Gisch emenda sete mandatos na câmara

Lajeado

Gisch emenda sete mandatos na câmara

O lajeadense Waldir Gisch está entre os parlamentares mais vezes eleito em Lajeado e no Vale do Taquari. Já atuou pela Arena, PDS, PPB e hoje é um dos principais líderes do Partido Progressista no maior município da região. Em conversa aberta, fala sobre os méritos, lembra mágoas sobre decisões do partido e avalia a atual conjuntura política

Gisch emenda sete mandatos na câmara
Lajeado

É quase unânime a opinião dos colegas de plenário: Waldir Gisch (PP), 62, é um expoente dentro da Câmara de Vereadores de Lajeado. Por vezes, foi defendido pela base contrária diante de ataques e críticas dirigidas por quem deveria estar ao lado, tamanho respeito que os demais demonstram por ele. Independente de sigla partidária.

Gisch iniciou a carreira política em 1982. Depois disso, foi eleito outras seis vezes para uma cadeira no Legislativo. Nesse período, atuou como secretário da Saúde e da Agricultura. Também foi vice-prefeito em uma das gestões de Cláudio Schumacher. Hoje, é cotado para assumir a presidência da câmara pela terceira vez.

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Entrevista

A Hora – Quando e como entrou na política?

Waldir Gisch – Desde aluno, eu acho. Lembro uma vez lá no Castelinho, quando era preciso escolher um líder de turma. Fui escolhido e, junto com o Pedó (Deoclides) e outros, falávamos em um microfone e o som era transmitido para todas as salas. O Pedó até hoje me lembra que lá eles pediam quem gostaria de ser político. E eu já dizia que sim. Eu segui, e ele não quis. Mais tarde fui convidado por um tio para participar de um sindicato. E eu ainda tinha o Erny Petry, que era meu professor de Administração e me inspirava na política. Mas, o primeiro convite veio do ex-prefeito, Darci Corbelini, no início da década de 80.

Você aceitou?

Gisch – Olha. Na época eu tinha um mercado próximo ao antigo Estádio Florestal, e também houve convite do Leopoldo (Feldens) e do Zeca Spohr. Então, um certo dia, resolvi me filiar ao partido. E lembro que eu e o Marcelo Munhoz, que trabalhava na secretaria da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde e era candidato a vereador, tivemos um pequeno desentendimento e eu disse para ele: olha, eu até iria te apoiar, mas agora eu vou concorrer. Uma pequena disputa, e eu fiz 470 votos, sendo o nono mais votado do partido em 1982.

Você acha que, hoje, o Legislativo é bem aproveitado pela sociedade?

Gisch – Infelizmente, é possível notar que no plenário, além da imprensa e dos assessores, sobram poucas pessoas interessadas. Costumam vir só aquelas que possuem interesse em algum projeto. Mas tenho notado que, após as transmissões ao vivo, as pessoas estão comentando mais na rua sobre minhas falas, ou criticando meus colegas. E isso é bom. É essencial que acompanhem as sessões. Mesmo que, por vezes, alguns assuntos debatidos por certos colegas não tenham pé nem cabeça.

Nestas três décadas de política, qual foi o gestor que mais lhe impressionou?

Gisch – Olha, acho que todos eles têm um papel fundamental. Claro, tem aquilo que a comunidade almeja, e tem aquela demanda nova que surge durante o mandato. Por exemplo, o atual prefeito, que construiu 448 apartamentos populares em um mesmo ponto e agora é necessário creche, ônibus, posto de saúde, etc. Mas, voltando à pergunta, acho que todos fizeram um bom papel.

E qual foi o gestor mais cabeça dura?

Gisch – (risos) Isso eu não vou te dizer.

Quem foi o menos cabeça dura, então?

Gisch – (risos). Não, eu acho que todos têm seu jeito de administrar. Eu posso ser melhor em algo, e não tão bom em outro. Isso é da pessoa. Mas eu poderia citar o atual, Luís Fernando Schmidt, que talvez delegou poder demais e não voltou atrás. Fez isso, principalmente, com o secretário de Governo, Auri Heisser.

Essa era outra pergunta. Onde o atual prefeito perdeu as eleições?

Gisch – Perdeu para ele mesmo. Pois no momento que o Luís Fernando deixou de ir para a imprensa, mandando o Auri, que é linha dura, que tem o posicionamento só dele, e que acha, por vezes, que está sempre certo, o prefeito perdeu as rédeas. E as pessoas perguntavam nas ruas: afinal, quem manda na prefeitura? Mas isso tudo serve de alerta para nosso pessoal do PP. Daqui a quatro anos é nossa vez de encarar a urna como gestor.

Algumas polêmicas são levantadas pela comunidade e pela imprensa, como o pagamento de 13º, proposta popular de redução salarial e excesso de assessores. A nossa câmara gasta demais?

Gisch – Não. Eu acho que o nosso Legislativo é modelo. Por exemplo, se falarmos de diárias, veremos que todos os 15 vereadores de Lajeado juntos não gastam o que um só parlamentar de uma cidade vizinha com orçamento dez vezes menor que o nosso gasta. Além disso, nosso salário está bem abaixo do que a lei possibilita, já que o valor é balizado por uma porcentagem em relação aos vencimentos dos deputados estaduais.

Acho, apenas, que o chefe do Executivo deve priorizar secretários que conheçam bem a cidade. Não adianta trazer alguém que desconheça nossa realidade.”

“Acho, apenas, que o chefe do Executivo deve priorizar secretários que conheçam bem a cidade. Não adianta trazer alguém que desconheça nossa realidade.”

E os assessores?

Gisch – Olha. Eu preciso cuidar dos meus. Não vou ficar olhando para o vizinho.

Os seus assessores trabalham?

Gisch – Os meus trabalham, sim. Meu gabinete sempre está aberto. Você pode chegar a qualquer hora, sempre está aberto. Se em outros não é assim, se tu tens dois assessores e mantém o gabinete fechado a manhã inteira, daí tem algo errado.

E isso acontece dentro da câmara?

Gisch – Bom, isso a imprensa tem que fiscalizar. Até acho que pode, eventualmente, acontecer. Por problema de saúde de alguém. Mas se for rotineiro, está errado. O vereador precisa controlar os assessores, delegar funções e trabalhos.

O que mudou na política desde 1982? O eleitor e os políticos mudaram?

Gisch – Cada um tem a sua postura. Mas o que percebo é um respeito menor para com os políticos. Lembro que, no início, a gente era recepcionado pelas comunidades. Havia mesa, espaços reservados para receber os vereadores. Os presidentes de bairros faziam isso para bem recepcionar e conseguir repassar os anseios daqueles moradores. Mas, hoje, tu vai em algum almoço de comunidade e, quando estiver com o prato servido, é capaz de não encontrar lugar para sentar. Eu penso que vereador nunca deixa de ser cidadão comum, mas não deixa de ser uma autoridade. E no momento em que nós perdemos respeito pelas nossas autoridades. Bom…daí fica difícil.

E como Waldir Gisch está hoje em comparação há 34 anos?

Gisch – Vejo que a gurizada nova gosta do Facebook, do Whats. Eu ainda sou do sistema antigo. Sempre digo: vereador tem que andar sempre com um papel e uma caneta no bolso para anotar reclamações, pedidos, informações. As pessoas precisam manter essa relação pessoal.

Qual a sua avaliação sobre a nova composição da câmara?

Gisch – Eu acho que todos têm mérito por chegar. Fomos escolhidos entre quase 160 candidatos. Eu acho que cada um tem uma grande vontade. Vejo que cada um tem uma força própria. Mas quem tem que julgar é a sociedade, após os primeiros anos, avaliando a produção, a dedicação, e o trabalho em prol da comunidade. Hoje, é cedo para qualquer julgamento.

E qual sua opinião sobre Marcelo Caumo como prefeito? E os novos secretários já anunciados por ele?

Gisch – Olha. Ele pregou uma renovação. Acho que está cumprindo. Agora, é o tempo quem vai nos dizer se ele está certo. Acho, apenas, que o chefe do Executivo deve priorizar secretários que conheçam bem a cidade. Não adianta trazer alguém que desconheça nossa realidade, que não saiba onde fica determinada rua.

Alguma mágoa nestes 34 anos de vida pública?

Gisch – Mágoa, não. Mas, pela trajetória política dentro do partido, eu esperava ser o candidato a prefeito depois que fui vice. Eu tenho um nome no partido. Tu nunca ouviu falar do Gisch deixar o partido, ou sobre rejeição ao meu nome, como ocorre com outros ex-secretários do PP, por exemplo. Tu nunca ouviu falar sobre desvio de recursos, de conduta, ou qualquer polêmica do genêro a meu respeito. Mas, o partido optou por manter o Cláudio e por colocar o Betinho (Kolling) como vice. Faz parte e eu respeito a decisão.

E Waldir Gisch para 2020? Almeja a prefeitura? Ou uma vaga na Assembleia Legislativa?

Gisch – Não, não. Eu já fui lembrado algumas vezes para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados, mas para isso tem que haver uma construção muito maior, de âmbito regional. Eu estou preocupado em fazer meu trabalho aqui em Lajeado. Tomara que Deus me dê bastante saúde, em primeiro lugar, para eu concluir bem este meu próximo mandato. O resto a gente vê dali para a frente.

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