Número de alunos cai. CRE junta séries

Vale do Taquari

Número de alunos cai. CRE junta séries

Multisseriação é a alternativa encontrada para manter escolas menores abertas

O número de alunos nas escolas estaduais terá nova queda. De acordo com a Coordenadoria Regional de Educação (CRE), o ano letivo iniciará com 800 alunos a menos em relação ao fim de 2016. Dados fechados pela órgão na quinta-feira apontam que, até o momento, 20.613 estudantes já fizeram a matrícula ou têm vaga garantida pelo sistema, mesmo sem ter confirmado a inscrição.

O responsável pelo Departamento Pedagógico da CRE, Fábio Luís Mallmann, estima que essa quantia ainda deve aumentar até 17 de fevereiro, prazo final para matrículas. Mas ainda não atingirá o montante de 2016.

“Analisando os anos anteriores, com certeza, esses dados vão se alterar. Ainda precisamos aguardar os retardatários. Mas já prevemos uma queda.” Somente ao longo do ano letivo passado, a redução nos 32 municípios abrangidos pela 3ª CRE foi de 763 alunos.

Desde 2009, o número já chega a 7,4 mil. Diminuição que resultou em junção de várias séries em uma mesma sala e também fechamento de escolas. De acordo com Mallmann, das 1.067 turmas formadas para este ano, 87 são multisseriadas. Apenas escolas de Ensino Médio não foram afetadas.

“Sempre avaliamos a questão pedagógica. Avaliando se aquela mudança é boa para o ensino do estudante.” Para garantir o aprendizado, essas turmas são divididas por blocos de ensino: 1º ao 3º ano, do 4º e 5º, e do 6º ano.

Um caso assim ocorre na Escola Estadual de Ensino Fundamental Padre Antonelli, de Anta Gorda, onde estudantes do 1º ao 5º ano ocupam a mesma sala. “São as raras as situações em que não respeitamos essa divisão. Somente quando o número é tão pequeno que prejudica os alunos.”

Mallmann ainda ressalta que a alternativa possibilita economia. “É possível ter qualidade de ensino, e o racionar os custos. Acho que as pessoas precisam avaliar por esse lado também.”

educação fotoFechamento de escolas

Para o início do ano letivo, não há previsão de fechamento ou municipalização de escola estadual. Porém, ao longo de 2017, a continuidade de três instituições será avaliada. Uma delas fica em Taquari, com cinco alunos, e outras duas em Cruzeiro do Sul, com dez estudantes cada. “O êxodo rural faz com que isso ocorra. Trabalhamos para mantê-las, mas não depende só de nós.” Mallmann garante que o assunto será abordado com as comunidades escolares, e tratado publicamente, caso se concretize.

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“O governo deveria tratar a educação de uma forma mais séria”

O diretor-geral do 8º núcleo do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) e professor de História, Oséias Souza de Freitas, comenta a multisseriação. Ele acredita que unir alunos de diferentes séries em uma mesma sala traz prejuízos ao aprendizado e ensino.

A Hora – Do ponto de vista do professor, que dificuldade a multisseriação pode gerar?

Oséias de Freitas – Eu nunca vivenciei, é difícil para mim explicar. Mas acredito que eu não saberia trabalhar. É algo totalmente contraditório ao que o governo exige. Nos pede que haja uma emancipação do aluno, uma avaliação individualizada, mas não nos dá condições para isso.

Praticamente 100% da categoria é contra essas medidas que consideram apenas o aspecto econômico e tratam a educação como mercadoria, além de privar o cidadão de um direito, que é ter educação de qualidade.

Quais as consequências que isso pode causar ao aprendizado dos alunos?

Freitas – Pode afetar a qualidade do aprendizado. O professor não terá como aprofundar e trabalhar os temas de modo mais específico, atendendo as demandas de cada série. Terá que se deter em aspectos gerais, trabalhar de forma genérica. Se eu tenho 30 alunos, preciso enxergar cada um de forma diferente e ofertar conteúdos personalizados a cada um. Mas assim não é possível. Enquanto os mais novos precisam se apressar para acompanhar certas coisas, os mais velhos precisam regredir.

Qual seria uma alternativa à medida?

Freitas – O governo deveria tratar a educação de uma forma mais séria, priorizar, enxergar que não é custo, mas investimento. O segundo ponto necessário é a realização de ajustes na realocação de professores e organização das horas, para que o professor não fique sobrecarregado. Além da implementação do piso nacional e pagamento do 13º. Enfim, se tudo isso fosse visto de outra maneira, esse tipo de atitude não seria necessária. O resultado será um só: péssimos cidadãos, uma sociedade corrupta e violenta.

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