“Livro salva”, esta é a filosofia de vida de Zulma Dagmar Kraemer. E por acreditar nesta premissa, ela decidiu doar parte do acervo pessoal, colecionado ao longo de 45 anos, para presídios do estado. Entre as instituições contempladas, a que deve receber o maior número de volumes é o presídio feminino de Lajeado.
Por acreditar no poder transformador da leitura, Dagmar, ou Dague como prefere ser chamada, conservou junto ao marido Raul, o hábito de comprar livros. Durante os 45 anos de casados, a biblioteca cresceu. A tradição familiar só teve fim devido a morte de Raul, em janeiro de 2015.
Depois disso, Dague decidiu se desfazer do sítio em Viamão, onde ficava a biblioteca. Então, decidiu doar os títulos para presídios. A filha, jornalista e professora universitária, Luciana, postou nas redes sociais: “Minha mãe gostaria de encaminhar para presídios, femininos e masculinos. Alguém sabe se isto é possível, é viável? Ou, ainda outra organização coletiva?”
Não demorou para que ela recebesse indicações, entre elas o presídio feminino de Lajeado. Quem intermediou a conversa entre Luciana e o juiz Luiz Antonio de Abreu Johnson foi a colunista da Zero Hora, Rosane de Oliveira.
De acordo com Luciana, a prontidão dos lajeadenses foi determinante para que a cidade fosse contemplada. “O primeiro a me responder foi o juiz Johnson, mostrando uma motivação muito grande. Isso, e o fato de ser um local distante da capital, fez com que decidíssemos doar a maior parte para o presídio.”
União familiar
A leitura também foi um importante elo de ligação da família Kraemer. “Fizemos coleções pensando nas crianças. Nossa vida sempre foi em função de livros”, relata Dague. A paixão foi passada para os filhos e agora para os netos. “A literatura sempre foi como um centro de união da família.”
Nos livros, que devem chegar a Lajeado nos próximos dias, está a marca da cumplicidade do casal. Muitos deles trazem uma dedicatória, ambos tinham por hábito se presentear com diferentes títulos.
“Pessoas que enxergam além do umbigo”
Voluntário que projetou o presídio, o engenheiro Léo Katz é um dos maiores entusiastas da criação de uma biblioteca no presídio. Ele mesmo já doou alguns exemplares e recebeu cerca de 50 volumes de uma empresa de Porto Alegre. O engenheiro agradece o interesse da família Kraemer em doar parte do acervo. “É encantador, doar livros é parecido com doar conhecimento.”
Katz classifica o ato de olhar para população carcerária como uma prova de altruísmo. “São pessoas que enxergam além do próprio umbigo.” O espaço para receber os títulos está sendo preparado e deve ficar pronto dentro de poucas semanas.