Produtores deixam de receber R$ 20 mi

Estrela

Produtores deixam de receber R$ 20 mi

Audiência debate saídas para a crise leiteira. Medidas serão enviadas à Assembleia

Produtores deixam de receber R$ 20 mi
Estrela

A queda no preço do litro de leite chegou a R$ 0,55 entre agosto e outubro. Com 3,7 mil associados, as cooperativas Dália Alimentos, de Encantado, e Languiru, de Teutônia, estimam que por mês deixam de circular na economia regional R$ 20 milhões devido à crise. Juntas, processam mais de 33 milhões de litros ao mês.

Para discutir alternativas e cobrar medidas protetivas aos produtores, a Câmara de Vereadores de Estrela sediou na tarde de ontem audiência pública. O plenário ficou lotado de produtores, representantes de indústrias, sindicatos, Emater e Fetag.

Conforme o secretário da Agricultura de Estrela, José Adão Braun, nos últimos três meses, houve uma perda mensal de R$ 2 milhões. De acordo com o Sindilat/RS, só nos oito primeiros meses de 2016, o país importou 153,38 milhões de quilos de produtos lácteos, o que representa um aumento de 80% em relação ao mesmo período do ano passado. “Esta sangria, se não for estancada, vai ‘matar’ muitos dos nossos produtores”, alertou.

No município, a produção de leite está estimada em 43 milhões de litros por ano. Em torno de 500 famílias se dedicam à atividade. Braun apresentou sugestões a serem levadas ao governo, como a proibição de reidratação do leite em pó no país; a limitação das importações de produtos lácteos e a aquisição, pelo governo federal, de estoques de leite para equilibrar a balança comercial.

Com os novos investimentos anunciados por indústrias, até fim de 2017, a capacidade de processamento aumentará em 16,7%, passando de 18,5 milhões de litros por dia para 21,6 milhões. “Como estimular o produtor a produzir mais? Só com rentabilidade digna”, diz.

“O governo deu as costas aos nossos produtores de leite e faz uma política discriminatória. É preciso mudar”, acrescentou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Estrela, Rogério Heeemann. O vereador proponente da audiência, Marcelo Braun (PSDB), enfatizou a importância do setor primário para o município. “Representa 30% da arrecadação. O leite é o pilar econômico mais importante. É urgente uma saída para a crise”, cobra.

As medidas para amenizar os prejuízos da crise serão apresentadas em audiência pública promovida pela Assembleia Legislativa no dia 28.

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Guerra fiscal

Pelo cálculo do diretor comercial da Latvida, de Estrela, Marcio Lenen, as importações se equivalem a três meses de produção no RS. “Como ser competitivo, se precisamos exportar 60% da nossa produção para outros estados e esses nos cobram até 10,6% de substituição tributária. Quem importa paga apenas 4%”, frisa.

Critica a alta do imposto sobre produtos lácteos de 17% para 18% no início do ano no RS.

Na área de atuação da cooperativa Languiru de Teutônia, 1,9 mil famílias têm na atividade leiteira uma das fontes de lucro da propriedade. Nos últimos dois meses, devido à queda de 30% no valor pago por litro de leite, a movimentação financeira caiu em média R$ 300 mil por dia.

O vice-presidente Renato Kreimeier cobra do governo um controle mais rigoroso sobre a importação. “Vamos formar uma comissão e apresentar nossas demandas ao ministro da Agricultura Blairo Maggi. Essa situação é um desrespeito.”

Segundo o vice-presidente da Dália Alimentos, de Encantado, Pasqual Bertoldi, a crise se originou após as operações Leite Compen$ado. Enumera os incentivos concedidos pelo governo a empresas para importar leite em pó. “Levaremos até dez anos para superar esta turbulência”, estima.

O preço pago pelo litro de leite aos 1,8 mil produtores associados reduziu de R$ 1,73 para R$ 1,18. Por mês, são industrializados 20 milhões de litros. “Com a queda de R$ 0,55 por litro, deixa de circular na economia cerca de R$ 11 milhões.”

Secretário de Agricultura, José Adão Braun, relatou as perdas para o município

Secretário de Agricultura, José Adão Braun, relatou as perdas para o município

Controle de custos

O produtor Guilherme Dieckel, de Estrela, trabalha com os pais na atividade. Por mês, são vendidos oito mil litros. “Em 90 dias o valor que deixamos de arrecadar pagaria um dos três financiamentos a serem pagos por ano.”

A família Stein investiu mais de R$ 5 milhões em maquinário e infraestrutura na propriedade. O plantel de 50 animais produz ao dia 1,1 mil litros, vendidos ao preço médio de R$ 1,12. Para suprir as perdas e quitar os financiamentos, cujas prestações anuais chegam a R$ 90 mil, apostam na venda de silagem (500 toneladas por ciclo) e na criação de suínos (dois mil animais por lote). “Precisamos definir um preço mínimo, com acréscimo por qualidade e quantidade. Está difícil se manter com tanta oscilação”, comenta Carlos.

Marcelo Decker também tem um plantel de 50 animais e uma produção diária de 1,1 mil litros. O valor pago despencou R$ 0,60. “O que deixei de receber em dois meses quase pagaria o financiamento bancário. Quem não fizer o controle rigoroso dos gastos e planejar novos investimentos, corre o risco de falir.”

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