Governador enaltece poder de mobilização da comunidade local

Vale do Taquari

Governador enaltece poder de mobilização da comunidade local

José Ivo Sartori recebeu o A Hora no Palácio Piratini. Em bate-papo de 40 minutos, governador falou sobre as perspectivas do Executivo diante das dificuldades econômicas e as possibilidades de investimento em infraestrutura na região. Entre elas, estão parcerias público-privadas para investimentos em rodovias, no Porto de Estrela e a duplicação da BR-386 até Iraí.

Governador enaltece poder de mobilização da comunidade local
Vale do Taquari

O encontro ocorreu na tarde dessa segunda-feira, em meio à polêmica envolvendo o pacote proposto pelo governo para reduzir os gastos. Em frente ao palácio, grupos sindicais protestavam contra a matéria que prevê a extinção e a privatização de órgãos públicos, entre outras medidas de contenção.

A tranquilidade de Sartori contrastava com os gradis colocados em frente ao palácio e à Assembleia Legislativa para impedir a aproximação de manifestantes. As medidas são consideradas por ele a única forma de assegurar um mínimo de sustentabilidade ao Estado. “Como eu não tenho pretensão eleitoral nenhuma, acho que vou conseguir aprovar”.

Descontraído, o governador parabenizou os líderes do Vale responsáveis pela obra do Presídio Feminino de Lajeado. Segundo ele, o momento exige reconhecimento das iniciativas da comunidade. “Lajeado serve de exemplo pelo poder de articulação em torno dessa demanda.”

Sartori se mostrou conhecedor da realidade regional. Disse que o Vale do Taquari tem forte presença econômica devido a uma agropecuária baseada em pequenas propriedades e indústrias de transformação capazes de agregar valor à produção primária.

Para ele, o fato de a região ter reduzido de 4% para 3% a participação no PIB gaúcho tem pouca representatividade. Faz a comparação com Caxias do Sul, cidade onde se lançou na política. Segundo o governador, o município perdeu cerca de 25 mil trabalhadores com a crise, fato que não se verificou no Vale. “Isso mostra que a economia é sólida.”

O governador também falou sobre o momento de disputa ideológica entre as forças políticas no país. Classificando-se como um político de esquerda, apontou a ausência de autocrítica entre os lados conflitantes e criticou o radicalismo expresso nas redes sociais.

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“A hidrovia é a saída para o transporte”

A Hora – As cooperativas estão entre os principais propulsores econômicos do Vale, principalmente no setor de alimentos. Acordos recentes do governo com multinacionais, como a Lactalis, preocupam o setor, em especial no segmento leiteiro. Qual sua avaliação sobre esse cenário?

Sartori – Sabemos que algumas cooperativas gaúchas enfrentam problemas, mas a organização cooperativa melhorou muito no estado nos últimos 20 anos na comparação com o que eu conheci faz 35 anos. Perdemos muitas cooperativas em Caxias do Sul, na área do vinho e da madeira. Isso gerou um ambiente desfavorável, mas não é motivo para susto. Em Israel, conheci muitos kibutz, que são cooperativas de produção das famílias israelitas. Hoje a organização continua coletiva, mas todos são controlados por capital internacional.

Isso não nos coloca em situação de reféns dos grandes investidores estrangeiros?

Sartori – Coloca e não coloca. É investimento novo, agrega tecnologia. Será um avanço porque vamos produzir mais leite do que hoje. Estimula a aumentar a produção. Até porque o produtor de leite, cooperativado ou não, independente do preço do produto, trabalha socialmente quase como um operário. Na colônia, o leite é o único produto que oferece uma renda mensal garantida. As demais culturas dependem da época, do clima, pode não dar certo. Hoje a maior parte da produção leiteira no estado vem das cooperativas.

“A maioria da população é a favor do pacote”

“A maioria da população é a favor do pacote”

O Vale do Taquari busca se consolidar como referência na produção de alimentos e lácteos, da mesma forma como a Serra Gaúcha é referência em uva e vinhos…

Sartori – Não usem a uva e o vinho como exemplo. Hoje, o forte em Caxias do Sul é o hortifruti. Temos uma feira técnica de referência no segmento. Ela nasceu em 2006 e hoje está tão avançada que agrega todos os órgãos técnicos, universidades e tudo o que há de mais moderno no setor. A localidade de Santa Lúcia do Piaí, na divisa com Nova Petrópolis, é a maior produtora de morangos do RS. Lá não se produz mais moranguinhos no chão, tudo na banca e com muito controle em relação aos agrotóxicos.

O pacote de austeridade proposto pelo governo do Estado motiva protestos nas ruas e reações contrárias no parlamento, inclusive em parte da base aliada. O senhor conseguirá aprovar a proposta?

Sartori – A porrada foi grande. O problema é quem vai incentivar os deputados que não querem saber do conjunto e sim das particularidades. Começamos as articulações com a Assembleia. Na semana passada, foi o estouro e nesta semana teremos os protestos dos servidores. São 400 pessoas com mais força que toda a sociedade. Mas a maioria da população é a favor do pacote.

O investimento em infraestrutura rodoviária é uma das principais demandas do Vale do Taquari. Quais as projetos do Estado para essa área e qual o papel que a EGR pode exercer para viabilizar obras de melhorias e duplicações?

Sartori – Nós abrimos algumas possibilidades. Nós poderíamos ter extinguido a EGR, que é do Estado, mas funciona como uma empresa privada, enxuta e sem lucro. Mas ela tem capacidade de administrar o que arrecada. Também fizemos a lei de concessões, que dá condições para a EGR também fazer asfalto. Os maiores problemas que tivemos no RS foram resolvidos pela EGR, como a estrada que ruiu entre Gramado e Três Coroas. Pensávamos que demoraria um ano e meio, foi feita em seis meses pela Giovanella, e foi um belo trabalho.

Em relação aos outros modais de transporte como ferrovias e hidrovias, quais são os planos do governo do Estado? Como fica a situação do Porto de Estrela com a extinção da SPH?

Sartori – A SPH será extinta, mas suas funções serão incorporadas ao Porto de Rio Grande. Não precisa ter duas estruturas. Para nós a hidrovia é a saída para o transporte do RS. Já estamos operando com uma parceria público privada (PPP) com a Celulose Rio Grandense, CMPC. É uma organização chilena. Fizemos um acordo em que o Estado não entrou com nada e eles recuperaram todo o Porto de Pelotas. A obra será concluída dentro de um mês.

A ideia é estabelecer uma PPP no Porto de Estrela?

Sartori – A ideia é colocar Estrela nessa parceria. O Porto de Pelotas estava morto. Tem alguns problemas com a marinha para transportar de noite, mas cada barca dessas tira 400 caminhões das estradas. Pelo acordo que temos, tudo o que sai daqui em tora ou serragem entre Rio Grande e Pelotas deve ser pela hidrovia. Hoje o RS está em segundo lugar no país em transporte por contêiner. Ainda não estamos divulgando muito porque precisamos que dê certo, mas já tem interessados em operar os portos de Estrela, Rio Pardo e Cachoeira do Sul. A saída é arrumar parceiros.

O Estado pode viabilizar um maior aproveitamento das ferrovias?

Sartori – Essa é uma questão que depende da União, pois não temos dinheiro para investir em ferrovias. Além disso, a concessão para a América Latina Logística é federal. Acho que foi uma parceria mal-feita, pois a ferrovia está toda quebrada e o custo do investimento na malha é alto.

Outro gargalo logístico é o fim da duplicação da BR-386. Como estão as articulações com o governo federal para a conclusão dessa obra?

Sartori – Já estamos acertados com a União. Trabalhamos para que siga até a fronteira com Santa Catarina, em Iraí. Pode demorar dez anos, mas temos que fazer. Porque quando você alia uma rodovia federal e uma estadual em uma única concessão é mais interessante para os investidores.

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