Litoral vira escritório para empresários da região

Vale do Taquari

Litoral vira escritório para empresários da região

Enquanto a maioria dos visitantes aproveita as praias do litoral norte para descansar à beira-mar, outros tantos fazem do local das férias um ponto de negócios e empreendedorismo. Construtores e vendedores apostam suas fichas em um público seletivo, cuja demanda costuma perdurar por cerca de cinco meses por ano

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“Eu cansei de ser sempre o primeiro e o último a sair da empresa. Era muito estressante. Agora, eu me dei o direito de ficar boa parte do meu tempo de trabalho usando chinelo, próximo à praia, e dormindo uma hora a mais todos os dias”.

O relato do empresário, Sérgio Reiter, 66, casado faz 38 e pai de três filhos, resume o sentimento e o sonho de muitos trabalhadores. Ele o tornou realidade após dar o primeiro passo, entre 1994 e 1995.

Morador de Lajeado durante oito meses do ano, entre março e o fim de outubro, Reiter conheceu a orla da Praia Real – um balneário que pertence ao município de Torres – em 1989. Se apaixonou pela calmaria do local e construiu uma residência para receber a família e amigos.

Ele literalmente sempre se sentiu em casa. “Tu chuta uma moita e sai algum morador de Lajeado”, brinca. O balneário, que tem mais de 20 quadras de orla, é conhecido como a “praia dos lajeadenses”.

Naquele fim de década de 1980, Reiter ainda era proprietário de uma olaria, vendida após a aposentadoria. Pouco tempo depois, resolveu investir naquilo que mudaria os rumos da vida. “Comecei a investir em construções. Fui construindo uma coisa aqui outra ali. E então decidi apostar no litoral”, conta.

Hoje, o que parecia quase um hobby consome quase metade do ano de Sérgio. Ele construiu e vendeu quatro sobrados na rua D, quase esquina com a rua Quatro, a pouco mais de três quadras do mar. Um dos imóveis foi comprado pela atual prefeita de Mato Leitão, Carmem Goerck.

Os demais foram vendidos para moradores de Morro Reuter e Sobradinho. Já na casa ao lado do conjunto de imóveis construídos por Reiter, veraneia o ex-candidato a prefeito de Estrela, Aloísio Mallmann. “Eu conheço todo mundo”, brinca.

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Renda fixa no verão

Após vender os quatro primeiros sobrados, Reiter não parou. “Resolvi investir em algo que pudesse transformar em renda contínua. Então construi seis apartamentos, e hoje coloco eles para alugar. Venho para cá em novembro, e fico até fim de março tocando as coisas aqui na praia”, comemora.

Não é só isso. Reiter voltou a investir em novos imóveis e construiu outros seis sobrados. Em vez de vendê-los, resolveu alugar. “No verão é muito difícil ficar algum imóvel disponível. Está quase sempre lotado. E durante o ano, principalmente durante os feriados, é comum alugar para famílias que já conhecem e já ficaram nos sobrados”, conta.

A média da diária cobrada por Reiter fica em R$ 220 para um sobrado ou apartamento com três quartos. Já um imóvel com dois quartos pode ficar por R$ 80 por dia, dependendo, por vezes, do número de pessoas que ficarão no local. “É um preço que está razoável”, comenta.

Percalços no negócio

Nem tudo é “mar azul” na vida litorânea de Reiter. Hoje ele também segue construindo imóveis em Lajeado. E é por manter negócios semelhantes no Vale do Taquari e no litoral gaúcho que tem experiência para comparar o mercado de trabalho de ambos os locais.

“Aqui, o terreno acaba ficando mais barato, assim como a compra do material necessário para a construção. Mas o grande problema é a falta de mão de obra. Praticamente não há. E, quando acho, não é muito qualificada. Quase sempre, preciso custear a vinda de trabalhadores de Lajeado para cá, são mais caprichosos. E isso acaba onerando a obra.”

Segundo Reiter, um terreno na Praia Real varia de preço de acordo com a distância da área e do mar. Há exemplos de imóveis por R$ 60 mil, e alguns podem chegar a até R$ 200 mil, dependendo também do tamanho.

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Susto no litoral

Reiter estava no balneário no fim de outubro quando uma forte ressaca invadiu quase todo o litoral norte, causando série de destruições e prejuízos, principalmente na orla. “Foi um grande susto. A água parecia que ia invadir toda praia. Chegou a invadir algumas casas. Foi um grande volume, um grande susto.”

O empresário estava na praia a trabalho. Como de praxe, havia levado pintores e outros funcionários para pequenas obras de manutenção em alguns apartamentos já previamente alugados naquela época. Hoje, todos os 12 estão locados.

Mesmo com o susto e a maré atípica, Reiter garante que nada o fará abandonar a vida de “bicuíra”, nome dado aos moradores nativos dos balneários gaúchos. “Já estou acostumado a trabalhar de chinelo, dormir um pouco mais do que o normal. E sempre que estou um pouco estressado, dou uma voltinha na beira do mar e logo passa”, resume.

Aposta só no Verão

A empresária Luciana Fritsch, 36, nascida em Porto Alegre, mas radicada faz 15 anos em Estrela, aposta – junto da irmã Vivian Tessari – em um negócio diferente. Ambas compraram um contêiner adaptado e instalaram uma franquia de bolsas da marca Nicole Lee, na av. Central do balneário de Atlântida, em Xangrilá.

O ponto fica no mesmo local onde funcionava a boate Rock Point, famosa na década de 1990 e início dos anos 2000. Ao lado, dezenas de food trucks e outras lojas conceitos transformaram a área em um dos picos de maior movimento de jovens durante o verão no litoral norte.

“A ideia surgiu como forma de unirmos trabalho e praia. Eu fico durante a semana em Estrela, e venho para cá sábado e domingo, onde trabalho durante a tarde, apenas. Pela manhã, costumo aproveitar o mar”, conta.

Além de pagar pelo conteinêr, as irmãs precisaram investir na adequação do ponto. “Como se trata de uma franquia de marca norte-americana, eles nos cobram uma série de detalhes. Na sexta-feira, uma equipe de inspeção pessoal de São Paulo veio aqui analisar”, comenta a empresária.

As irmãs ficam no local até o fim do Carnaval, agendado para o último dia do mês de fevereiro. Após, pretendem levar o contêiner e a loja “móvel” para Lajeado, para dar seguimento ao negócio iniciado como uma séria aventura de verão. “Esperamos que dê certo, tanto aqui como em Lajeado”, finaliza.

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