Conscientizar as mulheres do campo sobre os abusos físicos e psicológicos foi o principal mote do 5º Fórum Regional de Combate à Violência contra a Mulher. O evento, realizado na Univates, contou com a presença de estudantes, especialistas na área e vítimas de violência doméstica.
Durante a tarde, a professora de Direito e ex-delegada, Elisabete Barreto Müller, junto com a coordenadora estadual de Gênero, Juventude e Educação da Emater, Clarice Vaz Emmel Böck, e a delegada, Márcia Bernini, debateram as diversas formas do crime.
Todas ressaltaram a importância de trabalhar a igualdade de gênero com crianças e adolescentes. “A orientação sobre igualdade deve ser feita desde a infância”, ressaltou a delegada Márcia. Após apresentar os números de assassinatos de mulheres no RS, nos quais se destaca o fato de a maioria ser vítima de maridos e namorados muitas vezes inconformados com o fim do relacionamento, ela listou as ações feitas no Vale para evitar os crimes.
“No Projeto Orientar um grupo de policiais conversa com os homens para esclarecer a Lei Maria da Penha e os limites impostos por ela.” Otimista, a delegada comemorou a criação das medidas protetivas como grande responsável por evitar assassinatos. Para Márcia, a grande dificuldade é mudar a cultura da sociedade. “Quanto mais informarmos a sociedade da necessidade de mudança da cultura machista, mais resultados positivos teremos no combate à violência.”
Machismo na relação de trabalho
Acostumada a trabalhar no meio rural, Clarice destaca que um dos grandes problemas no meio rural é o silêncio. “Nós sabemos que agressões ocorrem, mas não nos é passado, temos isso muito velado.” Segundo ela, o machismo no meio rural pode ser constatado na divisão das tarefas. “As questões de tomada de decisões e quem faz o que na propriedade. Ainda existe muito a questão de que algumas coisas são trabalho de mulher e outras de homem.”
Para Clarice, eventos como o fórum são importantes para esclarecer os direitos garantidos pela Lei Maria da Penha, que completou dez anos em agosto. “Não temos muitos dados de violência no meio rural, o que podemos fazer é levar informações para elas saberem como se defender.”
O evento encerrou com a apresentação do filme Vidas Partidas, do diretor Marcos Schechtman. Ambientado na década de 1980, narra a história de Nara, interpretada por Naura Schneider. O roteiro conta uma situação comum no Brasil. Casada com Raul, personagem de Domingos Montagner, ela começa a ser agredida pelo marido. Após a exibição, os presentes debateram a questão do machismo que resulta em violência.
Ainda na mesa-redonda, os participantes trataram sobre o tema a ser abordado no fórum em 2017. Motivados por um comentário do apresentador Faustão, que disse que “tem mulher que gosta de homem que dá porrada”, definiram que o tema do próximo ano será o machismo na mídia.
“[…]temos de ter cuidado para não termos retrocesso[…]”
Coordenadora do fórum, Elisabete Barreto Müller se mostra preocupada com uma série de relativismos quando mulheres são agredidas.
A Hora – Como é possível levar esse debates sobre machismo para fora da universidade?
Elisabete Barreto Müller – O dia do fórum é uma data que elegemos para discutir, mas ele se mantém por todo ano. Quando surgem ideias, como trabalhar mídia em 2017, nós vamos debater isso durante todo ano. Assim foi quando se falou em uma rede de enfrentamento à violência, isso foi firmado em Lajeado a partir do debate do fórum. E aqui não tínhamos apenas pessoas do meio acadêmico. Estamos com outros projetos para atender crianças e adolescentes, para combater o machismo perpetuado na família.
Na sua avaliação, em que momento estamos no debate sobre gênero?
Elisabete – Existem algumas pessoas mais otimistas, eu me coloco como realista. Neste momento, as coisas estão muito delicadas e temos de ter cuidado para não termos retrocesso. Estão aparecendo coisas na sociedade que pareciam adormecidas, como o machismo. A fala desse apresentador de televisão (Faustão) que tem mulheres que merecem apanhar, há um grande número de pessoas achando que o que ele falou é verdade. Isso nos remete a um cuidado para que a gente não retroceda nem um milímetro e não perca nenhum direito conquistado até agora.
A senhora acredita que o crescimento desse discurso machista não é uma resposta à conquista de direitos por parte das mulheres?
Elisabete – A sociedade machista quer que a mulher permaneça submissa em um estado de dominação. Então, quando tem leis para garantir a equidade e as mulheres ocupando postos que antes eram masculinos, com certeza existe uma reação a isso. É importante as pessoas terem a informação correta, que o feminismo não busca a superioridade da mulher sobre o homem, isso é o machismo. O feminismo quer a igualdade dos gêneros.