A casa onde mora Cristiano Mateus Soares, 39 anos, o “Bilé”, lembra um pequeno “bunker”. Paredes reforçadas com placas de metal e aço, janelas protegidas por muros de tijolo e concreto, e grades antifurto improvisadas com espetos e facas provam que ele vivia sob forte ameaça. Na madrugada de ontem, todo o aparato de segurança foi inútil diante da força do quinto atentado movido contra ele nos últimos meses.
Bilé, que cumpre pena no regime semiaberto no Presídio Estadual de Lajeado por tráfico de drogas, escapou do atentado. Dois comparsas que – supostamente – faziam a segurança dele morreram na explosão de uma granada. Um deles, menor de idade.
Alessandro Ribeiro, 17, e Ethierry Roberto de Couto, 21, estavam junto com Bilé em um quarto no andar superior da residência localizada na rua Marechal Deodoro, no bairro Centro.
Por volta da 1h, o portão de ferro da garagem, que também era protegido com barras de ferro, foi derrubado por um veículo. Por uma pequena passagem aberta com o choque do carro, o criminoso teria subido as escadas e, por uma fresta na porta, lançado uma granada – ou outro artefato explosivo – em direção ao quarto onde estavam os três.
A explosão matou os dois comparsas. Bilé ficou ferido com estilhaços na perna direita, mas sem gravidade. Um pouco antes da explosão, moradores vizinhos escutaram uma intensa troca de tiros. Mas ninguém teria sido alvejado, conforme primeiras investigações da Polícia Civil (PC), coordenadas pelo delegado Juliano Stobbe.
Minutos depois, os invasores deixaram o local e a polícia chegou. Ferido, Bilé acabou preso em flagrante por posse de entorpecente e de arma de fogo de uso restrito e receptação. Com ele, os policiais apreenderam uma espingarda calibre 12 com registro de furto, nove munições calibre 12, um estojo calibre 12, 11 estojos calibre 9 mm, 11 munições calibre 9 mm e um colete à prova de bala. Também foram encontrados cerca de 15g de maconha e 8,6 g de cocaína. O Instituto Geral de Perícias (IGP) esteve no local para os levantamentos.
Porta que era protegida com barras de ferro foi derrubada antes dos criminosos lançarem uma granada na casa
Medicado e preso
Bilé foi medicado e depois conduzido ao presídio de Lajeado. Lá, já cumpria pena no regime semiaberto por crime de tráfico de drogas. Agora, de acordo com o juiz da comarca, Luís Antônio de Abreu Johnson, ele será transferido para uma casa prisional distante da cidade. Isso porque agentes penitenciários temem novo ataque.
“Já decretei a prisão preventiva. Ele será transferido para um presídio distante. Não sei qual, mas bem distante, porque, além de ele estar em meio a uma guerra de facções, está colocando em risco a sociedade lajeadense. Talvez até o início da próxima manhã (hoje) ele seja transferido para outra casa prisional.”
Foi o quinto atentado contra Bilé desde dezembro de 2015. Naquele mês, ele e o irmão foram vítimas de uma tentativa de homicídio no horário de saída dos presos do semiaberto. Mais de 20 disparos de fuzil e 9mm foram efetuados. Ambos escaparam. Em novembro de 2016, Bilé foi baleado em Estrela, após o carro onde estava ser alvejado por mais de 30 disparos em frente à Lupus Land.
As últimas tentativas aconteceram em um intervalo inferior a 30 dias. Em dezembro, a Brigada Militar evitou que quatro homens encontrassem o preso na saída do presídio. Já na quarta passada, ele escapou ileso após atentado em frente ao depósito do Detran.Outro homicídio
Na tarde de domingo, um homem foi morto no Santo Antônio. Conforme a polícia, Fabrício Júnior da Silva de Moura, 25, estava em uma praça na rua Eugênia Christ. Um homem se aproximou e efetuou seis disparos. A vítima, mesmo baleada, correu. Durante a fuga, foi atropelada por um Peugeot Hatch, branco.
Quase seis horas depois, dois homens ficaram feridos em um tiroteio na rua General Osório, no Centro. Otávio Augusto de Almeida, 20, foi baleado na cabeça. Um outro jovem que passava pelo local de bicicleta foi atingido de raspão.
Disputa entre traficantes
O delegado Stobbe crê em ligação entre todas as ocorrências registradas desde a tarde de domingo. O homem morto no Santo Antônio seria inimigo de Bilé, e o atentado que resultou em duas mortes seria uma represália a esse assassinato. “A primeira vítima tinha antecedentes. E era inimiga de outros grupos ligados ao tráfico. Possivelmente participou de outro tiroteio em Lajeado.”
Stobbe admite a possível relação com facções iniciadas em Porto Alegre e alastradas pelo interior. “Trabalhamos com essa hipótese. O tráfico é muito lucrativo aqui, há muitos usuários. E isso chama a atenção.” Por fim, garante que os crimes são prioridade para a PC. “Apesar da voz popular dizer que as vítimas mereciam morrer, nos não trabalhamos pela condição da vítima, e sim pelo fato.”
