A população do país empobreceu 9,1% no ano passado. Dados apresentados ontem pelo IBGE apontaram queda de 3,6% no PIB em 2016 e mostraram que as consequências da crise foram piores para renda das famílias do que à economia como um todo.
Somada com a queda de 3,8% em 2015, a recessão é a pior desde o início do levantamento, em 1948. Para a economista e professora da Univates, Fernanda Sindelar, os resultados são decorrentes do cenário adverso que começou a se desenhar em 2014 e acabou agravado nos últimos dois anos.
“A economia já vinha encolhendo, principalmente no setor de serviços”, aponta. Conforme Fernanda, o Vale do Taquari sofre menos os efeitos da crise na comparação com regiões como a Metropolitana e Serra Gaúcha, onde indústrias metalúrgicas e automobilísticas tiveram grandes perdas. “Grande parte dos municípios da região tem como matriz principal a atividade agrícola, que abastece as indústrias do setor de alimentação”, ressalta.
Presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Estrela (Cacis), Pedro Barth acredita que a vantagem da região no enfrentamento da crise se deve também à grande diversificação das indústrias, à força do comércio e, principalmente, às características da população.
Segundo ele, tanto a produtividade quanto a arrecadação de impostos nos municípios do Vale se devem à cultura de valorização e dedicação ao trabalho. Para Barth, apesar do desempenho positivo, a região não recebe a atenção devida do Estado e da União devido à ausência de representantes no primeiro e segundo escalões dos governos.
“Não temos ninguém que nos defenda”, resume. Conforme o presidente da Cacis, a produtividade da agricultura aliada ao favorecimento das exportações devido à alta do dólar ajudou a minimizar os efeitos da recessão na região.
Mesmo assim, ressalta o decréscimo no faturamento do comércio. Para Barth, a queda nas vendas se deu mais em decorrência da insegurança do consumidor do que pela redução na renda das famílias. “As notícias da crise correram muito rápido e com isso as pessoas pararam de gastar”, lembra. Apesar da leve queda no consumo, ressalta que o Vale continuou gerando emprego e renda em condições mais favoráveis se comparadas com outras regiões do estado e país.
Serviços em queda
De acordo com a economista Fernanda, a redução no desempenho do setor de serviços é natural diante da queda na economia. Segundo ela, com a crise, as famílias optam por gastar seus recursos somente com coisas essenciais para a sobrevivência.
“As pessoas não podem parar de se alimentar, por exemplo, mas abrem mão de TV a cabo, internet, serviços de estética, entre outros”, relata. Situação semelhante, alega, ocorre nas empresas, que abrem mão da contratação de assessorias e outros serviços para focar somente nas atividades indispensáveis.
Fernanda destaca ainda o papel dos gastos públicos no cenário de crise. Segundo ela, se em anos anteriores, o Estado era um dos grandes responsáveis por injetar recursos na economia, a redução do investimento devido à crise fiscal gera um efeito cascata.
Cita como exemplo o caso do Fies, cuja diminuição no número de bolsas resultou em menos alunos nas universidades. “Até 2013 e 2014, a economia estava movimentada com obras para a Copa e Olimpíadas, financiadas pelo governo federal.”
Desigualdade avança
Para a professora da Univates, o aumento da pobreza em patamares acima dos índices do PIB representa a desigualdade na distribuição de renda no país. Segundo ela, em momentos de crise, a população de baixa renda sofre mais com as consequências da recessão.
“Uma das consequências é que mais gente volta a buscar subvenções como a Bolsa-Família”, alega. Conforme Fernanda, a necessidade da população em buscar auxílio público pressiona ainda mais o desempenho fiscal do Estado e da União.