Pensar no varejo como um espaço físico, exclusivo para compra e venda, é algo inaceitável em 2017. A constatação é de profissionais do comércio que participaram da NRF Big Retail’s Show, realizada em janeiro, em Nova York.
Quatro deles palestraram ontem para cerca de 70 empresários e comerciantes da região, no evento Pós NRF – O novo varejo, promovido pela CDL Lajeado e a Top Travelling, no cinema do Shopping Lajeado.
Eles apontam que as novas gerações buscam algo além do consumo nas lojas. Querem experiências agradáveis, que lhes deem prazer, além de facilidades que permitam comprar não somente no espaço físico da loja.
Para o diretor de expansão das Lojas Trópico, Gustavo Schifino, o momento é de transição, e os varejistas ainda estão com dificuldades de enxergar essa necessidade de mudança.
Ele considera que ainda é preciso desmistificar a introdução de novas tecnologias e experiências no varejo. Alguns acreditam que somente os jovens estão abertos ao digital.
Projeta-se que, em cinco anos, 95% da população mundial terá um smartphone. “Hoje, a maioria das pessoas não quer mais desgrudar da internet. Precisamos pensar sobre isso.”
O diretor da agência Escala, de Porto Alegre, João Mirage, alertou que a atualização dos varejistas é urgente. Há necessidade imediata de personalizar as formas de comunicação com esses novos públicos.
“Essas coisas vão chegar em nós de forma muito rápida. Tem gente que não acredita. Mas é preciso proporcionar, agora, experiências que façam sentido para eles.”
Além dos clientes, é necessário focar nos colaboradores. Trabalhar de forma conjunta, para que todos sintam-se importantes no processo.
O diretor da Kreativ, Elifas de Vargas, e o diretor de produto das Lojas Dullius, Daniel Dullius, também estiveram na NRF e compartilharam o aprendizado com os colegas da região.
“O que vai acabar é quem tem o espaço físico e não está preocupado com a experiência do consumidor.”
“A venda hoje precisa ser uma consequência e não a atividade única”
As experiências proporcionadas pela loja são um dos passos mais relevantes para a aquisição dos produtos pelos jovens, aponta Gustavo Schifino. Ele foi um dos palestrantes do Pós NRF, e falou ao Hora sobre as formas para atender bem esses novos consumidores.
A Hora – O varejo em espaço físico está com os dias contados?
Gustavo Schifino – O espaço físico é relevante, importante, não vai acabar. O que vai acabar é quem tem o espaço físico e não está preocupado com a experiência do consumidor, e só possui aquele local para entregar o produto. Esse provavelmente será substituído por uma compra on-line. Aquelas organizações que estiverem entregando uma boa experiência vão ficar, e vão crescer.
O que as novas gerações valorizam na hora do consumo?
Schifino – Elas não estão a fim de passar trabalho. As outras gerações concordavam em ter algum sofrimento para atingir o que queriam. Elas não. O prazer precisa ser agora, imediato. Então uma experiência de varejo que não seja boa para elas é fatal. Esses caras vão representar, em menos de quatro anos, 75% do consumo. Então é hora de a gente olhar para o nosso produto final e avaliar se realmente estamos entregando uma experiência boa, que se volte ao prazer desse jovem.
Quais são os pontos essenciais para entregar uma boa experiência aos clientes?
Schifino – Hoje, muitas vezes, o consumidor é atendido por alguém que não conhece aquele produto. Vai até a loja e não tem internet, não tem um lugar para sentar, uma mobilidade de pagamento. Essas coisas fazem falta para esse público. Quem não conseguiu se atualizar pelo menos para isso já está muito atrasado. No momento, o interessante é permitir que o cliente comprasse de onde quisesse, da forma que desejasse, e recebesse no lugar que escolher. Além disso, propiciar que na sua loja ele tenha um espaço para tomar um café, uma cerveja, que seja um lugar de encontro com os amigos. A venda hoje precisa ser uma consequência e não a atividade única da loja.
Além de atender as novas gerações, os comerciantes precisarão trabalhar com elas. Quais as formas para o empresário de hoje se adequar a isso?
Schifino – Essa moçada não quer trabalhar para você, quer trabalhar com você. Se você contratar alguém para mandar, provavelmente ele ficará frustrado e não entregará o melhor trabalho, e deixará o emprego logo. Tem que ser bom para aquele que está com você, não só na remuneração, mas no ambiente. As pessoas são o mais importante de toda a organização.
