O desconforto do aumento da temperatura no verão chega aos extremos na área central da cidade. A concentração de prédios, a prevalência de ruas asfaltadas e a circulação de veículos provocam um fenômeno chamado “ilha de calor urbano”.
Professora da rede estadual, Camila Cogu dos Santos morou em Boqueirão do Leão e Venâncio Aires antes de se mudar para Lajeado. Segundo ela, a sensação de abafamento no centro da maior cidade do Vale é incomparável.
Conforme Camila, no bairro Montanha, onde mora, a sensação térmica é menor devido à arborização. “A única forma de reduzir a sensação de calor é por meio do plantio de árvores.”
A opinião é compartilhada pelo consultor de Marketing Rafael Mantovani. Nascido e criado em Lajeado, critica a falta de planejamento e de preservação do ambiente na cidade. “Continuamos afogando as pessoas em um mar escaldante de piche, sem sombra e sem vento.”
Natural de Putinga, a estudante da Univates Tuanny Rabaiolli Ramos mora em Lajeado faz três anos, e afirma que a diferença entre as duas cidades chega a 5 ºC. Segundo ela, a diferença é perceptível no uso do ar-condicionado. “Em Putinga, poucos têm, enquanto aqui não dá para viver sem.”
Estudo publicado em novembro de 2016 pela Universidade Freie, de Berlim, comprova o resultado do crescimento urbano desordenado no aumento da temperatura. Conforme a pesquisa, materiais como asfalto e concreto têm alta capacidade para absorver e irradiar a energia térmica.
Durante o dia, o calor fica armazenado nas superfícies. Depois do pôr-do-sol, a energia é devolvida em forma de ondas para a atmosfera, mantendo a sensação térmica elevada mesmo durante a noite.
Outro fator que contribui para o aquecimento é o calor liberado por escapamentos de veículos e chaminés industriais. De acordo com o estudo, a concentração de prédios também reduz a circulação de vento. Juntos, esses fatores são capazes de ampliar a temperatura em até 10 ºC no auge do verão.
Calor – hoje
Vegetação traz alívio
Em meio a construções opulentas de concreto e vidro, um prédio na travessa Pedro Kreutz, no centro de Lajeado, chama a atenção. Segue um modelo inverso. Toda coberta por trepadeiras, a moradia foi construída pela educadora aposentada Carolina Facine Emmerdörfer, 79.
Inspirada em edificações da Alemanha e Suíça, Carolina iniciou a obra em 1993. “Foi muito difícil, porque no início os trabalhadores não entendiam o conceito”, lembra. Segundo ela, além de proporcionar uma temperatura menor, a cobertura vegetal muda de cor ao longo do ano, trazendo beleza para o edifício.
De acordo com a aposentada, no verão, a frente do imóvel se torna refúgio para pessoas que aguardam parentes durante consultas no Hospital Bruno Born.
Apesar da sensação térmica agradável, Carolina ouve reclamações de vizinhos por causa das folhas que caem do prédio e das árvores da rua. “Eu sempre digo que é melhor ter folhas no chão do que cimento.”
O estudo da universidade Freie comprova a redução de calor nas áreas com mais vegetação. As plantas são responsáveis por diminuir o impacto dos raios solares no solo. Ao mesmo tempo, aumentam a umidade da atmosfera e ajudam a reduzir os índices de poluição.
Imobilidade – amanhaã
Futuro preocupa
Moradora de Lajeado desde 1983, a aposentada está preocupada com o futuro da cidade. Segundo ela, a arborização diminui e a vegetação está sendo substituída pelo asfalto e estruturas de concreto.
Para Carolina, a redução das áreas verdes é resultado da ganância e do individualismo, aliados à falta de visão para o futuro.
Ela compara a Júlio de Castilhos, principal rua comercial da cidade, com a Marechal Floriano, mais importante via do comércio de Santa Cruz do Sul. Enquanto em Lajeado o número de árvores é mínimo, no município do Vale do Rio Pardo um túnel verde traz alívio térmico, além de proporcionar uma paisagem mais agradável.
