Engenho: um esgoto disfarçado de arroio

Lajeado

Engenho: um esgoto disfarçado de arroio

Um dos pontos turísticos da cidade, o Parque do Engenho sofre as consequências do descaso com o arroio que dá nome ao local.

Engenho: um esgoto disfarçado de arroio
Lajeado

O eletricista Rodrigo Amann, 32, se preparava para caminhar ao redor da lagoa que embeleza o Parque do Engenho quando sentiu o mau cheiro que exalava no local. Desde sexta-feira, peixes mortos aparecem no leito do lago devido à falta de oxigênio na água.

Segundo Amann, os animais estavam espalhados por toda a extensão do lago. “Eram peixes de diferentes tamanhos e espécies, inclusive alguns pintados bem grandes”, lembra. Morador das proximidades, Amann contatou a administração municipal para relatar o fato.

A explicação dada pelo poder público é de que as mortes foram decorrência da ausência de uma máquina responsável por fazer a água circular no local, renovando assim as reservas de oxigênio. Faz quatro meses que esse equipamento está estragado.

De acordo com o eletricista, antes da instalação da bomba, o oxigênio para o peixes era assegurado por meio de uma mangueira que depositava água limpa no lago. “Se querem ter um cativeiro para os bichos, é preciso cuidar, não pode deixar morrer”, critica.

Conforme a bióloga Diana Kunzel, o calor dos últimos dias foi um dos fatores determinantes para a mortandade. Segundo ela, esse tipo de situação ocorre mais facilmente no verão devido à redução da vazão dos mananciais e da proliferação de algas e bactérias.

De acordo com Diana, os peixes precisam de água pura para viver e qualquer alteração nos índices de oxigênio causa problemas. Segundo ela, a poluição no Arroio Engenho é resultado principalmente de dejetos domésticos e de pequenas indústrias.

PrintPoluição coberta

Segundo a bióloga, os problemas com a poluição fazem parte da história do manancial. Lembra que nos anos 70 foram iniciadas as obras de canalização e cobertura do arroio devido ao mau cheiro. “Não tratamos a causa, apenas escondemos o problema.”

Para ela, o Arroio Engenho deveria ser despoluído e recuperado devido à sua importância ambiental e histórica. Lembra que o parque era um ponto de encontro tradicional de Lajeado e foi o local onde a cidade começou a ser construída.

De acordo com Diana, boa parte dos problemas do curso d’água é causada pela falta de esgotamento sanitário residencial. Lembra que a Corsan e os municípios fazem poucos investimentos no setor. O índice de residências com tratamento de esgoto em Lajeado é de menos de 1%.

“Estamos matando todos os nossos arroios e pouco se faz para resolver. No caso do Engenho, essa água desemboca no Rio Taquari”, alerta.

Lago no parque exala mau cheiro. Água tem altos índices de poluição

Lago no parque exala mau cheiro. Água tem altos índices de poluição

Voluntários contra o desleixo

Coordenador do Projeto Viva o Taquari Vivo, Gilberto Soares afirma que o Arroio Engenho é uma das principais preocupações dos voluntários da ONG. Para ele, o desleixo com os rios não parte apenas do poder público, mas de toda a sociedade.

“Estamos comprometendo o bem mais importante de todos, que é a água”, afirma. Segundo Soares, o Engenho morreu faz muito tempo e o que sobrou dele se resume a um grande esgoto. Afirma que as cenas vistas em Lajeado são comuns em grandes cidades. Cita como exemplo rios como o Tietê, em São Paulo, e o Arroio Dilúvio, em Porto Alegre.

“Três dos dez rios mais poluídos do país estão no RS”, alerta. Para o coordenador da ONG, a população precisa compreender que a água é a principal matéria-prima para a produção de alimentos que caracteriza a economia da região.

capa_foto-materiaHistória de Lajeado

A edição do A Hora de 13 de novembro de 2010 alertava para a situação do Arroio Engenho. Para historiadores, o Engenho foi responsável pelo início do desenvolvimento do município. Era dele que partia a energia para o funcionamento dos primeiros moinhos. O mais famoso encontrava-se no Parque do Engenho e pertencia a Antônio Fialho de Vargas.

 

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