Motorista de caminhão, Dorval de Souza, 50, vive às marges da ERS-130 desde a infância. Todos os dias, enfrenta uma rotina cheia de buracos e poeira no trabalho e em casa enquanto aguarda a conclusão das obras de asfaltamento da rodovia.
Morador da localidade de Bom Fim, perdeu a conta de quantas promessas ouviu sobre a pavimentação do trecho que liga Cruzeiro do Sul ao distrito de Mariante, em Venâncio Aires. A última vez foi no dia 1o de abril, quando o governador José Ivo Sartori inaugurou três quilômetros de asfalto na estrada.
“Demorou três anos e ainda fizeram um grande ato para uma parte tão pequena da obra”, lembra. Conforme Souza, a situação piorou após a enchente que atingiu a localidade em meados de outubro. Segundo ele, mesmo os trabalhos de manutenção do trecho de terra ficaram prejudicados.
“A patrola do Daer arrumou uns 200 metros e o motor estragou. Desde então não voltaram mais”, afirma. Segundo ele, a situação na rodovia causa prejuízos à empresa onde trabalha. Além de trocas de molas frequentes nos caminhões, diz ser necessário andar com menos peso e velocidade reduzida para evitar mais danos.
O agricultor Valdomiro Dullius, 68, percorre todos os dias cerca de quatro quilômetros a pé às margens da rodovia. Para ele, mais do que os buracos, o principal problema é a poeira. “O tráfego de carros e caminhões é intenso e estou sempre em meio a uma nuvem de poeira.”
Dullius diz ser o morador mais antigo da comunidade de Bom Fim. Segundo ele, as promessas de pavimentação são tão velhas quanto à localidade. Lembra que os primeiros prefeitos da cidade já falavam sobre ela.
“Só nos últimos anos que pararam de falar nisso, porque sabem que não adianta”, relata. Resignado, Dullius não acredita que o trecho será pavimentado. Segundo ele, resta aos moradores se acostumarem com a poeira nos dias secos, a lama quando chove e os buracos.
Arroz com poeira
Adão Tolentino Marques, 51, mora faz 16 anos próximo à margem do Rio Taquari. Enquanto prepara o almoço, enxerga de casa o início do trecho de asfalto inaugurado por Sartori “Para cada duas xícara de arroz, meia é de poeira”, reclama.
Na pequena casa de madeira, a terra levantada pelos veículos na rodovia alcança móveis, utensílios, roupas e calçados. “O pior é na hora de estender as roupas, pois só de colocar no varal já enche de sujeira.”
Marques também testemunha os prejuízos enfrentados pelos motoristas devido aos buracos. “Sempre recolho peças de veículos que passam por aqui”, aponta. Afirma ter desistido de aguardar por ajuda de políticos que, segundo ele, aparecem apenas nas vésperas das eleições.
Visita do governador
José Ivo Sartori esteve pela primeira vez na cidade em abril, para a inauguração oficial de um trecho de três quilômetros de pavimentação asfáltica.
Esteve acompanhado do secretário dos Transportes, Pedro Westphalen, do diretor do Daer, Ricardo Moreira Nunes, e do então presidente da Assembleia Legislativa, Edson Brum. A presença do governador reacendeu as esperanças da comunidade para a continuidade da obra.
Passados seis meses, a obra segue indefinida. Na época, o diretor do Daer lembrou dos convênios assinados ao longo dos anos para as obras de asfaltamento, a maioria abandonados pelo poder público. “Esse teve sequência e foi concluído graças a um esforço do governo em meio à crise.”
De acordo com o secretário de Transportes, apesar de ter diminuído o ritmo das obras, o Piratini quitou passivos com construtoras, existentes desde 2013. “Não devemos nada a ninguém.” Sartori evidenciou as dificuldades financeiras do Estado e o esforço para assegurar investimentos.