Omar Ferri recebe comenda do Senado

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Omar Ferri recebe comenda do Senado

Advogado será reconhecido pela defesa dos direitos humanos na época da ditadura

Omar Ferri recebe comenda do Senado
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O advogado aposentado, Omar Ferri, 83, natural de Encantado, receberá a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara. A honraria será concedida pelo Senado Federal, na terça-feira, às 11h, a cinco personalidades que tenham contribuído, de forma relevante, à defesa dos direitos humanos no Brasil.

A indicação para o prêmio anual partiu do senador Lasier Martins que, na época de jornalista, acompanhou a trajetória de Ferri. Hoje residente em Porto Alegre, o advogado é reconhecido pela luta em favor de presos políticos processados ou perseguidos durante a ditadura militar.

“Eu fico muito contente, muito satisfeito, gratificado, a minha família também. Foi um período muito ruim. Sofremos bastante”, conta. Ferri foi responsável pela elucidação de um dos casos mais emblemáticos da ditadura no RS: o sequestro dos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz.

O casal residia em Porto Alegre e era acusado de passar informações da ditadura uruguaia a jornalistas brasileiros. Por meio da Operação Condor, que sistematizou as cooperações entre as ditaduras do Cone Sul, o Departamento de Ordem Politica e Social do Rio Grande do Sul (Dops) e o Exército Uruguai descobriram o paradeiro do casal.

Em novembro de 1978, eles foram presos na capital gaúcha. Sofreram torturas e foram levados ao Uruguai. Após ser chamado por uma organização paulista para ajudar no caso, Ferri iniciou uma investigação e dias depois denunciou o sequestro ao jornal Folha da Tarde.

O caso mobilizou pessoas contrárias à ditadura, como Ferri, a fundar o Movimento de Justiça e Direito Humanos. Por meio da instituição, ele defendeu, gratuitamente, mais de cem pessoas presas pelo governo ditador. Ocupou cargo na diretoria e também foi presidente do movimento.

“Eu achava que a ditadura não poderia permanecer. Eles acusavam as pessoas de crimes que elas nunca tinham cometido, sem nenhuma prova. Eram inocentes torturados porque simplesmente tinham uma ideia contrária”, explica Ferri.

A atitude em defesa dos direitos humanos fez o advogado e a família serem ameaçados e perseguidos pelo Dops. “Numa ocasião, voltei de madrugada para casa e minha família estava em polvorosa. Estavam ligando para eles, dizendo que iriam matar aquele comunista, terrorista, que era eu, no caso.”

Ele também foi alvo de outras situações constrangedoras, mas nada que abalasse seu trabalho. O caso do casal uruguaio rendeu-lhe o livro Sequestro do Cone Sul, publicado em 1981.

Currículo

Omar Ferri nasceu em Encantado no dia 30 de abril de 1933. Morou por 20 anos em Ilópolis. Estudou em Guaporé e Lajeado. Em 1957, formou-se em Direito pela PUC, em Porto Alegre.

Depois, foi eleito vereador em Encantado, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Antes de completar o último ano do mandato, passou em concurso na Fundação Brasil Central. Em 20 de abril de 1964, foi expulso do cargo a mando do general Bolívar Osmar Mascarenhas.

O ato foi um dos primeiros do período ditatorial, e fez Ferri voltar a Encantado. Na cidade, iniciou a defesa de políticos perseguidos pelos militares. Mais tarde, mudou-se para Porto Alegre, onde atuou em mais de cem casos, como o de Lilian e Universindo.

Há cerca de dez anos, deixou o direito, para descansar e aproveitar a família. Porém, alguns casos que se estenderam, ainda são defendidos por Ferri. Aos 83 anos, ele considera que cumpriu seu dever como cidadão, lutando em favor da democracia e da liberdade.

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