Nesta semana, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood divulgou a lista dos indicados à 89a edição do Oscar. A noite de gala ocorre em 26 de fevereiro, mas a mudança de um ano para o outro já é percebida.
Diferente de 2016, quando a premiação teve somente atores brancos indicados, neste ano, só na categoria melhor atriz coadjuvante há três nomes fortes postulantes ao título. É a primeira vez na história do cinema que três mulheres negras são indicadas em uma mesma categoria.
Uma delas é a Viola Davis, que concorre com o filme Cercas, contracenando com Denzel Washington. Já Octavia Spencer interpreta uma cientista, que ajuda a colocar o homem no espaço pela primeira vez no filme Estrelas Além do Tempo. E Naomi Harris é uma das peças-chaves no enredo de Moonlight – sob a Luz do Luar.
Desde 2015 a discussão sobre a falta de representatividade negra em todas as categorias do Oscar foi alvo de críticas mundo afora. No ano passado, a falta de diversidade impulsionou a hashtag #OscarStillSoWhite, ficou entre as mais citadas na internet. Ganhou força nas redes sociais e conseguiu pressionar a academia.
Quatro meses depois, a entidade convidou grandes nomes da indústria de Hollywood para renovar seus quadros, levando em conta, principalmente, a diversidade racial, de gênero e o rejuvenescimento dos votantes.
Para o jornalista e cinéfilo Julian Kober, é baixa a representatividade de atores e diretores negros e isso precisa mudar. “Muita gente acha que não tem nada demais, mas, se pesquisar, vai ver que não é bem assim.”
A paixão pelo cinema começa cedo para a maioria dos amantes da sétima arte. Kober lembra de momentos que marcaram a infância, como o primeiro filme de terror. “Tinha uns quatro anos quando passou na TV O Mestre dos Brinquedos” (Puppet Master).”
Assustado, procurou a avó, que lhe acalmou dizendo ser tudo sangue falso e que os atores estavam se divertindo. “A palavra divertindo ficou grudada na minha cabeça. A partir daí, não parei de olhar filmes de terror.”
Com uma coleção de quase 200 blurays em casa, Kober faz dos filmes sua maior paixão. “Não dá para rever todos em um ano, mas é bom ficar um tempão sem ver um filme. Parece que tu estás descobrindo ele pela primeira vez.”
Spoilers
O cinéfilo Elifas de Vargas concorda com as indicações deste ano. “Curti ver diferentes temas sendo levados à indicação, incluindo ficção. O filme A Chegada é um dos favoritos.” Para ele, a obra de Denis Veilleneuve deixa o espectador inquieto. “Todos nós sempre questionamos o de onde viemos, para onde vamos.”
As polêmicas de 2016 ainda são latentes, também pela falta de representatividade de gênero e raça. “Nem todos têm a mesma oportunidade que o ator Sidney Poitier, por exemplo”, lembra Elifas.
Outra surpresa foi a falta de indicação de Spielberg para melhor diretor, com o filme Tubarão.
A jornalista Juliana Campos Chaves já tem seu favorito: La La Land. “Eu me surpreendi. Me envolvi com o filme do início ao fim. Minha crítica negativa está mais em relação ao final. A atriz Emma Stone aparece de volta como uma mulher resolvida. Repete padrão de que a mulher, para ser bem resolvida, tem que estar casada e ter filhos.”
Psicologia do cinéfilo
Para o psicólogo Norton de Souza, a psicologia e o cinema se cruzam. “O cinema é uma ferramenta importante de criação, que não pode ser observada apenas pela forma, mas pelo sentido. Busca explicação para o sentimento diante de um sentido, enquanto o outro busca no sentimento das pessoas a sua atenção. “A arte que comove, que produz significados, produz vida e causa reflexão.” Para o psicólogo, bons filmes produzem resiliências, pensamentos e ideias.
Lista de indicados:
A chegada – Seres interplanetários deixam marcas na Terra. A linguista Dra. Louise Banks (Amy Adams) é procurada por militares para traduzir os sinais e desvendar o que significam. É preciso saber se os alienígenas representam ameaça à humanidade.
Até o último homem – Durante a Segunda Guerra Mundial, o médico do exército Desmond T. Doss (Abdrew Garfield) se recusa a pegar em uma arma e matar pessoas, porém, durante a Batalha de Okinawa ele trabalha na ala médica e salva mais de 75 homens, sendo condecorado. O que faz de Doss o primeiro Opositor Consciente da história norte-americana .
Estrelas Além do Tempo – Em plena Guerra Fria (1961), Estados Unidos e União Soviética disputam a supremacia na corrida espacial. A sociedade norte-americana lida com uma profunda cisão racial, entre brancos e negros. Tal situação é refletida também na Nasa, onde um grupo de funcionárias negras é obrigada a trabalhar separadas. É lá que Octavia Spencer se destaca e termina indicada à melhor atriz coadjuvante. Em 2012, ela levou a estatueta a categoria por Histórias Cruzadas.
Lion: Uma Jornada para Casa – Quando tinha apenas 5 anos, o indiano Saroo (Dev Patel) se perdeu do irmão numa estação de trem de Calcutá e enfrentou grandes desafios para sobreviver sozinho até de ser adotado por uma família australiana. Incapaz de superar o que aconteceu, aos 25 anos, ele decide buscar uma forma de reencontrar a família biológica.
Moonlight: sob a Luz do Luar – Black (Trevante Rhodes) trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Desbrava obstáculos em relação à raça e à sexualidade. Mahershala Ali e Naomi Harris também estão indicados, respectivamente a melhor ator coadjuvante e melhor atriz coadjuvante. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso. O diretor Berry Jenkins foi indicado em sua categoria.
Cercas – Baseado na aclamada e premiada peça teatral homônima. Um homem (Denzel Washington) que sonhava em se tornar um grande jogador de beisebol durante a infância acaba frustrado na vida como um catador de lixo.
A Qualquer Custo – Dois irmãos, um ex-presidiário e um pai divorciado com dois filhos, perderam a fazenda da família em West Texas e decidem assaltar um banco como uma chance de se restabelecer financeiramente. Só que no caminho, a dupla cruza com um delegado, que tudo fará para capturá-los.
La la land: Cantando Estações – Ao chegar em Los Angeles, o pianista de jazz Sebastian (Ryan Gosling) conhece a atriz iniciante Mia (Emma Stone) e os dois se apaixonam. Em busca de oportunidades para as carreiras na competitiva cidade, os jovens tentam fazer o relacionamento amoroso dar certo enquanto perseguem fama e sucesso.
Manchester à Beira-Mar – Lee Chandler (Casey Affleck) é forçado a retornar para à cidade natal com o objetivo de tomar conta do sobrinho adolescente após o seu irmão morrer precocemente. Esse retorno ficará ainda mais complicado quando Lee precisar enfrentar as razões que o fizeram ir embora e deixar a família para trás, anos antes.
