Câmaras de seis cidades projetam prédios novos

Vale do Taquari

Câmaras de seis cidades projetam prédios novos

Sem sede própria, presidentes dos Legislativos do Vale buscam alternativas para adquirir prédio. Cinco dos seis municípios pagam pelo menos R$ 310,2 mil em aluguel por ano.

Câmaras de seis cidades projetam prédios novos
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A falta de uma sede própria leva presidentes das câmaras de vereadores a investir em projetos para construção de novos prédios. Pelo menos três municípios têm projetos orçados ou em andamento: Teutônia, Bom Retiro do Sul e Mato Leitão.

Outros dois estudam iniciar a construção ainda neste ano: Lajeado e Marques de Souza. Apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pelos Executivos municipais, os vereadores defendem as obras como forma de economizar com aluguel e manutenção de prédios terceirizados.

Segundo levantamento do A Hora, apenas com aluguéis, os cinco municípios pagam anualmente R$ 310,8 mil. Em média, cada câmara paga aos proprietários dos imóveis R$ 1,5 mil mensais. As exceções são Lajeado e Teutônia, onde o custo é de R$ 18 mil e R$ 3,9 mil, respectivamente.

Outra justificativa utilizada pelos presidentes das câmaras para os investimentos é a precariedade dos espaços onde as sessões ocorrem hoje. É o caso de Mato Leitão, onde o Legislativo é comandado por Elton Antônio Uhlmann (PMDB). “Muito se fala em acessibilidade e hoje não temos isso onde estamos, no segundo piso do prédio. Precisamos de um espaço adequado.”

Mesmo com a crise financeira, Uhlmann acredita que a proposta terá apoio da população. “O momento ideal não seria, mas acredito que a comunidade não será contra.”

O terreno para o novo prédio já foi escolhido, um lote no espaço onde será o futuro Centro Administrativo da cidade. De acordo com o presidente, o projeto é antigo, e só não avançou porque o Legislativo enviou recursos para o Executivo.

“O projeto já está pronto, mas a ex-prefeita pediu, no ano passado, esse valor para cobrir despesa.” O dinheiro referido por Uhlmann são R$ 265 mil de sobras do orçamento da câmara. Os recursos foram destinados para compra de uma incubadora da empresa Dália.

Com isso, o Legislativo seguiu pagando o valor de R$ 1,2 mil mensais à Mitra Diocesana de Santa Cruz do Sul, dona do prédio onde o trabalho dos vereadores é feito atualmente.

PrintObra a passos lentos

A construção da sede própria da câmara de Teutônia começou em dezembro de 2010. Desde então, anualmente recursos são destinados para a obra que, de acordo com o presidente, Marcos Borges Aurélio de Quadros (PSDB), tinha previsão de oito anos para ser concluída. “É difícil saber qual o orçamento inicial da construção, porque é um trabalho de longo prazo.” Esse modelo de projeto implica em gastos variáveis em razão das oscilações econômicas. Apenas para 2017 estão previstos investimentos de aproximadamente R$ 700 mil no novo prédio.

De acordo com Quadros, a obra precisa avançar anualmente por obrigações legais. “Nós pegamos uma herança e temos obrigação de investir no prédio todo ano sob pena de responsabilização.”

Segundo o vereador, o Legislativo da cidade já foi apontado pelo Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul (TRE-RS) em um ano em que não investiu no prédio. Quadros garante que falta apenas a parte do acabamento para a entrega do prédio, o que deve ser concluído até o fim de 2018.

Situação parecida ocorre em Bom Retiro do Sul, onde a construção da nova sede foi iniciada faz oito anos, mas tem apenas 40% do projeto concluído. Na época em que a construção começou, o valor da nova sede foi orçado em R$ 750 mil, dos quais foram investidos R$ 301 mil até o momento. Para este ano, foram destinados R$ 300 mil para continuidade.

O Legislativo paga mensalmente R$ 1,3 mil em aluguel, e nos seis anos de obras paradas gastou cerca de R$ 94,7 mil para manter o prédio onde o legislativo funciona.

Nesta semana, o engenheiro da empresa responsável pela construção iniciou os novos cálculos para definir quanto será necessário para concluir a nova sede e em quanto tempo será feito.

Projetos incipientes

Em entrevista ao A Hora no início de mês, o presidente da câmara de Roca Sales, Gilvani Bronca (PTB), defendeu a importância de um novo espaço para os vereadores. Poucas semanas depois, o discurso do vereador está mais moderado, e ele afirma que se reunirá com os colegas antes de apresentar uma proposta, e cogita inclusive não ter projeto para este ano.

Diferente de Bronca, os chefes do Legislativo de Lajeado, Waldir Blau (PMDB), e Marques de Souza, Rubens Heineck (PP), esperam iniciar as obras ainda neste ano.

Blau afirma que a licitação deve ser feita ainda em 2017, mas se mostra cauteloso em projetar custos para a construção da nova sede. Na terça-feira, 24, ele deve se reunir com vereadores e representantes de entidades para debater o modelo de construção.

Já Heineck afirma que iniciou as tratativas para começar a construção. “Temos que tratar tudo com calma, não temos como encaminhar nada agora.”

Especialista questiona o momento

Sócio-diretor do Instituto Gamma de Assessoria a Órgãos Públicos (IGAM), André Leonardo Barbi atua desde 1992 prestando assessoria para gestores públicos. Ele reconhece a importância dos poderes terem sede própria, mas alerta para a crise financeira como empecilho.

A Hora – É uma atitude apropriada e inteligente investir em sedes de legislativos?

André Leonardo Barbi – É uma avaliação difícil de fazer de forma linear, é preciso analisar cada caso. A primeira coisa para que isso ocorra é a realização de um diagnóstico para apurar detalhadamente o custo atual das sedes alugadas e avaliar se é necessário fazer melhorias no prédio, para poder examinar se compensa colocar o dinheiro dessa reforma em um imóvel alugado. Se, após isso, for concluído que os custos de aluguel e melhorias em um prédio privado são desproporcionais, aí sim criar um prédio próprio. Criar esse local próprio não é apenas para dar conforto aos vereadores, mas transforma em um equipamento público de uso da comunidade.

Existe uma forma de tornar essas novas câmaras sustentáveis, alugando o bar ou vendendo a folha de pagamento, por exemplo?

Barbi – Isso é inconstitucional, porque a câmara não tem nenhuma possibilidade de arrecadar recursos. Mesmo que o Legislativo faça concurso público, as inscrições entram no Executivo.

Qual a importância de uma sede própria?

Barbi – É importante se ela se for um equipamento público à comunidade, e também trazer para a sociedade a importância do Legislativo, porque a câmara municipal tem esse poder de servir à comunidade. O ponto crítico é essa situação de crise. Em um contexto normal, é importante ter uma sede própria, até para dar uma identidade visual para o poder, mas não se pode deixar de lado a inconveniência de fazer isso agora.

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