Nos cinco anos abrangidos pela pesquisa, a região recebeu 1,7 mil trabalhadores com formação considerada alta e nove mil com pouca qualificação. No mesmo período, 2,2 mil profissionais com escolaridade elevada deixaram o Vale, contra 5,1 mil com escolaridade baixa.
Presidente do Codevat, Cíntia Agostini Cintia Agostini, diz que a região precisa analisar com cuidados os motivos para a saída das pessoas qualificadas. Segundo ela, os números mostram que o Vale não oferece empregos de qualidade para profissionais com Ensino Superior completo ou oportunidades para empreender.
“Quando falamos em qualidade, abordamos não apenas uma remuneração adequada ao perfil, mas também a valorização do trabalho realizado por essa mão de obra qualificada”, ressalta. Cíntia defende maior incentivo ao empreendedorismo e à inovação para manter esses profissionais no Vale.
“Quem uma lógica mais inovadora ainda tem dificuldade de se estabelecer aqui porque a região tem características interioranas e ainda está distante dos centros tecnológicos e culturais”, afirma. Outra questão é a menor disponibilidade de opções culturais, de lazer e de conexão com as tendências internacionais.
Segundo ela, a própria região precisa oferecer os elementos almejados por essa população e que hoje estão disponíveis apenas nos grandes centros.
Mercado tecnológico
Natural de Colinas, o profissional de Tecnologia da Informação, Rodrigo Gattermann completou o curso superior na área na Univates em 2013. Logo depois da formatura, se mudou para Porto Alegre em busca de oportunidade de trabalho, para continuar os estudo, além de eventos e trocas de experiências com as comunidades de tecnologia.
“Na época, via que Lajeado já não supria a necessidade de negócio e de remuneração na área”, aponta. Segundo ele, o mercado de TI melhorou na região com os eventos voltados para a tecnologia e suas metodologias, quase inexistentes poucos anos atrás.
Mesmo assim, considera que as oportunidades de trabalho ainda precisam evoluir, principalmente em termos de remuneração.
Avalia que o avanço dos trabalhos remotos pode representar oportunidades de free lance para profissionais da área, algo ainda raro na região. Para ele, a chave para melhorar o mercado de trabalho do setor no Vale é por meio de eventos para a área, da criação de redes de contatos e de mais divulgação.
Para a presidente do Codevat, as entidades regionais precisam elaborar um diagnóstico do que o Vale necessita e firmar parcerias com as instituições de ensino a fim de formar pessoas com as características desejadas.
Ressalta que tanto Univates quanto a Uergs e a La Salle criaram estruturas voltadas para o fomento ao empreendedorismo. Destaca ainda a iniciativa do Tecnovates. Para Cíntia, tais iniciativas já começam a alterar o cenário regional.

O carioca Leonardo Alcântara conheceu a lajeadense Raquel Sbaraini em Buenos Aires. Eles escolheram Lajeado para constituir a família
Trabalho e qualidade de vida
Cíntia afirma que a imigração para o Vale pode ser explicada pela oferta de trabalho na indústria e no comércio, além dos serviços públicos de qualidade. “São questões que atraem principalmente a população com menor renda.”
Foram esses dois fatores que atraíram a família da industriária Maria Dutra da Silva, 49. Ela saiu de Palmitinhos, oeste de Santa Catarina para morar em Lajeado com o marido e o filho faz 17 anos. “Escolhemos por ser uma cidade produtiva, com boas oportunidades de trabalho e uma população acolhedora.”
A família de Maria trabalhava com agricultura antes de se mudar para o Vale do Taquari. Em Lajeado, ela conseguiu emprego em três locais diferentes. Com Ensino Médio completo, hoje trabalha em uma indústria alimentícia. “Meu marido se tornou empreendedor e meu filho, taxista.”
Natural do Rio de Janeiro, o cozinheiro Leonardo Alcântara, 32, escolheu Lajeado para constituir família. Formado no Instituto de Gastronomia de Porto Alegre, conheceu a lajeadense Raquel Sbaraine durante um período em que morou em Buenos Aires, na Argentina.
Em 2012, ele e Raquel decidiram se mudar para o município. No início, Alcântara teve dificuldades de adaptação. “Eu sentia falta da vida cultural que uma cidade grande oferece, além dos problemas com o transporte público e a falta de ciclovias.”
Segundo ele, as opções na área da cultura evoluíram nos últimos anos, e a cidade oferece vantagens, como um trânsito mais tranquilo e menos violência na comparação com as metrópoles. “Também tive dificuldade para encontrar emprego.”
Para Alcântara, a região é um local de oportunidades crescentes e oferece boa qualidade de vida para a família. Outro ponto positivo é a proximidade com Porto Alegre, uma vez que a a Capital oferece as mesmas opções das grandes cidades do centro do país.