Posição de ministro reabre debate sobre a política de drogas

legalização da maconha

Posição de ministro reabre debate sobre a política de drogas

Ministro do STF, Luís Roberto Barroso defende a legalização da maconha para amenizar a lotação carcerária e a violência. Em Lajeado, 32,7% dos presidiários são traficantes. Após chacinas nos presídios e crise na segurança e no sistema carcerário, declaração do ministro Luís Roberto Barroso reacende o debate sobre a atual política de combate ao tráfico de drogas.

Posição de ministro reabre debate sobre a política de drogas

A sociedade do Vale do Taquari finalizou 2016 e iniciou 2017 falando sobre a violência gerada pela disputa por pontos de tráfico de drogas.

Em Encantado, o ano passado ficou marcado como o mais violento da história. Foram dez homicídios. A maioria, acredita a polícia, devido à ligação direta com o comércio ilegal de entorpecentes.
Em Lajeado, o avanço da violência é assunto recorrente. Só em janeiro deste ano, já foram registrados metade dos homicídios da cidade vizinha. São cinco pessoas mortas em um intervalo inferior a 30 dias.

Todas com ligações com o tráfico de drogas, e com uma suposta guerra entre facções criminosas locais e grupos da Região Metropolitana.
A sociedade é vítima dessa guerra. Na maior cidade do Vale do Taquari, os recorrentes tiroteios envolvendo diferentes facções já atingiram inocentes. O último caso aconteceu no dia 8 de janeiro, na rua General Osório, no centro.

Após troca de tiros entre grupos rivais, um jovem que passava pelo local de bicicleta foi atingido de raspão no braço.
Outro fato aconteceu em novembro de 2015, junto ao presídio estadual, envolvendo os irmãos Cristiano Mateus Soares, o “Bilé”, e José Gabriel Soares, o “Zezinho”. Ambos deixavam o albergue do semiaberto em um Omega blindado quando foram interceptados por dois veículos.

Mais de 20 tiros foram disparados. Alguns atingiram carros de uma concessionária localizada na esquina da rua Waldemar Ely com a av. Benjamin Constant. Por sorte, não houve feridos.
“A sociedade sente na pele esse movimento de avanço dos traficantes. Aqui, vivenciamos esse tensionamento entre grupos criminosos.

São facções de fora, cujos chefes deliberaram o confronto com organizações locais”, afirma o juiz da Comarca de Lajeado, Luís Antônio de Abreu Johnson.

R$ 300 mil só em armamento

O magistrado alerta para o poderio ofensivo dos traficantes, considerado – por vezes – mais forte do que o do próprio Estado. Segundo ele, em Lajeado, foram mais de R$ 300 mil apreendidos em armamentos recolhidos com os traficantes presos nas últimas semanas.

“Havia fuzis de uso restrito do Exército norte-americano. Dá para ter uma ideia do poder dos grupos”, observa.
Segundo o juiz, foram pelo menos 11 prisões de traficantes no primeiro mês de 2017. Em 2005, por exemplo, um ano antes da criação da Lei Antidrogas, foram 13 traficantes presos em um período de 12 meses.

Já entre 2006 e o ano passado, foram 703 prisões por tráfico.
O magistrado demonstra preocupação com o crescente número de presos envolvidos com a venda ilegal de drogas. Segundo ele, muitos deles entram no cárcere em uma condição de baixa periculosidade, mas acabam aliciados por criminosos mais perigosos.

“Essas organizações criminosas se fortalecem dentro do cárcere. Não podemos colocá-los juntos.”
Ainda de acordo com Johnson, a guerra movida pela disputa de pontos de venda já envolveu mais de 25 “soldados” do tráfico nas últimas semanas, tanto no Vale do Taquari como no do Rio Pardo.

“Aqui na região, somos a ponta de uma chaga internacional. Nossos policiais são heróis. Mas é preciso um esforço maior para coibir a entrada de drogas nas fronteiras”, acredita.

“Não comento a posição do ministro”

O juiz da comarca de Lajeado não quis se posicionar acerca da entrevista concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, que defendeu a legalização da maconha como forma de reduzir a crise do sistema penitenciário.
Questionado sobre a possibilidade de legalizar a venda, posse da maconha, Johnson apenas faz um alerta. “A maconha é o de menos. A maconha é droga e lucro de quadrilhas pequenas. O negócio mais rentável envolve a cocaína. É ela quem sustenta as grandes organizações e facções criminosas, que hoje, no Brasil, são o Comando Vermelho e o PCC”, diz.

 

Reflexo nas cadeias

Com capacidade para 869 detentos, as quatro penitenciárias da região abrigam 1.215. Em Lajeado, são 550 nos regimes fechado e semiaberto.

Desses, 180 estão lá por tráfico. Os índices mais próximos envolvem 49 presos por receptação, 33 por furto, 31 por roubo, 23 por latrocínio, 19 por estupro e dez por homicídio.
O aumento no número de prisões iniciou a partir de 2006, ano da instituição do Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre Drogas (Sisnad).

Antes da nova Lei Antidrogas, em todo o país, eram 31.520 presos por tráfico nos presídios brasileiros.

Em 2013, esse número passou para 138.366. Hoje, são ao menos 182.779 em um universo de 668,2 mil presos para 394,8 mil vagas.

 

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