“Às vezes eu estou com pressa e então acabo passando por aqui mesmo. Sei que é mais inseguro, mas eu cuido. Só evito mesmo quando estou acompanhado dos meus filhos menores, daí o risco é muito maior.”
A dona de casa, Cláudia Teresinha de Souza, 43, precisou apressar o passo para cruzar a av. Benjamin Constant sobre uma faixa de segurança mal-instalada junto à esquina com a rua Tiradentes. O ponto é considerado “cego” para os motoristas. Fica em uma curva, praticamente no entroncamento com outra movimentada avenida da cidade, a Alberto Pasqualini.
Próximo dali, outros pedestres correm risco ainda maior. Eles esnobam o perigo e cruzam fora da faixa de segurança. E não são poucos. Bastam alguns minutos observando o vai e vem de pessoas na quadra – entre a rua Tiradentes e a Pinheiro Machado – para perceber que muitas não observam a sinalização no momento de cruzar a Benjamin Constant.
No trecho, há um semáforo na esquina da avenida com a Pinheiro Machado. Naquele local, há também um dispositivo alertando sobre o tempo disponível para que os pedestres completem a travessia sobre uma faixa de segurança pintada no asfalto. Mesmo assim, muitos preferem cruzar a rua de três pistas enquanto o sinal é verde para os veículos.
Em parte, é essa “falta de cultura” por parte de muitos lajeadenses e visitantes que teria feito o Departamento de Trânsito desativar os tempos de pedestre na esquina da av. Benjamin Constant com a av. Sete de Setembro, outro nas proximidades do presídio e um terceiro instalado próximo ao Corpo de Bombeiros, já no bairro Montanha. A medida gerou críticas de moradores.
“Fizemos levantamentos nos locais por diversas horas e percebemos que a travessia de pedestres nesses locais é pouco utilizada. Por exemplo, na sinaleira da esquina com a Sete de Setembro, em um dos dias de observação, só uma pessoa atravessou naquele ponto”, cita o chefe do departamento, Carlos Kayser.
A medida tomada na sexta-feira é um teste. O governo vai avaliar como o trânsito de pessoas e veículos fluirá naqueles três pontos, já que foram muitas as reclamações de engarrafamentos após a instalação dos aparelhos para pedestres. “Principalmente nos horários de pico. Importante salientar que é experimental em todos os pontos, então, vamos avaliar antes de tomar uma decisão permanente”, reitera.

Na av. Benjamin Constant, próximo às esquinas com as ruas Tiradentes e Pinheiro Machado, pedestres se arriscam em trechos sem sinalização
Semáforos do tipo botoeira
Kayser pretende avaliar o sistema de semáforos do tipo boteira – com botão. Em Lajeado, há modelos semelhantes instalados na esquina das ruas Bento Gonçalves e Carlos Von Koseritz, em frente a uma das saídas do Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat).
“Por enquanto estamos analisando essa situação de retirada dos tempo de pedestres. Quanto a outros pontos da cidade, estamos avaliando o sistema de sinaleira do tipo botoeira. Será feito levantamento e um estudo, local a local.”
Além do sistema de semáforos botoeira, conforme Kayser, o departamento também verifica a necessidade de fazer pinturas de faixas de segurança mais largas, “para que os veículos e os pedestres tenham maior visibilidade”.
Kayser informa ainda que foi implantado o sistema piscante no horário da meia-noite às 6h nas sinaleiras da av. Benjamin Constant, e em semáforos instalados nos bairros Jardim do Cedro e Hidráulica, na esquina entre as ruas João Abott e Silva Jardim, e por fim no entroncamento entre a av. Alberto Pasqualini e a rua Fábio Brito de Azambuja, no São Cristóvão.
Entrevista com João Rodrigo Guerreiro Mattos, professor da Univates, doutor em Engenharia Civil
A Hora – Faz pouco mais de meio ano, o governo instalou semáforos para pedestres em três pontos da cidade. Na semana passada, os aparelhos foram desligados. Esse tipo de mecanismo é eficaz em outras cidades?
João Mattos – A instalação de semáforos, como qualquer elemento de trânsito, necessita de estudos técnicos para sua implantação. Antes da instalação, devem ser avaliadas opções mais viáveis, bem como a sua efetividade e impacto no sistema de trânsito como um todo, para pedestres, ciclistas e motoristas. Percebe-se que, em vários municípios, os departamentos de Trânsito acabam não elaborando esses estudos e a decisão acaba sendo motivada por um fato isolado e o resultado disso é um desperdício de recursos, uma vez que não cumpre sua função adequadamente e, algumas vezes, até é removido, como o exemplo desses três semáforos. Importante destacar que a instalação de um semáforo, para seu pleno funcionamento, deve levar em conta também os outros já instalados naquela área. Deve haver sincronismo entre os semáforos.
Qual sua avaliação sobre a situação atual dos pedestres em Lajeado?
Mattos – O trânsito de pedestres em Lajeado não é uma tarefa tão fácil de organizar, pois existe muita falta de conscientização referente às leis de trânsito, tanto do lado do pedestre quanto do motorista. Não é raro passar pela rua Júlio de Castilhos e observar as pessoas andando fora da faixa de pedestres, sendo que existem muitas opções de faixas naquele trecho viário. Então também existe um aspecto educacional que deve ser trabalhado no município. Além disso, deve-se destacar a falta de infraestrutura em muitos bairros, vários locais não têm nem calçadas ou, se existem, não têm a largura adequada. Todos esses aspectos dificultam intervenções eficazes no trânsito de pedestres.
Quais são os bons exemplos de outras cidades que poderiam ser aplicados aqui?
Mattos – Uma medida muito interessante e de baixo custo de implantação e manutenção que, inclusive, foi tomada pelo Departamento de Trânsito de Lajeado e que funciona bem em outros municípios para harmonizar o trânsito de pedestres e veículos, são as faixas de pedestres elevadas. Embora, em geral, elas não atendam todas as especificações das normas de trânsito quanto à sua geometria e sinalização. Vários estudos apontam a eficiência desse elemento, pois promove maior visibilidade dos pedestres realizando a travessia e obriga o motorista a reduzir a velocidade do veículo, portanto, garante mais segurança ao pedestre, inclusive aos cadeirantes e idosos.