Região tem mais de 130 empresas de confecções

Vale do Taquari

Região tem mais de 130 empresas de confecções

Estudo aponta características e identifica carências da indústria de vestuário no Vale do Taquari. Ausência de mão de obra qualificada e concorrência da Serra e de Santa Catarina estão entre as principais dificuldades para o desenvolvimento do setor

Região tem mais de 130 empresas de confecções
Vale do Taquari
oktober-2024

Uma das principais fontes de emprego da região, a indústria de confecções foi objeto de estudo desenvolvido pelo consultor de empresas Alexandre Comel. O levantamento apontou as dificuldade enfrentadas pelo setor e serve de base para projeto da associação de empresários do Vale do Taquari (Aeicovat).

De acordo com Comel, a região tem mais de 130 fabricantes de vestuário com registro ativo mas o número deve ser maior devido ao trabalho informal. A pesquisa ouviu 27 empresas de Santa Clara do Sul, Lajeado, Estrela e Arroio do Meio.

A maioria das companhias do se caracterizam por serem negócios familiares de pequeno e médio porte, com média de seis funcionários nas produções. É o caso da marca Zoah, criada em 1991 na garagem da casa de Ildete Rahmeier, em Lajeado.

Hoje, a empresa é administrada pela filha de Ildete, Daniela Dickel. Com a ajuda da mãe, responsável pelo setor de cortes, e a irmã Renata Marchetto, que cuida da criação, fabricam malhas e roupas voltadas para o público feminino.

Conforme Daniela, a empresa nasceu devido a demanda regional por roupas de inverno. Lembra que na época não havia a Rota do Sol, e a maior distância para a Serra dificulta a oferta de blusões, casacos e coletes de lã.

Com a abertura da estrada, os lojistas da região passaram a receber produtos das malharias da Serra gaúcha, obrigando a empresa a mudar a linha de produtos oferecidos. “Hoje, toda a nossa produção é destinada a uma única loja.”

Para Daniela, uma das principais dificuldades enfrentadas pelo setor é a resistência dos varejistas do Vale às confecções fabricadas na região. “Temos mais de 130 empresas, mas muitos preferem ir para Santa Catarina fazer as compras e dizer que o produto é de fora.”

Segundo ela, a falta de mão de obra qualificada também traz desvantagens competitivas para o Vale, além da falta de união do setor. Cita como exemplo a cadeia produtiva catarinense, cuja organização permitiu a formação de trabalhadores especializados. “Eles também tem fábricas de tecido onde podemos escolher um fio bruto para fazer as peças ou mesmo as estampas.”

Daniela é uma das entusiastas da proposta da Aeicovat. Para ela, a união entre os fabricantes pode trazer vantagens nas negociações com fornecedores e compradores.

Uma das maiores indústrias do ramo, a Mepase superou dificuldades nos cinco primeiros anos e prosperou. Hoje emprega 130 funcionários. Ao todo, 30 mil peças são produzidas por mês

Uma das maiores indústrias do ramo, a Mepase superou dificuldades nos cinco primeiros anos e prosperou. Hoje emprega 130 funcionários. Ao todo, 30 mil peças são produzidas por mês

Concorrência mobilizada

Proprietário da marca Efeito Positivo, criada em 1990, Augusto Kreutz também é presidente da Aeicovat. Segundo ele, a intenção da associação é seguir fórmulas aplicadas com sucesso nos polos de produção e venda de roupas.

“Hoje, uma minoria troca informações e se ajuda, pois as pessoas tem medo de terem seus modelos copiados”, ressalta. De acordo com Kreutz, em Santa Catarina as empresas se unem para formar polos de venda de produtos e assim atrair lojistas de todo o país.

“Cada um tem a sua produção, mas se mobilizam para fechar bons negócios em conjunto, assim como ocorre na região de Caxias ou Farroupilha”, alega. Uma das ideias é criar um endereço concentrado, com grande volume de roupas e marcas variadas para atrair excursões de lojistas de outras regiões.

Kreutz conheceu de perto a cadeia catarinense quando teve uma loja em Araranguá. O empreendimento foi desativado fazem quatro anos, devido ao custo logístico das operações. Mesmo assim, serviu para entender os motivos do sucesso daquela região.

Para ele, a concorrência das regiões organizadas é mais preocupante do que a das feiras com confecções produzidas em São Paulo. “As feiras oferecem produtos com qualidade inferior, enquanto os da Serra e de Santa Catarina tem melhor acabamento.”

Marilene Schaeffer trabalha faz 17 anos como costureira na Efeito Positivo

Marilene Schaeffer trabalha faz 17 anos como costureira na Efeito Positivo

Marca nacional

Sediada em Forquetinha, a Mepase é uma das maiores empresas de confecções na região. Fundada em 1986 por um grupo de amigos, a firma se tornou familiar graças a atuação do empresário Roni Allgayer e da mulher, Carmen.

A filha do casal, Patricia Allgayer da Silva, responde pela direção administrativa da indústria. Segundo ela, o empreendimento foi fundado devido a inexistência de indústrias na cidade. Nos primeiros cinco anos, a empresa amargou prejuízos, fazendo com que os demais sócios saíssem do negócio.

“A família se manteve porque tinha renda suficiente para não depender da fábrica”, alega. Ao longo dos anos a Mepase passou por altos e baixos conforme as variações da economia. Hoje, a empresa emprega 130 funcionários e fabrica 30 mil peças por mês, com vendas no Estado, em Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

“O passado foi muito difícil à indústria, mas nós conseguimos aumentar as nossas vendas”, afirma. Entre as medidas para enfrentar a crise está a criação de estratégias alternativas, seja na linha de camisas ou na de uniformes, ressalta.

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Qualificação e inovação

Patrícia também aponta a escassez de mão de obra como o principal gargalo do segmento. Segundo ela, existe uma grande procura por vagas de emprego, mas poucas pessoas especializadas para a indústria.

“A maioria das pessoas chega sem experiência e nós oferecemos cursos para os trabalhadores mais dedicados”, relata. De acordo com Augusto Kreutz, a Aeicovat já promoveu alguns cursos para o setor e pretende continuar com os trabalhos de formação.

Segundo ele, a empresa da qual é proprietário não enfrenta este problema. “Temos uma equipe pequena, com seis funcionárias, mas todas muito boas no que fazem”, assegura. Uma delas é a costureira Marilene Schaeffer, que trabalha fazem 17 anos para a Efeito Positivo.

Segundo Marilene, o segredo para manter a qualidade do serviço são os treinamentos e as inovações propostas para a equipe. “Eu considero um prazer trabalhar no ramo da moda e saber que as coisas que produzo estão vestindo milhares de pessoas.”

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