Dor da Despedida

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Dor da Despedida

Velório coletivo neste sábado começa por volta das 9h e atrai milhares à Arena Condá

Dor da Despedida
Brasil

Em seus sete anos de vida, Thaís Reis, só acompanhou vitórias do seu time do coração. Frequentadora fiel dos jogos do Chapecoense, na Arena Condá, hoje ela entra no estádio não para ver gols e para comemorar, mas para se despedir dos ídolos.

Cerca de cem mil pessoas são esperadas para o velório coletivo, marcado para este sábado, a partir das 9h. Assim como Thaís, elas darão o último adeus às vítimas. Com exceção de Follmann, Neto e Alan Ruschel, únicos sobreviventes da delegação da Chape, os demais foram vítimas do desastre aéreo que comoveu o mundo. O momento de despedida não será fácil, adianta o pai de Thaís, Arno Reis, 42, que tem familiares em Lajeado.

O clima de consternação na cidade de 200 mil habitantes trouxe tristeza a pequena torcedora. “Está abatida. Sentiu mais do que eu.” Em sua imaginação infantil, não acredita nas mortes. O goleiro Danilo apenas teria desmaiado.

“Para mim também não caiu a ficha”, admite o pai de Thaís. Ele foi o principal incentivador da filha a torcer pelo clube. Sócio da Chapecoense faz dois anos, preparava-se para a grande final, em Curitiba. “Íamos a praticamente todos os jogos aqui, mas esta seria a primeira vez fora de Chapecó.”

Os planos deixados para trás, são como a convivência com as vítimas. Encontrava os atletas quase todos os dias, fosse na escola, no mercado, no trabalho ou mesmo no estádio. “Parece que tudo se foi, acabou. Mas acho que ainda chegará o momento em que vamos nos reerguer e dar a volta por cima.”

Colombianos lotaram ruas e prestaram mais homenagens às vítimas da tragédia que impactou o mundo. Quatro aviões com os corpos saíram de Medellín nessa sexta-feira. Na quarta, no horário em que deveria ocorrer o jogo, torcida do Atlético Nacional lotou o estádio. Clube abriu mão da disputa do título e pede à Conmebol para sagrar a Chapecoense  vencedora da competição.

Colombianos lotaram ruas e prestaram mais homenagens às vítimas da tragédia que impactou o mundo. Quatro aviões com os corpos saíram de Medellín nessa sexta-feira. Na quarta, no horário em que deveria ocorrer o jogo, torcida do Atlético Nacional lotou o estádio. Clube abriu mão da disputa do título e pede à Conmebol para sagrar a Chapecoense vencedora da competição.

“Não quero ver”

Giancarlo Ziero, 53, recusa-se a participar deste momento. Sócio do clube, frequentava todos os jogos. Chegou a ir a Buenos Aires ver o time jogar contra o River Plate. “Era motivo de orgulho pra nós, para toda a cidade.”

Natural de Santa Maria, ele era torcedor do Grêmio, mas a fase do Chapecoense o levou a vestir o verde e branco. Em 2007, Ziero foi advogado do clube e mantinha relações de amizade com várias vítimas, como Jandir Bordignon. “Jogávamos bola duas vezes por semana.”

A notícia do acidente chegou às 4h da manhã dessa terça-feira. Arrasadora, o deixou perplexo. Ontem à tarde, em conversa com a reportagem por telefone, ele chorou diversas vezes. “Eu estava acostumado a ir lá assistir futebol. A ir lá ver meu pessoal entrando em campo pra jogar, e amanhã estarão todos nos caixões. Não quero ver. É muito duro.”

Jornalista do Vale acompanha sofrimento

O repórter do Grupo Independente, Ricardo Sander, está em Chapecó desde quarta-feira. Ele faz a cobertura jornalística do fato, e acompanhou a consternação da cidade nesta semana. Entrevistou ex-jogadores do clube, ex-técnicos e atletas que não viajaram.

Na noite daquele dia, acompanhou um dos momentos mais emocionantes, quando foi feita uma das primeiras homenagens no estádio.

Ele conta que o clima da cidade está carregado. As pessoas evitam sorrir. É notória a ansiedade pela chegada dos corpos. “É um sofrimento que antecede o outro. O primeiro da espera, e o que está por vir, com o velório.”

As famílias das vítimas recebem atenção especial. Seja da direção do clube, dos amigos e da própria comunidade. A maioria dos parentes dos mortos chegou nessa sexta-feira. Foram destinados profissionais de saúde, como psicólogos e médicos, para acompanhá-los.

“Algumas pessoas até desmaiaram. O sofrimento é estendido, pelos corpos ainda não terem chegado.” Profissionais de imprensa também se comoveram com o acidente, devido a morte de colegas a parentes. “Teve um radialista que precisou anunciar a queda do avião em uma rádio local. O irmão dele estava junto. Então foi muito triste.”

Há pessoas acampadas na lateral do estádio desde terça-feira. Elas rezam e choram em uma espécie de mural montado na parte externa. Fotos, cartazes, flores e velas homenageiam os atletas e a comissão técnica.

PrintCadú será velado em Venâncio Aires

Uma das vítimas do acidente aéreo, diretor de futebol do Chapecoense, Eduardo Luis Preuss, o Cadú, será velado na Câmara de Vereadores de Venâncio Aires. A previsão de chegada é por volta das 21h. Antes, a cerimônia de despedida ocorrerá na Arena Condá.

Foi jogador do Guarani (VA) e hoje integrava a diretoria da equipe catarinense. Na Capital do Chimarrão, Cadú foi formado nas categorias de base do rubro-negro e, ao lado de Éder Lazzari, fechou o meio-campo da equipe na campanha vitoriosa de 2002.

Passou pelo 15 de Novembro, Ulbra e pela própria Chapecoense. Na equipe catarinense, encerrou sua carreira em 2010, aos 29 anos.

Líder e capitão do time, foi convidado a assumir a função de diretor de futebol, que desempenhava até então. Foi um dos maiores responsáveis pelo crescimento do time.

O exemplo que  vem da Colômbia

Nessa quarta-feira, no horário previsto para o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana, o Clube Atlético Nacional, de Medellín, torcedores e autoridades colombiana homenagearam os mortos na tragédia.

Reunidos no estádio Atanásio Girardot, cerca de 45 mil colombianos acenderam velas em memória das vítimas. Fizeram um minuto de silêncio e escutaram o Exército do país tocar os hinos colombiano e brasileiro.

Os jogadores do Atlético então entraram em campo. Mesmo sem a presença dos adversários, puderam os sentir por perto. O nome de cada um foi anunciado no estádio. Os demais mortos no acidente também foram citados.

Pétalas de rosa, e flores brancas foram jogadas ao gramado, por um helicóptero e pelos próprios torcedores. A noite foi encerrada com a apresentação da Orquestra de Medellín. Discursos consolaram aqueles que ficaram.

Havia pessoas também do lado de fora do estádio. Nas ruas, o famoso “Vamos, vamos, Chape!” era entoado por torcedores do Atlético. Com faixas e cartazes eles expressavam o desejo de tornar a copa imortal.

Um novo pedido para que a Conmebol dê o título de campeão ao Chapecoense foi feito pelo Atlético. Membros do clube chegaram a anunciar que, caso o pedido não seja aceito, irão orientar o time para perder o jogo.

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Relembre a tragédia

O avião da companhia boliviana Lamia que transportava 77 pessoas para a final da Copa Sul- Americana, em Medellín, caiu nas proximidades da cidade de La Ceja, na Colômbia. O acidente ocorreu por volta das 0h30min de terça-feira, e causou a morte de 71 pessoas. A maior parte delas, jogadores e integrantes da comissão técnica do Chapecoense e membros da imprensa brasileira. Seis pessoas, dentre elas três jogadores, foram resgatados com vida. A viagem era feita num voo fretado. Dados iniciam da investigação apontam que a causa da queda foi falta de combustível na aeronave.

 

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