Sistema facilita trabalho e  garante frutas mais saudáveis

Vale do Taquari

Sistema facilita trabalho e garante frutas mais saudáveis

Cultivo em substrato no sistema semi-hidropônico garante mais produtividade e economia e menor aplicação de agrotóxicos. Até 2018, Emater calcula que 50% da safra gaúcha de morangos provenha dessa técnica que deixa o trabalho do produtor menos penoso.

Sistema facilita trabalho e  garante frutas mais saudáveis
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O morango é uma fruta com mercado consumidor garantido, indiferente da época do ano. Mas a produção é um desafio. No RS, uma nova técnica, o cultivo em substrato no sistema semi-hidropônico, foi implantada de forma pioneira em Feliz e ajuda a revigorar o plantio em todo estado. Com as plantas alojadas em bancadas e protegidas em estufas, a oferta da matéria-prima foi ampliada, a aplicação de agrotóxicos reduziu e o trabalho dos produtores foi facilitado.

A Emater projeta que a partir de 2018 mais de 50% da produção gaúcha (que em 2014 foi de 17,1 mil toneladas) venha dessa técnica. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar de Feliz, Mateus Monteavaro, a nova técnica fez a produção crescer no município e substitui o plantio feito no solo, sob túneis baixos ou altos. A cultura quase desapareceu, por causa de fungos e outras doenças, lembra.

Hoje o morango ocupa 50 hectares, sendo 35 hectares nesse novo modelo. A atividade abrange 200 famílias e a produção anual alcança 2.250 toneladas. Segundo ele, a técnica dispensa o uso do solo. As bolsas com substrato são acomodadas em bancadas, cuja nutrição é levada às raízes por hidroponia. “Se colhe um fruto limpo e mais saudável”, destaca.

Com a lavoura em ambiente coberto, a aplicação de agrotóxicos reduziu em até 80%. Para controlar pragas como a mosca da fruta, são utilizados produtos biológicos, como garrafas com cola entomológica. Importante é prevenir, retirar os frutas podres, substituir as plantas doentes e manter as estufas limpas, aconselha Monteavaro.

A principal vantagem é o trabalho menos árduo do produtor. “Ele fica de pé, protegido do sol e da chuva. Muitos desistiram por problemas na coluna”, observa.

Quando plantadas no solo, as mudas precisam ser substituídas a cada safra. Nesse modelo, são mantidas até por quatro anos. O período ideal para o plantio vai de abril a junho. Em setembro inicia a colheita, com produtividade média de até dois quilos por planta, enquanto no solo reduz para apenas 600 gramas.

O quilo é comercializado por R$ 13. Feliz e Bom Princípio correspondem a 57% da área cultivada no estado. Segundo a Embrapa, das 105 mil toneladas de morango que o Brasil produz por ano, Minas Gerais responde por 50%; São Paulo, 22%; e o RS, 16%.

2016_11_26_morango-processado-licor-giovane-weberProcessamento valoriza as frutas

Em 1999, a família Peloso, de Linha Roncador, em Feliz, abriu uma agroindústria para processar o excedente de frutas (morango, figo, amora). Nos dez hectares cultivados, são produzidas mais de cem toneladas por ano, sendo 40 beneficiadas. “O nosso retorno aumenta em até 50% em cada quilo. O que antes virava lixo se tornou lucro”, revela Gilmar.

Também aposta na fabricação de licor de morango, vendido apenas em feiras ao preço de R$ 20 o litro. A burocracia para legalizar a venda para outros municípios limita a oferta em apenas cem litros por ano.

Mais plantas por metro quadrado

De acordo com Monteavaro, cada sacola (um metro) comporta até 15 mudas, o dobro da quantidade do que se fossem colocadas na mesma área no solo. Pelo modelo, é possível produzir a fruta durante os 12 meses do ano.

Entre as variedades cultivadas, destacam-se a albioni, bela vista, ventana, san andreas, chandler, camino real, oso grande e pircinque, entre outras. A proximidade com a Ceasa da Serra Gaúcha e de Porto Alegre garante mercado e preço estável à fruta.

Esse fator aliado à demanda crescente faz os jovens continuarem ou até voltarem para as propriedades. “Enxergam uma boa alternativa de renda sem precisar trabalhar de forma árdua como seus pais e avós fizeram.”

Lavoura diversificada

Feliz também se caracteriza por outros cultivos, como pepino, pêssego, quiabo, tomate-cereja, couve-flor, alface, repolho e beterraba, que juntos totalizam 345 hectares de área plantada, com a participação de 455 produtores.

Com média de 20 toneladas por hectare, são produzidos 6,9 milhões de quilos de olerícolas por ano. De acordo com o secretário da Agricultura, Gilberto Rauber, os incentivos concedidos, a proximidade com as Centrais de Abastecimento do RS e a diversificação fortalecem o setor primário. “Tudo o que se produz, se vende.”

Entre os projetos destacados, está o repasse de até 30% do valor aplicado na construção de uma estufa por produtor. Nos últimos anos, foram erguidas 1,5 mil estruturas. Hoje 90% da produção de olerícolas é feita em ambiente protegido.

O círculo de máquinas, modelo copiado da Alemanha, ajuda o produtor a reduzir custos. “Aproveitamos o maquinário existente na cidade, avaliado em R$ 5 milhões, para prestar serviços a 438 famílias. É concedido 40% de subsídio por hora trabalhada. Ganhamos o prêmio gestor com esse projeto”, orgulha-se.

Para Rauber, o produtor necessita fazer uma boa gestão, calcular custos, descobrir nichos de mercado e aplicar bem os recursos. “Incentivamos, assim como na Alemanha, o estabelecimento de cotas de produção para evitar concorrência entre as famílias.”

Segundo o prefeito Albano Kunrath, a Emater e a Secretaria da Agricultura orientam o produtor a fazer o investimento com garantia de retorno. “Assistência técnica, cliente definido e auxílios fortalecem a cadeia produtiva. O mundo necessita de alimentos, mas é preciso produzir de forma eficiente e com qualidade.”

Henzel (direita) destaca a facilidade de manejo da cultura nas bolsas de substrato. Por ano são fabricadas 250 mil unidades

Henzel (direita) destaca a facilidade de manejo da cultura nas bolsas de substrato. Por ano são fabricadas 250 mil unidades

Substrato vira negócio

O empresário Carlos Alberto Henzel, da localidade de Roncador, em Feliz, é um dos pioneiros no estado a criar a bolsa com substrato para alojar as plantas sobre bancadas. Produtor de morango desde 1980, sofreu com o trabalho árduo ao plantar morangueiros em solo. “Doenças e pragas dizimaram lavouras inteiras. Aliado a dor nas costas, tornou o cultivo inviável. Era criar uma alternativa ou desistir.”

Após viagens, palestras e cursos promovidos pela Emater, começou a elaborar no galpão de casa uma fórmula própria para criar o substrato. Para acomodar ele sobre as bancadas, a saída foi armazenar em bolsas plásticas. “Misturo cinza, casca de arroz parboilizado e húmus.” As embalagens têm 1 metro de comprimento e custam R$ 7 cada.

Por ano, são fabricadas 250 mil bolsas, vendidas parao RS, Paraná, Santa Catarina, Brasília e Rio de Janeiro. Em cada unidade, o aconselhado é plantar até sete mudas. “Esta mistura reduz em até 90% a aplicação de venenos”.

A adoção de técnicas como a da garrafa plástica com uma espécie de cola afasta os insetos da lavoura. Para incrementar a renda, mantém 17 mil pés de morango e 1,5 mil de pimentões, distribuídos em oito estufas.

Na propriedade de Marlove, serão plantadas mais 90 mil mudas de morangueiros

Na propriedade de Marlove, serão plantadas mais 90 mil mudas de morangueiros

Demanda maior que a oferta

A empresa Fraise, em Estrela, mantém faz dois anos oito estufas onde cultiva 32 mil mudas de morango das variedades albioni e san andreas. Conforme uma das sócias, Marlove Kartsch, são produzidos 1,5 mil quilos por mês. As frutas são vendidas para as redes de supermercados Zaffari, Rissul, Languiru e STR de Lajeado, além de feirões na propriedade.

A safra inicia em agosto e se estende até fevereiro. Nos demais meses, a oferta cai até 70% devido à substituição de mudas e tratamentos culturais. Para amenizar à redução no faturamento, Marlove pretende instalar uma agroindústria para beneficiar parte das frutas e iniciar o cultivo de hortaliças. Outro projeto para 2017 é cultivar mais 90 mil mudas de morangueiros. “Existe mercado, basta ter qualidade.”

Dentro de estufas, as mudas de morangos são cultivadas em bolsas plásticas com substrato – mistura de arroz parboilizado, cinza e húmus. As sacolas ficam suspensas sobre armações de madeira, com irrigação por gotejamento. “Essa técnica torna a jornada de trabalho menos árdua.”

Com menor índice de doenças, o controle de pragas é feito com produtos biológicos. Para combater a mosca da fruta, é aplicado leite sobre as plantas, explica.

Sem dores nas costas

Elira Hammes, do bairro Imigrante, em Lajeado, cultiva quatro mil pés de morangos distribuídos em duas estufas. Por safra, colhe duas toneladas da fruta, comercializadas na feira do produtor em parceria com um comerciante.

A ideia de produzir o morango em substrato surgiu após a constatação de um problema de coluna, consequência do cultivo em solo. “Procuramos alternativas para não abandonar a atividade e manter o lucro”, ressalta Elira.

Com o apoio de um técnico, visitaram propriedades da Serra Gaúcha, onde conheceram o sistema, recém-iniciado na época. “Não temos queixas, especialmente do ponto de vista ergonômico”, salienta o marido Elmo.

O manejo prático, mudas com vitalidade para produzir até quatro anos e a colheita de frutas mais saudáveis compensam o investimento na estrutura.

Conheça o sistema

– Na semi-hidroponia, os pés de morango são plantados em bolsas de substrato alojadas em bancadas altas de até 1,5 metro do chão;

– Os nutrientes são levados às raízes por gotejamento;

– O processo reduz em até 80% a necessidade de aplicar defensivos e fertilizantes;

– Maior número de plantas por área;

– Manejo pode ser feito de pé, reduzindo problemas na coluna;

– Reduz incidência de podridão ou doenças. Se ocorrerem, apenas o saco infectado é eliminado;

– Protege as plantas e o agricultor das adversidades meteorológicas;

– Reduz a aplicação de agrotóxicos e estimula o uso de agentes de controle biológico;

– Em ambiente protegido, a oferta da fruta se estende pelos 12 meses do ano.

Produção no RS

– 494 hectares
– 1.468 unidades de produção
– 157 municípios
– Produção – 17,1 mil toneladas
– Produtividade – 34,7 mil
quilos por hectare

Fonte – Emater – 2014

Propriedades nutricionais

O morango fornece poucas calorias – cinco unidades (de tamanho médio) fornecem 24 kcal. Tem vitamina C, que ajuda na cicatrização, atua contra infecções, colabora com absorção de ferro no organismo, entre outras funções.

Também contém potássio, mineral que exerce papel na atividade dos músculos, atua na transmissão nervosa, na tonicidade muscular, na função renal e na contração da musculatura cardíaca.

Além da vitamina C e do potássio, contém niacina, ferro e fibras.

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