Agricultores vão às ruas contra mudança no INSS

Vale do Taquari

Agricultores vão às ruas contra mudança no INSS

Proposta obriga contribuição dos produtores

Agricultores vão às ruas contra mudança no INSS
Vale do Taquari

Produtores rurais ocuparam a frente de prédios do INSS pelo RS nessa sexta-feira para protestar contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241. No Vale, em Lajeado, Encantado e Estrela houve manifestações. Mais de 500 pessoas participaram dos atos nas três cidades.

O protesto foi organizado pela Fetag, em parceria com os sindicatos dos Trabalhadores Rurais. As entidades criticam o formato da Reforma da Previdência encaminhado ao Congresso Nacional pelo governo de Michel Temer.

Com palavras de ordem, cartazes e discursos, os agricultores e representantes da classe se posicionaram contrários à idade mínima de 65 anos para se aposentar. Também discordam com a instituição de alíquota individual e obrigatória para agricultores.

Para o presidente regional dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STR), Luciano Carminatti, a PEC não traduz as necessidades da população. “Mais uma vez se transfere a responsabilidade. Não foram os contribuintes que deixaram o país nesta situação. E agora querem que a gente pague a conta.”

Na opinião dele, antes de repassar para os trabalhadores os ônus pelo déficit da Previdência, o governo deveria reduzir os benefícios das classes mais abastadas, como militares de alta patente, políticos e magistrados. “A lei é uma afronta ao produtor. Não condiz com a realidade do campo. A agricultura é uma atividade especial, insalubre e perigosa. Não tem fim de semana, nem férias, faça chuva ou faça sol.”

Conforme o presidente da Fetag, Joel Carlos da Silva, a finalidade dos protestos é mostrar à sociedade que ela precisa reagir e sensibilizar deputados e senadores. “Não são os trabalhadores rurais e urbanos que têm que pagar a conta, mas sim combater a sonegação, os privilégios e, principalmente, fazendo uma reforma no Estado brasileiro, começando pelos municípios, estados e governo federal, bem como auditando a dívida do país.”

Na avaliação dele, as propostas são prejudiciais e negativas para os agricultores. Quem propôs essa reforma não tem conhecimento de como é a vida diária no campo e suas condições de trabalho, acredita. “Desconhecem a importância que eles têm na produção de alimentos”, enfatiza.

Segundo o presidente do STR de Lajeado, Lauro Baum, cada produtor contribui com 2,1% de tudo o que produz, valor que é repassado à Previdência Social. “Em 70% dos municípios no país, a aposentadoria é a principal fonte de renda. Essa mudança desestimula os jovens a ficar na lavoura. Será o fim da agricultura familiar.”

Dados do IBGE mostram que 78,2% dos homens e 70,2% das mulheres começam a exercer a atividade rural antes dos 15 anos. A mulher trabalha cerca de 41 anos e o homem 46 para conseguir se aposentar com direito a receber um salário mínimo pelo INSS.

Carminatti critica Reforma da Previdência proposta pelo governo Temer

Carminatti critica Reforma da Previdência proposta pelo governo Temer

Temor no campo

O agricultor Ismael Kummer, 36, de Roca Sales, discorda das regras apresentadas pelo governo federal. “Todos deveriam contribuir os 12 meses do ano e se aposentar conforme a renda registrada no talão nos últimos dez anos”, sugere.

Kummer repassa até R$ 45 mil por ano para o INSS. “Contribuo com R$ 3,7 mil ao mês e depois receberei só um salário mínimo. Isso é injusto.”

Presidente do STR de Fontoura Xavier, Flávio Taffarel, realça que este é o início do movimento. “Vamos intensificar os protestos. Não podemos deixar uma medida danosa como essa ser aprovada.”

Para ele, é necessário conscientizar a população sobre o impacto negativo da reforma para a maioria da população. “A opinião pública está cedendo. Com esse discurso de crise, de falência das instituições públicas, as pessoas estão aceitando algo prejudicial. Se é para pagar a conta, que todos paguem, não só as classes médias e baixas.”

Proposta avança

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou por 31 votos a 20, na madrugada dessa quinta-feira, a admissibilidade da proposta de Reforma da Previdência.

Esta é foi a primeira etapa da PEC no Congresso. A comissão avalia se a proposta segue os critérios técnicos para ser votada. O próximo passo é criar uma comissão especial na Câmara para analisar o teor da proposta. Essa fase ficou para depois do recesso parlamentar, que se estende até fevereiro.

Previdência: como é e como pode ficar

• Quem será afetado

– Homens com menos de 50 e mulheres com menos de 45 anos.

– Homens com 50 anos ou mais e mulheres com 45 anos ou mais terão uma regra de transição mais suave.

• Idade mínima

Como é hoje: não há idade mínima para a aposentadoria por tempo de contribuição. A exceção é a aposentadoria por idade: 65 anos (homem) e 60 (mulher).

Como pode ficar: quem quiser se aposentar precisará atingir uma idade mínima de 65 anos, tanto homem quanto mulher.

• Tempo de contribuição

Como é hoje: mínimo de 15 anos para quem se aposenta por idade. Quem se aposenta por tempo de contribuição, são 35 anos (homem) e 30 anos (mulher).

Como pode ficar: mínimo para todos: 25 anos (mas para receber 100%, na prática terá de ser 49 anos).

• Cálculo do valor

Como é hoje: depende do tipo de aposentadoria (por idade ou tempo de contribuição) e também do tempo que a pessoa trabalhou. É possível conseguir o valor integral com tempo de contribuição de 35 anos (homem) e 30 anos (mulher), caso se enquadre nas regras do 85/95.

Como pode ficar: quem cumpre os prazos mínimos (65 anos de idade e 25 anos de contribuição) não ganha aposentadoria de 100% de seu salário, mas apenas 76%. Para chegar aos 100%, é preciso trabalhar mais: ganha 1 ponto percentual por ano de trabalho adicional. Para ganhar 100%, será preciso contribuir por 49 anos.

• Pensão por morte

Como é hoje: pode-se acumular pensão por morte e aposentadoria. O valor não pode ser menor do que o salário mínimo. A pensão é 100% do valor da aposentadoria que o morto recebia.

Como pode ficar: o cônjuge terá direito a 50% da aposentadoria que o falecido recebia, com previsão de acréscimo de 10 pontos percentuais por filho dependente. Quando o filho deixa de ser dependente, o cônjuge não acumula o valor adicional. Apenas famílias com cinco filhos receberão 100%.

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