Facção demarca  territórios em bairros de Lajeado

Lajeado

Facção demarca territórios em bairros de Lajeado

Pichações foram feitas em locais próximos a “bocas”

Facção demarca  territórios em bairros de Lajeado
Lajeado

A semana continua tensa em pelo menos três bairros utilizados por traficantes de drogas. Em diversos pontos do Centro, na região conhecida por “Cantão do Sapo”, muros e fachadas foram pichadas por supostos integrantes da facção criminosa “Os Manos”. Junto ao nome do grupo, constam frases como “Paz na Quebrada” e “Humildade, Respeito e União”.

Um dos grafites com o nome da facção foi pichado durante a madrugada de domingo, na rua São Sebastião, no trecho entre a Marechal Deodoro e Borges de Medeiros. O ponto fica na mesma quadra onde ocorreram dois duplos homicídios.

Morador da área, um aposentado de 58 anos lamenta o que ele acredita se tratar de um “avanço das facções contra os moradores de bem”. A casa dele fica próxima ao ponto escolhido para uma das pichações. Ele confirma que o vandalismo ocorreu durante a madrugada.

“Ficaram bastante tempo fazendo este desenho aí. A gente fica meio sem ter o que fazer, com medo. Afirma que é comum verificar carros estranhos e com placas de cidades da região Metropolitana circulando durante a noite.

No mesmo bairro, há pelo menos outras três pichações da facção “Os Manos”. Uma delas – que também chama a atenção pelo capricho dos detalhes no grafite – está no muro de uma fábrica instalada na esquina da rua Dr. Parobé com a rua General Osório, quase na divisa com o bairro Conservas.

Em outro ponto do “Cantão do Sapo”, quase no bairro Moinhos, no entroncamento entre as vias Carlos Spohr Filho e Maria Tereza Kolling, uma outra pichação. Naquele local, os pichadores escreveram os números 14, 18 e 12.

Demarcação de territórios

Uma investigação do Ministério Público do Estado (MPE), desencadeada em 2015 e denominada “Operação Kommunikation”, localizou um estatuto da facção “Os Manos”. O material foi encontrado quando foram analisadas as trocas de mensagens entre detentos da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e de outros presídios, por meio de aplicativos de smartphones.

Segundo o MP, a “Constituição dos Manos” prevê R$ 200 como contribuição mensal de cada membro para a criação do fundo destinado à contratação de advogados, aquisição de armamentos e auxílio a familiares de presos. Também constam no documento normas sobre demarcação de territórios, como a utilização da sequência numérica 14-18-12 para identificar a facção.

No Conservas, na Av. Beira Rio, pichação com características de demarcação de território chama a atenção de moradores

No Conservas, na Av. Beira Rio, pichação com características de demarcação de território chama a atenção de moradores

“Investigamos a possível ligação”

De acordo com o delegado de Lajeado, Juliano Stobbe, a PC local apura as pichações faz alguns dias. “Alguns grafites apareceram na semana, como na Av. Beira Rio, no Conservas. Investigamos a possível ligação. Pois isso pode ser obra de algum admirador, só por achar bonito, mas sem qualquer ligação com o grupo criminoso.”

Segundo Stobbe, o ponto escolhido para a pichação no bairro Conservas está em uma área de intenso tráfico de drogas e onde ocorreram prisões relacionadas ao mesmo crime. Conforme o delegado, a PC segue investigando a série de homicídios ocorrida em Lajeado, mas a principal dificuldade é encontrar testemunhas. “Ninguém quer falar”, resume.

Alguns fatos registrados na cidade

• 4 de fevereiro, Bairro Conservas

Na madrugada daquele sábado, Adriano Luís da Silva, 32 anos, conhecido como “Adrianinho”, foi morto por volta das 1h30min em um matagal na rua Guilhermina Büker, local afastado da área residencial. No corpo, tiros de pistola 9mm. Ele tinha passagens por tráfico de drogas.
• 2 de fevereiro, Bairro Universitário

Robinson Ricardo da Silva, 28 anos, de Sapucaia do Sul, e os lajeadenses Otávio Augusto de Almeida, 20 anos, Jonathan Igor Monteiro, 21, Carlos Willian Mezacasa, 25, e Magnon Roberto Mezacasa, 24, foram presos por tráfico e posse de arma em um conjunto habitacional na Av. Alberto Pasqualini. Os últimos dois são suspeitos do duplo homicídio do dia 31 de janeiro.

• 31 de janeiro, Bairro Centro

André Fernando Klauck, 36 anos, e Marcos José Soares, o “Maninho” foram mortos com tiros de fuzil na tarde daquela terça-feira, na Rua Borges de Medeiros. O crime ocorreu por volta das 18h40min. Maninho é irmão de Bilé.

• 10 de janeiro Bairro Jardim do Cedro

O Pelotão de Operações Especiais (POE) da BM perseguiu uma dupla que circulava em uma moto efetuando disparos pelas ruas. Eles foram abordados no Conservas, onde um deles foi alvejado e preso. Alan Subtil Alves, 21, tinha um estojo com munições de 9mm e declarou participar da Manos

• 9 de janeiro, Bairro Centro

Por volta de 1h,, Alessandro Ribeiro, 17 anos e Ethierry Roberto do Couto, 21, foram mortos em uma residência da rua Marechal Deodoro, pertencente a Bilé, que também estava no local mas escapou ileso. Um artefato explosivo e possivelmente um fuzil foram utilizados no crime.

• 8 de janeiro, Bairro Santo Antônio

Por volta das 15h45 daquele domingo, Fabrício Júnior da Silva de Moura, 25 anos, estava na rua Eugênia Christ, próximo à esquina com a rua Igrejinha, quando um homem se aproximou a pé e efetuou seis disparos. Baleada, a vítima saiu correndo mas foi atropelada por um automóvel Peugeot, que resgatou o atirador do local.

• 04 de janeiro Bairro Conventos

Bilé saía do depósito do Detran, as margens da BR-386, em um Passat blindado. Por volta das 9h, ele foi atacado por um grupo em frente a uma borracharia. Mais de 40 tiros foram disparados. As balas – de pistola e metralhadora – atingiram três veículos estacionados. Um dos disparos alcançou a parte interna da borracharia. Ninguém ficou ferido.

• 16 de dezembro, Bairro Florestal

A BM prendeu quatro homens por volta das 7h30min. Eles estavam em um automóvel, na Av. Benjamin Constant, próximo ao presídio. Foram apreendidos pistolas, espingarda, munições, toucas ninja e coletes à prova de bala. Eles estariam aguardando Cristiano Mateus Soares, 39 anos, o “Bilé”, que cumpria pena no semiaberto. Um ano antes, Bilé e o irmão sofreram atentado quase no mesmo local. Na ocasião, alguns tiros atingiram veículos de uma revenda próxima.

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