Silêncio do diabetes  alerta a população

Vale do Taquari

Silêncio do diabetes alerta a população

Sem sintomas iniciais, a doença avança e causa diversos prejuízos à saúde

Silêncio do diabetes  alerta a população
Vale do Taquari

O diagnóstico de diabetes tem se tornado cada vez mais fácil. Unidades de saúde têm o aparelho de teste rápido da glicose, que apresenta na hora o indicativo da doença. Simples exames de sangue também fazem o diagnóstico. Mas, apesar dessa facilitação, a doença só tem sido descoberta após o surgimento de sintomas, quando a situação já não é de simples resolução.

Dado revelado ontem – Dia Mundial do Diabetes – pela Federação Internacional do Diabetes mostra que, a cada dois adultos com diabetes, um não sabe que tem a doença. Tal fato é resultado do silêncio da patologia que chega sem dar muitos sinais.

Bernadete Stacke, 58, foi pega de surpresa há cerca de oito anos. Cansada e fraca, ela buscou auxílio médico, e após fazer alguns exames descobriu que tem diabetes. “Não pensei que fosse isso. O médico me apavorou na época, mas agora está tudo bem.”A doença que afetou a doméstica é de tipo 2. Diagnosticada, em sua maioria, nas pessoas com mais de 40 anos.

Maus hábitos alimentares, sedentarismo e obesidade são as principais causas desse tipo de diabetes, que diminui a resistência da insulina produzida pelo pâncreas, ou seja, ela não cumpre seu papel de controle da glicose. Dona Beti, como é conhecida, hoje toma dois remédios por dia, mas admite que não tem outros cuidados. “No início, cortei os doces e perdi 20 quilos. Acho muito triste não poder comer aquilo que eu gosto. Mas eu sei que deveria me cuidar mais hoje.”

Para a coordenadora do programa de pós-graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Univates, Claudete Rempel, essa falta de preocupação seria resultado do silêncio da doença na hora do avanço. Em agosto, ela e a doutoranda Claudete Moresque finalizaram uma pesquisa sobre a qualidade de vida dos diabéticos.

E, após avaliarem 350 pessoas com a doença, identificaram que a maioria desconhece as consequências do diabetes. Muitas também negam a necessidade do tratamento. Assim, seguem agindo sem grandes cuidados, como dona Beti. O perfil é de mulheres, sedentárias e obesas, entre 60 e 70 anos.

“Sabem que precisam tomar o remédio, mas sabem muito pouco o porquê. Seguem a dieta para medir a glicose, depois comem o seu bolo, sua cuca. Têm hipertensão, mas não têm conhecimento que ela é resultado do diabetes”, comenta a professora.

O tratamento fiel só ocorre quando as consequências pioram. Cegueira, problemas renais e de nervos, enfarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico e amputação dos pés são alguns dos agravantes da doença.

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Tratamento

Conforme dados levantados pela doutoranda, em 2013, havia 1.331 pessoas adultas com diabetes que estavam buscando auxílio médico nas Unidades de Saúde da cidade. Número que corresponde a menos de 2% da população lajeadense, enquanto cerca de 14% seria afetada pela doença.

Douglas Mussolini, 37, é uma das pessoas em tratamento. O diabetes do advogado é de tipo 1 e foi descoberto quando ele tinha apenas 4 anos. Os pais perceberam alterações na saúde do filho e procuraram um médico. Após uma série de exames, a doença foi diagnosticada.

Ele afirma que, desde então, leva uma vida normal. Apenas tem restrições quanto a doces. Ao contrário de dona Beti, não toma remédios, mas aplica insulina de três a sete vezes ao dia. Isso porque seu pâncreas não produz o hormônio, o que exige um cuidado mais intenso. Nesse tipo, a doença tem causas genéticas e não ambientais.

“Faço o teste no aparelho e calculo. Se está muito baixa, tenho que comer um doce. Se está alta, tenho que aplicar. Não vou dizer que é tranquilo, mas precisamos nos acostumar.” Por conviver com o diabetes há tanto tempo, Mussolini tem noção do perigo. A alimentação é saudável, e os exercícios fazem parte da rotina. “Sempre tenho cuidado. Não digo que é 100% como a doença exige, mas faço o possível. É uma doença complicada, se não leva à risca, te causa muitas complicações.”

Douglas Mussolini tem diabetes tipo 1. A doença foi descoberta quando ele tinha 4 anos. Precisa aplicar a insulina de três a sete vezes por dia

Douglas Mussolini tem diabetes tipo 1. A doença foi descoberta quando ele tinha 4 anos. Precisa aplicar a insulina de três a sete vezes por dia

Prevenção

O médico de regulação da Secretaria da Saúde, Tovar Grandi Musskopf, alerta que, independente da doença, é preciso tomar cuidados básicos com a saúde. “Na verdade bons hábitos de vida toda a população deve ter. Não só para a prevenção do diabetes, mas para afastar inúmeras doenças.”

Além disso, ele aconselha que pessoas jovens, sem sintomas da doença, façam exames a cada quatro anos para verificar a aparição da doença. Já pacientes adultos, com predisposição, realizem exames anuais.

Na hora da consulta, é necessário jejum de oito a 12 horas. Se constatado alterações no resultado do teste rápido, já pode haver uma suspeita diagnóstica. Caso seja identificado no início, o diabetes pode ser tratado com dieta e exercícios físicos.

Estatísticas da diabetes

•No Brasil, pelo menos 14,7% da população com mais de 40 anos é diabética

•A prevalência do diabetes na população urbana, entre 30 e 69 anos, é de aproximadamente 8%, principalmente nas regiões Sul e Sudeste

•O diabetes é a quarta causa de morte no país, além de ser a segunda doença crônica mais comum na infância e adolescência

•Entre 2010 e 2014, mais de 500 pessoas morreram no Vale do Taquari em decorrência de complicações da doença

•De acordo com a OMS, o número de diabéticos quadruplicou entre 1980 e 2015. Hoje são 422 milhões. Uma em cada 11 pessoas.

Os alimentos industrializados são os mais perigosos:

•Salgadinhos e frituras

•Refrigerantes e sucos artificiais

•Maionese, ketchup e mostarda

•Biscoitos recheados

•Balas, pirulitos e chicletes

•Chocolate.

Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes

 

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