No improviso do jazz – aprecie sem moderação

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No improviso do jazz – aprecie sem moderação

Ritmo que ganha evidência com o filme La La Land, sobrevive ao tempo com a expansão a outros estilos e gêneros musicais.

No improviso do jazz – aprecie sem moderação
oktober-2024

Desde o primeiro filme sonoro, O Cantor de Jazz (1927), o ritmo criado em Nova Orleans ocupa o papel de protagonista em Hollywood. O favorito ao Oscar 2017, La La Land, repete a fórmula de sucesso dos clássicos.

No casamento entre trilha sonora e enredo, o jovem diretor Damien Chazelle faz o espectador levitar.

Um piano delirante dita o movimento da história. Sebastian (Ryan Gosling), um músico desapontado, quer resgatar a essência do jazz. No meio do caminho, apaixona-se por uma atriz (Emma Stone).

Toda magia das canções funciona como catalisador para que o casal siga em frente, mesmo diante dos fracassos.
Para o crítico e jornalista especializado, Walter Ferreira, a obra tem uma semelhança com Chicago (2002). “A trilha de La La Land, porém, é mais orgânica, visceral. Tem uma correlação intensa com a narrativa. Na maneira como a história é contada, só o mais gélido dos corações consegue se manter indiferente.”
O longa é, segundo ele, uma celebração à vida, aos seus sucessos e fracassos, aos encontros e desencontros. “Ancorado na música e na dança com inspiração no que de melhor o cinema já apresentou. Tudo orquestrado com muita sensibilidade e um impecável rigor técnico”, avalia.

O swing nas telonas

A essência do jazz já serviu como pano de fundo para o conflito de vários personagens cinematográficos. No aclamado musical de Chazelle, a trilha compõe o drama do personagem principal.

“Ele curte o jazz de ‘raiz’, cujo público é bem específico, mas no decorrer da história se depara com uma outra realidade, que é reveladora e serve de lição pra ele”, analisa Ferreira.

“É citado como artifício dramático para respaldar o gosto peculiar do protagonista.”
O balanço nascido no Delta Mississippi não se reduz aos musicais. O diretor Woody Allen, por exemplo, tece forte relação com o movimento.

Fica evidente em Em Poucas e Boas, que transpõe o gênero para a história do guitarrista interpretado por Sean Penn.

Nas produções mais recentes, como Bird, de Clint Eastwood, o gênero aparece também para costurar a história. Na obra, é o saxofone de Charlie Parker que cria o tom para o enredo.

Você tem medo do jazz? Ele não tem medo de você

Conforme o colecionador Leonardo Alcântara Coelho da Silva, de seu primórdio dançante, animado por orquestras de swing e dixieland, o jazz se mostrou efêmero e soube transitar de acordo com a evolução musical, tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo.

Carrega um forte espírito de sobrevivência: do triste e sangrento período escravocrata americano aos dias atuais.
Para ele, entretanto, uma parte da população brasileira tem medo do jazz. “No imaginário popular, muitos consideram o gênero difícil e repetitivo. Há até quem o coloque no mesmo nível da música erudita.”

Mas para Silva o jazz não cabe em nenhuma tendência intelectual. “É uma música universal, acolhedora e de todos que a queiram descobrir. Se você se permitir ouvir mais o jazz, vai ver que ele não é erudito.”

Tem origem no blues. “Pegue um solo de Miles Davis em Round Midnight ou um de Coltane em Lazy Bird, que você sentirá o blues naquelas notas”, explica.
E continua a se expandir. “Devido à sua capacidade de manter um pé na sua origem e, ao mesmo tempo, em outros estilos e gêneros musicais, sem restrição.”

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Do rock à bossa nova

No fim dos anos 60, quando o jazz se viu preso e agonizado diante da onda revolucionária do rock, os jazzistas enxergaram um caminho de mudança e outra forma de sobreviver.

“Liderados por Miles Davis, criaram a Jazz Fusion, que mistura rock com funk a elementos eletrônicos”, lembra o colecionador.
Até a bossa nova, de Jhonny Alf, Tom Jobim e João Gilberto, encontrou abrigo no jazz e uma forma de se expandir.

“Inúmeros músicos gravaram a nossa criação e fizeram dela uma das manifestações musicais mais conhecidas e apreciadas do mundo.”
Conforme Silva, existe jazz para todos os gostos, do clássico ao abstrato, do conceitual ao popular. “Sua improvisação trouxe talentos extraordinários. Para apreciar o jazz, basta ter ouvidos.

E para compreendê-lo, precisamos de algo elementar de todos os seres humanos: alma. Simples assim.”

 

 

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