produção de grãos cresceu dez milhões de toneladas.
A soja será de novo a principal cultura. Estima-se um aumento de 3,43% na produção em relação ao ciclo anterior. O volume deve chegar a 16,8 milhões e registrar um valor bruto de produção de 18,1 bilhões.
Segundo Moura, a área de cultivo cresceu em 2016/17. Alcançou 5,499 milhões de hectares – 0,64% acima da área de 2015/16.
O arroz será a segunda cultura com maior rendimento – 8,5 milhões de toneladas (estimativa de gerar R$ 8,1 bilhões). Em seguida, vem o milho – 5,5 milhões de toneladas e valor de R$ 2,5 bilhões.
A primeira e segunda safra de feijão somam uma área de 60,5 mil hectares, com rendimento de 98,4 mil toneladas. O milho destinado para silagem ocupa 272,5 mil hectares e estima uma produção total de 13,7 milhões de toneladas.
O secretário estadual de Desenvolvimento, Pesca e Cooperativismo, Tarcísio Minetto, classificou os números como fascinantes, refletindo de forma positiva em toda cadeia produtiva (armazenagem, transporte, comércio, indústria, entre outros setores). “Tendo por base a população total do RS, seriam três toneladas por habitante. Evidencia a capacidade e o profissionalismo do produtor”, destaca.
Prejuízo no trigo e milho
A boa produtividade por hectare nas culturas de milho e trigo não é sinal de lucratividade. No caso do trigo, o excesso de oferta fez o preço despencar. A saca de 60 quilos é negociada a R$ 28. Já o preço mínimo estipulado pelo governo é de R$ 38,65. Há 50 dias a comercialização está estagnada. “Tivemos boa produtividade e qualidade, mas falta lucratividade. O produtor está desanimado e desde 2014 reduziu a área em 400 mil no estado”, calcula o engenheiro agrônomo da Emater de Passo Fundo, Claudio Dóro.
O agricultor Martin Beuren, de Santa Clara do Sul, acumula prejuízos no cultivo. Nesse ciclo, o cereal ocupou 200 hectares e a média colhida chegou a 40 sacas. “Vendemos tudo por R$ 28,50, quando o ideal seria, no mínimo, R$ 38. Vamos reduzir a área em 30%”, adianta.
Caso semelhante enfrenta a família Jung. Depois da saca de milho atingir R$ 56 em junho de 2016 em Passo Fundo, o cenário atual é desanimador – o cereal está cotado a R$ 25,85, quando o ideal seria R$ 35. Foram cultivados 80 hectares, cuja produtividade varia entre 160 e 190 sacas por hectare. O custo por hectare chega a R$ 2,750 mil.
Segundo Jung, existe pouco mercado consumidor no Vale. “Se tivéssemos maior procura, concorrência, o preço com certeza seria melhor. Estamos nas mãos de duas ou três indústrias e essas ainda importam o cereal de outros estados ou países”, lamenta.
Preço ainda animará
Empolgado com as condições de lavoura para a safra gaúcha, o consultor de mercado, Carlos Cogo, recorda o bom momento vivido pelos preços do cereal em 2016 e alerta que a queda atual está com os dias contatos. “Já vivemos um novo momento, uma transição impulsionada pela notícia da diminuição da área plantada de milho nos EUA. A Bolsa de Chicago já apresenta sinais dessa nova onda para o milho, que deverá retomar seus bons momentos”, destaca.
Ele afirma que o valor do milho está dentro da média histórica e bastante remunerador se analisada a produtividade obtida. “Colhendo entre 180 e 200 sacas por hectare, com preço médio de R$ 30, temos quase a mesma remuneração da soja”, compara.