Prioridade aos veículos trava mobilidade

Lajeado

Prioridade aos veículos trava mobilidade

Pedestres, ciclistas e cadeirantes sofrem consequências da ausência de planejamento

Prioridade aos veículos trava mobilidade
Lajeado

Harmonizar a relação entre automóveis, motocicletas, pedestres, ciclistas e cadeirantes em deslocamento na cidade é um dos desafios do novo governo. O município fechou o ano de 2016 com 61.739 veículos, diante de uma população estimada em 78 mil habitantes.

O grande número de veículos sobrecarrega as vias e dá ao trânsito características típicas de cidades maiores. A falta de alternativas de transporte público e a organização viária com prioridade aos carros agravam o cenário.

Estudante de Biomedicina da Univates, Dafhner D’ávilla, 20, mora faz três anos em Lajeado. Todos os dias, percorre a pé o caminho para o trabalho e a universidade. Segundo ela, os pedestres são prejudicados pela forma como a cidade está estabelecida.

“São ruas enormes para os carros, com poucas sinaleiras. Algumas ainda ficam abertas mais de um minuto para os carros e poucos segundos para atravessar”, aponta. Além disso, alega ser frequente a travessia de veículos no sinal vermelho e o desrespeito às faixas e sinalizações.

“Ruim mesmo é nos dias de chuva, quando se atravessam na frente como se o pedestre estivesse querendo se molhar”, relata. Representante comercial, Fabrício Meneghini é um entusiasta do ciclismo. Segundo ele, a circulação de bicicletas é tão ou mais difícil quanto a de pedestres.

“Tem piorado, pois anos atrás tínhamos alguma coisa de ciclovia, que foram retiradas no último governo”, afirma. Para Meneghini, a atitude colocou Lajeado na contramão do mundo. Hoje, não vê qualquer opção ou incentivo para melhorar a mobilidade urbana na cidade.

O ciclista participava do Conselho Municipal de Trânsito e ficava impressionado com a importância exagerada dada aos veículos. Lembra que o Código de Trânsito prevê o contrário.

Segundo Meneghini, nem mesmo a lei que determina distância mínima de 1,5 metro do carro para as bicicletas é respeitada. Relata que um amigo quebrou a clavícula porque um carro abriu a porta no meio do tráfego. “Andar de bicicleta em Lajeado é uma aventura perigosa.”

O representante comercial afirma que alguns ciclistas também desrespeitam as regras, andando pelas calçadas ou na contramão. Para ele, a criação de espaços específicos para cada tipo de transporte, inclusive o alternativo, é fundamental para a cidade.

Falta de rampas e calçadas em condições são os principais problemas enfrentados pelo cadeirante Douglas Cetolin

Falta de rampas e calçadas em condições são os principais problemas enfrentados pelo cadeirante Douglas Cetolin

Inacessibilidade

Para o cadeirante Douglas Cetolin, 21, a falta de condições das calçadas e de rampas está entre os principais desafios do cotidiano. Morador do bairro Montanha, afirma que a maioria dos passeios é intransitável. Por isso, acaba transitando nas ruas, em meio aos veículos.

“Os motoristas costumam respeitar por ser cadeirante, mesmo assim, é um risco.”. Em dezembro, divulgou um vídeo nas redes sociais, com mais de 2,4 mil visualizações, mostrando a condição das calçadas da cidade e as dificuldades enfrentadas por quem depende de cadeira de rodas.

Conforme Cetolin, na principal avenida que liga o bairro Montanha ao centro, até os pedestres têm dificuldade de circulação. Segundo ele, o ponto mais crítico fica na ponte ao lado da rodoviária.

Outra dificuldade é em relação ao transporte público. Sempre que precisa usar ônibus, liga para a empresa para saber os horários de circulação dos poucos carros com adaptação para cadeirantes. Porém, alega que por vezes os veículos adaptados estão fora de circulação.

Sistema ineficiente

Para o advogado Adriano Luiz Schwingel, 48, um dos principais motivos para a grande quantidade de carros é a ineficiência do sistema de ônibus. Morador do bairro Altos do Parque, alega que os veículos do transporte coletivo oferecem pouco conforto, além de não ter ar-condicionado e condições de limpeza.

“Para que as pessoas deixem o carro em casa, é preciso ônibus em condições.”

Já o taxista Mário Jommertz, 38, acredita que a prioridade dada aos carros faz com que algumas ruas tenham boa fluidez, mas poucos locais para a travessia de pedestres.

Ressalta que a segurança na vias melhorou com as mudanças realizadas nos últimos quatro anos, mas lembra que os motoristas precisam fazer mais voltas para chegar aos destinos devido ao aumento de mão única. Conforme Jommertz, além do excesso de carros, a falta de preparo dos motoristas é o principal problema do trânsito.

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