Uma das principais fontes de emprego da região, a indústria de confecções foi objeto de estudo desenvolvido pelo consultor de empresas Alexandre Comel. O levantamento apontou as dificuldade enfrentadas pelo setor e serve de base para projeto da associação de empresários do Vale do Taquari (Aeicovat).
De acordo com Comel, a região tem mais de 130 fabricantes de vestuário com registro ativo mas o número deve ser maior devido ao trabalho informal. A pesquisa ouviu 27 empresas de Santa Clara do Sul, Lajeado, Estrela e Arroio do Meio.
A maioria das companhias do se caracterizam por serem negócios familiares de pequeno e médio porte, com média de seis funcionários nas produções. É o caso da marca Zoah, criada em 1991 na garagem da casa de Ildete Rahmeier, em Lajeado.
Hoje, a empresa é administrada pela filha de Ildete, Daniela Dickel. Com a ajuda da mãe, responsável pelo setor de cortes, e a irmã Renata Marchetto, que cuida da criação, fabricam malhas e roupas voltadas para o público feminino.
Conforme Daniela, a empresa nasceu devido a demanda regional por roupas de inverno. Lembra que na época não havia a Rota do Sol, e a maior distância para a Serra dificulta a oferta de blusões, casacos e coletes de lã.
Com a abertura da estrada, os lojistas da região passaram a receber produtos das malharias da Serra gaúcha, obrigando a empresa a mudar a linha de produtos oferecidos. “Hoje, toda a nossa produção é destinada a uma única loja.”
Para Daniela, uma das principais dificuldades enfrentadas pelo setor é a resistência dos varejistas do Vale às confecções fabricadas na região. “Temos mais de 130 empresas, mas muitos preferem ir para Santa Catarina fazer as compras e dizer que o produto é de fora.”
Segundo ela, a falta de mão de obra qualificada também traz desvantagens competitivas para o Vale, além da falta de união do setor. Cita como exemplo a cadeia produtiva catarinense, cuja organização permitiu a formação de trabalhadores especializados. “Eles também tem fábricas de tecido onde podemos escolher um fio bruto para fazer as peças ou mesmo as estampas.”
Daniela é uma das entusiastas da proposta da Aeicovat. Para ela, a união entre os fabricantes pode trazer vantagens nas negociações com fornecedores e compradores.

Uma das maiores indústrias do ramo, a Mepase superou dificuldades nos cinco primeiros anos e prosperou. Hoje emprega 130 funcionários. Ao todo, 30 mil peças são produzidas por mês
Concorrência mobilizada
Proprietário da marca Efeito Positivo, criada em 1990, Augusto Kreutz também é presidente da Aeicovat. Segundo ele, a intenção da associação é seguir fórmulas aplicadas com sucesso nos polos de produção e venda de roupas.
“Hoje, uma minoria troca informações e se ajuda, pois as pessoas tem medo de terem seus modelos copiados”, ressalta. De acordo com Kreutz, em Santa Catarina as empresas se unem para formar polos de venda de produtos e assim atrair lojistas de todo o país.
“Cada um tem a sua produção, mas se mobilizam para fechar bons negócios em conjunto, assim como ocorre na região de Caxias ou Farroupilha”, alega. Uma das ideias é criar um endereço concentrado, com grande volume de roupas e marcas variadas para atrair excursões de lojistas de outras regiões.
Kreutz conheceu de perto a cadeia catarinense quando teve uma loja em Araranguá. O empreendimento foi desativado fazem quatro anos, devido ao custo logístico das operações. Mesmo assim, serviu para entender os motivos do sucesso daquela região.
Para ele, a concorrência das regiões organizadas é mais preocupante do que a das feiras com confecções produzidas em São Paulo. “As feiras oferecem produtos com qualidade inferior, enquanto os da Serra e de Santa Catarina tem melhor acabamento.”
Marca nacional
Sediada em Forquetinha, a Mepase é uma das maiores empresas de confecções na região. Fundada em 1986 por um grupo de amigos, a firma se tornou familiar graças a atuação do empresário Roni Allgayer e da mulher, Carmen.
A filha do casal, Patricia Allgayer da Silva, responde pela direção administrativa da indústria. Segundo ela, o empreendimento foi fundado devido a inexistência de indústrias na cidade. Nos primeiros cinco anos, a empresa amargou prejuízos, fazendo com que os demais sócios saíssem do negócio.
“A família se manteve porque tinha renda suficiente para não depender da fábrica”, alega. Ao longo dos anos a Mepase passou por altos e baixos conforme as variações da economia. Hoje, a empresa emprega 130 funcionários e fabrica 30 mil peças por mês, com vendas no Estado, em Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
“O passado foi muito difícil à indústria, mas nós conseguimos aumentar as nossas vendas”, afirma. Entre as medidas para enfrentar a crise está a criação de estratégias alternativas, seja na linha de camisas ou na de uniformes, ressalta.
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Qualificação e inovação
Patrícia também aponta a escassez de mão de obra como o principal gargalo do segmento. Segundo ela, existe uma grande procura por vagas de emprego, mas poucas pessoas especializadas para a indústria.
“A maioria das pessoas chega sem experiência e nós oferecemos cursos para os trabalhadores mais dedicados”, relata. De acordo com Augusto Kreutz, a Aeicovat já promoveu alguns cursos para o setor e pretende continuar com os trabalhos de formação.
Segundo ele, a empresa da qual é proprietário não enfrenta este problema. “Temos uma equipe pequena, com seis funcionárias, mas todas muito boas no que fazem”, assegura. Uma delas é a costureira Marilene Schaeffer, que trabalha fazem 17 anos para a Efeito Positivo.
Segundo Marilene, o segredo para manter a qualidade do serviço são os treinamentos e as inovações propostas para a equipe. “Eu considero um prazer trabalhar no ramo da moda e saber que as coisas que produzo estão vestindo milhares de pessoas.”