Trator cai em barranco e mata agricultor

Vale do Taquari

Trator cai em barranco e mata agricultor

Acidente aconteceu nessa terça-feira. Vítima, Marciano Bergonci, foi enterrada ontem

Trator cai em barranco e mata agricultor
Vale do Taquari
CCR-aviso-ponte

O mesmo trator que facilita o trabalho no meio rural se tornou uma das principais causas de acidentes e mortes. Nos últimos 35 dias, foram registrados quatro óbitos na região com operadores de máquinas, todos por tombamento.

A morte mais recente aconteceu nessa terça-feira, na localidade de Alto Honorato, Progresso, por volta das 19h30min. Marciano Bergonci, 34, caiu com o trator em um penhasco. Conforme registro na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Lajeado, Bergonci era natural de Colônia São Paulo, em Boqueirão do Leão.

Segundo o sogro da vítima, Reni Zanus, era uma pessoa extrovertida, rodeada de amigos e cultivava a tradição gaúcha. “Era muito querido. Não conseguimos entender as circunstâncias do acidente”.

A família não descarta a possibilidade de Bergonci ter sofrido um mal súbito vindo a desmaiar antes de a máquina cair na ribanceira. “Sabemos que ele foi visto pela última vez com vida por volta das 17h20min”, relata.

O corpo foi encontrado duas horas depois. Um morador das proximidades escutou um barulho e foi até o local, quando encontrou o agricultor morto, a dez metros do trator. A mulher de Bergonci, Elizandra, está grávida de sete meses. A filha se chamará Verônica, nome que ele ajudou a escolher, revela o sogro.

Bergonci foi velado no salão comunitário de São Luiz e o enterro ocorreu no fim da tarde de ontem.

A segunda morte na região foi registrada no dia 15. O produtor Rodrigo Gugel, 23, morreu no tombamento de um trator em Muçum. O corpo foi encontrado pelo irmão por volta das 15h30min. De acordo com o Corpo de Bombeiros de Encantado, Gugel teria saído pela manhã para tratar os animais, na localidade de Linha 13 de Maio, e não tinha mais sido visto pelos familiares.

Um dia antes, Romaci Francisco da Silva, 65, morreu no fim da tarde esmagado pelo trator que dirigia na propriedade em Picada Horst, Westfália. O caso é investigado pela Polícia Civil de Teutônia e as causas do acidente ainda são desconhecidas.

O quarto caso foi registrado no dia 21 de setembro em São Roque, Boqueirão do Leão. Marcos Borghetto, 39, morreu após tombar a máquina. Conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil é líder em número de acidentes fatais com esses equipamentos no campo.

Vinte e uma mortes em 25 anos

São cerca de três mil mortes por ano no país. E a cada três acidentes, um ocasiona a incapacidade permanente do trabalhador. Geralmente, o excesso de confiança, a imprudência e a falta de treinamento são as causas das tragédias.

No RS, 39% dos agricultores já sofreram algum tipo de acidente, a maioria com tratores. Cerca de 54% dos acidentes fatais com tratores ocorre por capotamento. O tratorista que for flagrado dirigindo sem os equipamentos de segurança está sujeito à advertência e multa de R$ 127,69.

Segundo levantamento feito pelo A Hora, desde 1991, foram pelo menos 21 mortes na região, a maioria causada por imprudência e descuido.

Bergonci morreu quando o trator despencou de penhasco no interior de Progresso

Bergonci morreu quando o trator despencou de penhasco no interior de Progresso

Falta de treinamento e autoconfiança

Segundo o engenheiro agrônomo da Emater de Dois Lajeados, Fábio Balerini, esses são os principais motivos das mortes com tratores e equipamentos agrícolas. “O fato de a maioria não ter medo de operar uma máquina aumenta o risco de tragédias.”

Balerini destaca a falta de manutenção e o uso do equipamento em terrenos de aclive ou declive acentuado como outros fatores de risco. Outra situação que eleva os índices é o desconhecimento do agricultor em operar a máquina. “Deveria ser obrigatório um curso. Por lei, se exige habilitação na categoria C, mas ninguém fiscaliza quem vai dirigir ou se o condutor está apto a trabalhar. Os CFCs não têm treinamento específico para quem vai dirigir trator”, observa.

Cita que algumas propriedades até são notificadas pelo Ministério do Trabalho pelo fato de os operadores não terem instrução técnica para trabalhar com os maquinários. “A pena ou a proibição de voltar a trafegar esbarram na falta de cursos para habilitar o condutor.”

A Emater em parceria com o Colégio Teutônia lançará em 2017 curso de Prevenção de Acidentes em Sistemas de Produção Agropecuária, com duração de 40 horas. “As máquinas evoluíram e precisamos qualificar, treinar e fiscalizar quem vai operar”, aponta.

Itens de segurança são ignorados

Ao comprar um trator ou implemento agrícola, quem repassa as orientações sobre os cuidados e normas de segurança é o revendedor. No entanto, segundo Balerini, a maioria nem lê o manual.

Além de ignorar as regras, solicitam a retirada de alguns utensílios como o som da marcha à ré, cinto de segurança e teto de proteção, que, em caso de capotamento, suporta três vezes o peso da máquina. “Se o operador estiver usando, ficará preso no banco e dificilmente sofrerá ferimentos.”

Como dirigir com segurança

– Usar botina, capacete, colete refletivo, luvas, óculos e protetor auricular.

– Verificar a condição dos freios, pneus, vazamentos, nível do óleo do motor e do diesel.

– Evitar trafegar em áreas de declive e aclive, locais escorregadios, molhados a ponto de o terreno ceder e desestabilizar a máquina.

– Usar cinto de segurança. A estrutura do teto foi construída para suportar três vezes o peso do trator ao capotar.

– Verificar o manual de instrução, evitar o uso por pessoas sem habilitação ou treinamento.

– Não oferecer carona, principalmente para idosos e crianças.

Acompanhe
nossas
redes sociais