“Pensei: minha cabeça está boa, minhas mãos ainda conseguem escrever e minhas pernas me levam para pesquisar. Tenho a obrigação de escrever. Tenho muitas lembranças que não podem morrer comigo”. Essa frase retrata o momento em que a professora aposentada Nair Tereza Dupont, 77, começou a escrever o primeiro livro. Após a morte do marido, reuniu recortes antigos e textos sobre fatos da cidade. As memórias foram retratadas no livro Paverama – Ontem e Hoje.
A publicação levou sete anos até o lançamento em 2012. Com apoio de José Alfredo Schierholt, reuniu memórias em 248 páginas. A alegria foi ver os 250 exemplares adquiridos pela administração distribuídos na cidade.
Apesar da paixão pelas letras, sente falta do apoio da comunidade e convite para falar do trabalho durante eventos voltados à literatura. O restante dos exemplares pagos com o próprio rendimento da aposentadoria estão estocados na casa e não têm saída local.
Nair encontra dificuldades para desenvolver o trabalho que tanto aprecia. Em casa, realiza as tarefas com os pensamentos nas letras, mas não tem locomoção própria para visitar as localidades e encontrar os fatos para incrementar a terceira publicação. A obra está em andamento, mas ainda sem título. A previsão é lançar no ano que vem.
Da cidade ao campo
Os documentos reunidos são colados em um caderno. Depois de visitar localidades, escolas e igrejas, digita as informações. Entre os registros que mais chamam atenção, está a história de uma prisão em Morro Azul. Um homem havia sequestrado duas crianças. Ele teria embarcado em trem com intenção de chegar ao Uruguai.
Mas chegou a Paverama. Em dois dias, os moradores desconfiaram do homem e comunicaram a polícia.
Ela também quer relatar como está a vida dos alunos que frequentavam a antiga Casa da Criança, onde lecionou por nove anos. Muitos desbravaram os horizontes e estudam na França e Estados Unidos. “Quero mostrar a coragem do povo paveramense e também como estão as crianças que viveram aqui, criaram asas e foram rumo ao horizonte”.
Cenário fúnebre inspira
Segundo Nair, o local preferido para passeio é o cemitério. Pelo menos duas vezes por semana, visita o local. Em cada lápide, relembra os rostos de amigos, familiares e conhecidos.
Recorda episódios e histórias dos que já se foram. Entre elas, a de um morador que foi chamado para ir à Itália, durante o período de guerra. Apesar de não ter combatido, retornou com problemas de saúde. Tanto que foi internado em hospital do exército, em São Paulo, conta.