Atacama, um oásis

Caminhos

Atacama, um oásis

Deserto: um silêncio que fala e uma aridez que hidrata

Atacama, um oásis
Vale do Taquari
oktober-2024

Partir rumo ao Deserto do Atacama de carro e sozinhos foi uma decisão fácil para os lajeadenses Aline Lenz e Paulo Hopper. O casal sempre opta por chegar aos lugares pelos próprios pés ou, como no caso do Atacama, sobre rodas. A liberdade de ficar ou partir é essencial para eles, que são fãs da fotografia e mantêm uma certa aversão às multidões. “O namoro com a Cordilheira dos Andes foi uma paixão súbita que facilitou a nossa entrega ao deserto”, conta a professora e escritora.

Aline chegou a Paulo pela admiração de suas imagens. Ele, por meio das palavras. “Admiro profundamente a sua fotografia, exatamente pelo mesmo motivo que ele gosta das minhas letras: a infinitude do indizível. Nossa viagem é seguir nos achando e nos perdendo, mundo afora e mundo adentro, infinitamente.”

O silêncio, desde o primeiro encontro com o deserto, gritou tudo que precisavam escutar. “Aliás, estar diante de belezas e infinitos que transbordavam o nosso olhar, e não se traduziam em palavras, nos ensinou a conversar através de silêncios.” O vento, mesmo com tão pouco oxigênio, abraçava constante e alentava do calor. “Era também o vento que nos contava da força daquilo que não vemos, mas que não podemos deixar de enxergar”, conta Aline.

O casal

Paulo Hopper é fotógrafo profissional. Aline Lenz é professora e fora da sala de aula usa as palavras para chegar e partir.

O local

A cidade San Pedro de Atacama é ponto de partida para o turismo no deserto. Fica na província de El Leoa, norte do Chile, fronteira com a Bolívia e a Argentina. Para chegar ao vilarejo, o curista precisa partir de Calama por 1h30min de carro.

Relato da escritora

“De cara, o deserto nos mostrou o quanto somos pequenos e foi exatamente isto que nos tornou adultos para olhá-lo de frente e descobrir as suas tantas cores e reconhecer em nós mesmos o quanto podemos hidratar a alma num lugar tão seco.

A paciência ditada pela altitude nos alfabetizava para a calma da entrega e tirou dos nossos pés as pesadas botas da proteção e da pressa que costumamos roboticamente calçar.

O deserto do Atacama não tem uma estrutura turística com a qual estamos acostumados. Mas, dormir sem ar-condicionado, valeu pelo céu mais estrelado do mundo. Não fazer todas as refeições, valeu por saciar aquela fome que nenhuma comida mata. Encardir a pele, valeu por clarear nossas vontades. Passar horas infinitas dentro do carro, ampliou nossos horizontes. Precisar apenas de água num lugar tão incrível, direcionou nossos pés para os lugares que precisamos de fato percorrer. Saímos do deserto (porque dele não partimos nunca, uma vez que ele nos re-parte para sempre) gratos pelas suas tantas adversidades que o mantêm deserto de multidões e comércios… o deixando intocado e tocando de forma só dizível pelo silêncio quem por ele ousa passar.

Quando chegamos lá, tivemos a certeza que a força do deserto era feminina, tamanha sua beleza e crueldade. Quando nos despedimos, tivemos a certeza que sua força era masculina, tamanha a sua força e silêncio. E hoje, sabemos que vamos retornar, para não termos mais certeza nenhuma.”

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