O Departamento de Trânsito do município completa 20 anos em 2017 com expectativa de melhorar a relação entre os servidores e a comunidade.
A administração municipal pretende realizar durante o ano rodadas de qualificação com os agentes, ministradas pelo especialista em Segurança Pública Ordeli Savedra Gomes.
De acordo com o coordenador do setor, Carlos Kayser, a intenção é fortalecer o conhecimento técnico, intelectual e de condutas dos servidores. “Por isso trouxemos o Ordeli, uma pessoa reconhecida no Brasil inteiro, para produzir um programa especial para nossos agentes.”
Segundo o coordenador, junto com a formação, o governo pretende melhorar as condições de trabalho dos servidores, com novos equipamentos de proteção individuais, viaturas e um fardamento baseado no utilizado pela EPTC em Porto Alegre.
“Com esse trabalho pretendemos incentivar as discussões sobre o tema do trânsito na cidade.”
Gomes é graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisc e tem especialização em Segurança Pública pela PUC-RS.
Tenente-coronel da Reserva da Brigada Militar, é professor de Legislação de Trânsito e autor dos livros Código de Trânsito Brasileiro Comentado e Legislação Complementar e Código de Trânsito Brasileiro com Comentários Especiais para Concurso.
“Precisamos construir nossas cidades para as pessoas, não para os carros.”
A Hora – Qual o objetivo do projeto proposto pela administração municipal para os agentes de Trânsito?
Ordeli Savedra Gomes – O principal é valorizar os servidores. Eles são fundamentais para a segurança e a mobilidade da sociedade, mas para que prestem um melhor serviço, é preciso investir na qualificação desses profissionais. Vamos fazer treinamentos de forma intensificada e, além das rotinas operacionais, também focaremos na inteligência emocional, na comunicação entre o agente e o cidadão que está sendo abordado por ter cometido ou não uma infração. O que se deseja é que essa abordagem não termine em ocorrência policial e que nenhuma das partes se sinta ofendida.
O agente de Trânsito faz a mediação dos conflitos entre motoristas e também tem uma função educativa, de fazer cumprir as regras de trânsito. Como essas questões devem ser trabalhadas com a população?
Gomes – É quase como um policial militar durante uma ocorrência. Vamos abordar essa forma de comunicação para que a atuação dele seja útil para o órgão de trânsito e a sociedade.
Como deve ser a atuação dos agentes no dia a dia do trânsito?
Gomes – O agente de Trânsito, como o policial militar, tem que se colocar de forma ostensiva para ajudar o trânsito. Em caso de infrações, não tem outa opção, tem que multar sob pena de cometer um crime. Mas ele não pode ficar escondido visando pegar alguém que cometa infrações. Ele precisa ser visto para incentivar que as pessoas sigam as regras. As normas existem para que tenhamos uma pacificação do trânsito.
Lajeado tem um fluxo de veículos muito acima da média e começa a apresentar problemas de mobilidade antes restritos aos grandes centros. É possível estabelecer uma estrutura de transporte capaz de eliminar esse gargalo?
Gomes – Temos que pensar a cidade não apenas para quatro anos, e sim para daqui a 20 ou 30 anos. Temos uma população flutuante muito maior do que os cerca de 80 mil habitantes da cidade, porque somos um polo regional. A população cresce a cada ano e o número de veículos também. Se hoje temos dificuldades, em 20 anos teremos muito mais. É preciso fazer o que o Plano Nacional de Mobilidade prevê, que é criar um sistema de transporte que proporcione às pessoas deixar o carro em casa.
De que forma isso deve ser feito?
Gomes – É preciso um transporte coletivo seguro, confortável e economicamente viável. Quando o sistema agrada, as pessoas vão utilizar. Outra questão são as ciclovias. Em Santa Cruz do Sul, a implantação começou na gestão passada e deu um choque nas pessoas. Reclamavam de perder dois metros da pista para fazer uma ciclovia. Mas tem que fazer, dar condições e incentivar para mudar essa cultura. Precisamos construir nossas cidades para as pessoas, não para os carros. Na Europa, as pessoas daqui caminham para conhecer as cidades, andam de ônibus e aqui parece que não podem andar 300 metros. Precisamos mudar essa cultura.