Desastre aéreo comove o mundo

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Desastre aéreo comove o mundo

Jogadores nascidos na região choram a morte dos ex-companheiros de clube após desastre aéreo na madrugada de ontem. Equipe viajava para disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana. O acidente matou 71 pessoas, deixou o mundo esportivo de luto e dilacerou famílias. Horas antes, jogadores e dirigentes celebravam o maior momento dos 43 anos de história da Associação Chapecoense de Futebol.

Desastre aéreo comove o mundo
Brasil

“Minha família, meus amigos, onde estão?”. A frase ouvida por um socorrista voluntário resume o estado de choque em que se encontrava o ex-lateral do Internacional de Porto Alegre, Alan Ruschel, um dos cinco sobreviventes da queda do avião da LaMia, matrícula CP2933, que despencou nas montanhas da região metropolitana de Medellín, na Colômbia. Na tragédia, morreram 71 pessoas, entre atletas, dirigentes, tripulantes e jornalistas.

Foi a maior fatalidade aérea com uma equipe de futebol profissional na história. O avião perdeu contato com a torre de controle ao sobrevoar uma região montanhosa no município de La Ceja, no noroeste colombiano. As informações são de que a aeronave sofreu uma falha elétrica, e o piloto teria descartado combustível dando duas grandes voltas no ar antes de tentar pouso forçado. Ao se chocar com o solo, a aeronave se partiu em três pedaços.

Mesmo que tenha acontecido a mais de quatro mil quilômetros de distância do Vale do Taquari, há um forte sentimento de luto na região. Entre 2014, pelos juniores, e 2015, nos profissionais, Lucas Pinna, nascido em Lajeado e filho do ex-jogador do Lajeadense Vandeco, foi companheiro de vestiário da grande maioria das vítimas de ontem.

“Meu filho era o melhor amigo do Bernardo, filho do Dener (lateral-esquerdo morto no acidente), que tem só 2 ‘aninhos’. Era um irmão. Lá em Chapecó, éramos vizinhos e íamos todos os dias juntos aos treinos. Falamos faz poucos dias, e ele me contava da felicidade de estarem realizando um sonho pela equipe”, lamenta o atleta lajeadense, dispensado em setembro da equipe de Chapecó.

Lucas estava bastante abalado na tarde de ontem. Sem clube no momento – ele estuda propostas do Brasiliense e de equipes da Coreia do Sul –, realizava trabalhos de fisioterapia na Arena Alviazul e lembrava momentos vividos em Chapecó com os ex-companheiros de clube.

“O grupo era uma família. Tinha muita amizade com o Bruno Rangel. Com o Danilo, que era muito gente boa. Sempre que tinha aniversário dos filhos, todos se juntavam. O Gil, o Ananias, com quem eu tinha mais convivência. Bah, é um baque muito grande acordar com uma notícia dessas”, se emociona.

O atacante de 22 anos, com passagens também pelos juniores do Grêmio e por clubes como Rondonópolis e RedBull, também é amigo do zagueiro da Chapecoense, Neto, um dos seis sobreviventes (dois tripulantes, um jornalista e três jogadores). “Ele é muito gente boa. E mesmo quem eu não conhecia, são colegas de profissão. Estamos chocados por todos, pelos familiares, principalmente.”

Pinna, em 2015, jogou cinco partidas pelo torneio catarinense e foi relacionado para cinco jogos do campenato brasileiro da Série A. Todos pela equipe profissional. Ele, assim como tantos outros jogadores brasileiros, afirma estar disposto para ajudar no que for preciso. “Eu voltaria agora se me chamassem. A cidade é linda. Aprendi a amar o clube, pelo carinho e respeito que tiveram por mim.”

Arthur e Lucas jogaram na Chapecoense entre 2013 a 2015. Vínculo com colegas de time é destacado por ambos. Amizade do grupo era o ponto forte da equipe, afirmam

Arthur e Lucas jogaram na Chapecoense entre 2013 a 2015. Vínculo com colegas de time é destacado por ambos. Amizade do grupo era o ponto forte da equipe, afirmam

“A Chapecoense morreu”

Em 2013, o ex-jogador da Chapecoense, Arthur Jungkenn, manteve uma relação próxima com pelo menos quatro dos atletas mortos ontem. “A Chapecoense acabou.” Morador de Arroio do Meio, o centroavante conhecido na região como “Cacetinho” atuou na categoria júnior da equipe catarinense e treinou com Bruno Rangel, Danilo, o zagueiro Neto e o lateral-esquerdo Dener.

Três deles estão mortos. Só o zagueiro ainda luta pela vida. Abalado com a notícia, Cacetinho acredita que será difícil o clube recomeçar. “É uma tragédia que abala o clube. Eles vão ter que recomeçar do zero, estão sem presidente, sem dirigentes, sem comissão. Os caras que estavam lá eram bons, davam a vida pela ‘Chape’”, complementa.

O atleta pretende, na próxima semana, passar um período em Chapecó para rever e consolar os ex-colegas de time que não foram relacionados para a viagem. Entre eles, o meia-atacante Hyoran, que não viajou por estar machucado. “É um clube família. O sentimento fala mais alto que o salário. Lá, qualquer jogador que passou sabe, o clube te ama e automaticamente tu vai retribuindo o carinho.”

Avião caiu a cerca de 30 km do aeroporto. Equipe encontrou caixa preta ontem

Avião caiu a cerca de 30 km do aeroporto. Equipe encontrou caixa preta ontem

Venâncio-airense entre os mortos

Entre os 71 mortos confirmados pela empresa aérea responsável pelo voo, está o venâncio-airense, Eduardo Luiz Preuss, 36, o “Cadú”. Ele era o gerente de futebol da Chapecoense, e morreu no local da queda. Formado nas categorias de base do Guarani de Venâncio Aires, onde também atuou pelo profissional, ele se aposentou do futebol atuando como capitão da Chape.

“Eu conhecia muito bem ‘Cadú Gaúcho’. Era quem me dava muita força por lá. Foi, inclusive, quem me subiu dos juniroes para os profissonais. Foi um cara que só me ajudou, muito querido por todos”, lembra Pinna.

Ontem, o governo municipal de Venâncio Aires decretou luto oficial de três dias pela morte de Preuss. Segundo a nota oficial encaminhada à imprensa, “toda a comunidade reconhece a importância e o papel que Cadú teve no esporte da cidade e o desempenho como supervisor da Chapecoense, reconhecido como um dos responsáveis pelo atual estágio da equipe catarinense.”

Luto na imprensa

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, assim como a Federação Nacional dos Jornalistas e outros sindicatos emitiram notas lamentando a queda de avião que matou 21 jornalistas. Entre eles, Victorino Chermont, Paulo Júlio Clement, Giovane Klein Victória e Deva Pascovicci.

Entre os mortos, também está o jornalista gaúcho Laion Espíndula, que era repórter do Globo Esporte e já integrou o Núcleo de Estudantes do sindicato. Os demais atuavam, principalmente, no Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. O jornalista Rafael Valmorbida Henzel, da Rádio Oeste Capital, de Chapecó, é um dos seis sobreviventes.

Tragédias no futebol

4 de maio de 1949, Torino AC: o time voltava de um amistoso em Lisboa. Durante tempestade, a aeronave bateu contra a basílica de Superga, em Turim. Todas as 31 pessoas a bordo morreram. Eram 18 jogadores, comissão técnica, jornalistas e tripulação.

6 de fevereiro de 1958, Manchester United: o avião não conseguiu decolar de Munique, na Alemanha, onde havia parado para reabastecer. A equipe voltava de Belgrado. A aeronave transportava 43 pessoas e bateu em uma casa no fim da pista, matando 23. Entre esses, oito atletas, o técnico e dois dirigentes do clube.

8 de dezembro de 1987, Alianza Lima: todos os jogadores da equipe peruana morreram após o avião cair no Oceano Pacífico, a cerca de 10 quilômetros do aeroporto de Lima, capital do Peru. Só o piloto sobreviveu entre os 54 passageiros e tripulantes.

27 de abril de 1993, seleção da Zâmbia: todos os atletas e dirigentes morreram após o avião militar cair próximo ao aeroporto de Libreville, no Gabão. Eles se deslocavam da Ilhas Maurício para o Senegal. Morreram o presidente, três técnicos e 18 jogadores.

15 de janeiro de 2009, Brasil de Pelotas: o ônibus que transportava os jogadores tombou em um barranco no acesso à RS-471 pela BR-392, em Canguçu. Além do atacante Cláudio Milar, morreram o zagueiro Régis e o preparador de goleiros, Giovani Guimarães.

Vítimas com passagem na dupla Gre-Nal

Mário Sérgio: nascido em 7 de setembro de 1950, atuou pela dupla Gre-Nal. Em 1979, foi tricampeão brasileiro invicto pelo Inter. Quatro anos depois, foi campeão do mundo pelo Grêmio. Também foi técnico e diretor de futebol do tricolor. Viajava para transmitir o jogo como comentarista da Fox Sports.

Caio Júnior: nasceu em Cascavel, no Paraná, em 1965. Era o treinador da Chapecoense e morreu na queda. Ele se tornou jogador pelo Grêmio, onde atuou de 1985 a 1987. Também jogou pelo Inter, em 1994, vencendo o estadual daquele ano. Em 2012, treinou o tricolor gaúcho.

Matheus Biteco: porto-alegrense nascido em 1995, iniciou a carreira no Grêmio, atuou em algumas partidas pelos profissionais entre 2013 e 2014. Estava emprestado à Chapecoense. Ele é um dos mortos e deixa um filho de 4 meses.

William Thiego: nascido em Aracaju, no Sergipe, em 1986, o zagueiro foi lançado como profissional no Grêmio, em 2007. Sem conseguir sequência de jogos, rodou por diversos clubes antes de chegar à Chapecoense em janeiro de 2015. Ele morreu no acidente de ontem.

Denner: natural de Bagé, o lateral-esquerdo da Chapecoense foi lançado pelo Grêmio em 2009, e defendeu, entre outros, Caxias e Veranópolis antes de se transferir, em 2015, para o clube de Chapecó. Ele morreu no local do acidente.

Anderson Paixão: natural de Porto Alegre e filho do ex-preparador físico do Grêmio, Inter e seleção, Paulo Paixão, Anderson era o preparador da Chapecoense desde 2011 e morreu na queda do avião. Em 2002, o irmão dele, Alessandro, morreu após ataque cardíaco fulminante aos 25 anos.

Filipe Machado: nasceu em Gravataí no dia 13 de março de 1984. Atuava como zagueiro. Começou na base do Inter, sem conseguir destaque entre o plantel principal. Teve o melhor momento no Macaé, quando conquistou o acesso à Série B. Ele foi outra vítima da queda do avião.

Jackson Follmann: nascido em Alecrim, o goleiro de 24 anos começou a carreira na base do Grêmio. Era o reserva da Chapecoense e está entre os seis sobreviventes. Até o início da noite de ontem, seguia em estado grave em um hospital colombiano. Ele teve uma das pernas amputadas.

Alan Ruschel: natural de Taquara, o lateral- esquerdo de 27 anos é atleta do Inter e está emprestado à Chapecoense. Foi o primeiro sobrevivente a ser resgatado e segue internado. Ele está com suspeita de fratura em uma das vértebras, mas não corre risco de morte.

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