As dificuldades enfrentadas pelo setor lácteo gaúcho levaram mais de uma dezena de líderes à audiência com o secretário estadual da Agricultura, Ernani Polo. No encontro de uma hora e meia, a presidente do Codevat, Cintia Agostini, entregou um documento em que expõe os efeitos negativos que a redução dos créditos presumidos causará, caso o projeto em tramitação na Assembleia Legislativa seja aprovado. Serão atingidos, principalmente, o setor leiteiro e as demais cadeias produtivas mantidas pelas cooperativas.
No estado, a estimativa de prejuízos só na cadeia leiteira é de R$ 240 milhões. A perda de competitividade se ampliará, ainda mais com o custo logístico do RS, 10% maior do que no restante do país.
Para o presidente da Languiru, Dirceu Bayer, as cooperativas já não suportam a concorrência “desleal” de multinacionais favorecidas com incentivos fiscais e sem os mesmos compromissos com a sustentabilidade do setor.
O vice-presidente da Cosuel, Pascoal Bertoldi, foi enfático em relação às importações de leite: “A redução de impostos por meio de decreto datado de setembro de 2016 foi o principal causador desse desmantelamento”. Pascoal alertou para os graves prejuízos causados aos produtores, cooperativas e setores dependentes, algo que se ampliará com o possível fim dos créditos presumidos. “Isso causará danos irreparáveis à economia e inviabilizará as cooperativas.”
O secretário de Agricultura de Estrela, também produtor de leite, Adão Braun, relatou o assédio de uma multinacional para contratar produtores, hoje vinculados às cooperativas. Salientou a importância de o secretário liderar uma articulação que crie o ordenamento do setor.
Polo reconheceu a importância de manter os créditos fiscais para o setor produtivo. Informou que existe uma pressão na Secretaria Estadual da Fazenda para limitar os incentivos fiscais, mas garantiu ser contrário à retirada desse incentivo ao setor produtivo.
Sobre a importação de leite, empurrou o problema à política nacional, mas informou haver um movimento dentro do governo gaúcho para tarifá-la.
IGL também foi pauta
Além dos créditos presumidos, importação de leite e incentivos fiscais às multinacionais, o grupo do Vale expôs a importância e legitimidade do Instituto Gaúcho do Leite (IGL), para a articulação da cadeia leiteira, especialmente no que tange os pequenos produtores e agroindústrias.
Polo se disse favorável. “Meu desejo é que haja um entendimento no setor. A dificuldade está no grande número de entidades que congregam o instituto”, comentou. Para ele, o IGL deve ser mais enxuto e agregar quem está disposto. Sugeriu ao grupo continuar empenhado na melhoria e reestruturação da entidade. “Quem sabe da dificuldade surge o fortalecimento e novas estratégias.”
Polo ainda admitiu que o convênio com o FundoLeite pode ser retomado se haver unidade e interesse dos setores envolvidos. “Nada impede”, resumiu.
Avaliação
A maioria do grupo saiu satisfeita com a diplomacia e franqueza de Polo. “Quero acreditar que o secretário foi sincero”, disse o presidente da CIC, Ito Lanius, referindo-se ao apoio manifestado pelo representante estadual.
Sem objeções, Polo foi político, e prometeu empenho nas reivindicações. Sugeriu pressão junto aos deputados e órgãos competentes para a evolução dos pleitos apresentados. Se disse sensível aos apelos e mencionou sua trajetória de filho de agricultores.
Cintia também avaliou como positiva a reunião, mas salienta que a agenda não termina. O próximo encontro será com o vice-governador, José Augusto Cairoli, conforme promessa feita por ele durante recente reunião-almoço na Acil. Igualmente serão agendadas visitas aos deputados estaduais da base aliada e da oposição, para tratar dos mesmos temas.