Selim: história trágica por trás da denominação

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Selim: história trágica por trás da denominação

O afogamento de uma mulher teria motivado a nomeação de Selim. A comunidade centenária foi uma das primeiras a ser colonizada em Progresso e, conforme os moradores, era assombrada em décadas passadas

Selim: história trágica por trás da denominação
Vale do Taquari

Quando o município de Progresso ainda era conhecida como Gramado São Francisco, no início do século 20, a estrada geral de Selim era utilizada pelos carroceiros. Em um dos açudes, eles paravam para beber água e matar a sede dos animais. Ali teria se desencadeado o fato que deu nome à localidade.

Conforme as histórias contadas pela população, uma mulher montada em um cavalo caiu em um dos buracos do açude ao tentar dar água ao animal. Os corpos de ambos ficaram presos no fundo da poça d’água, gerando um mistério sobre o desaparecimento da amazona.

Dias após o afogamento, o selim (assento de couro colocado sobre o lombo do animal) emergiu e foi encontrado pelos habitantes. Para recordar a história, eles penduraram o objeto em uma árvore carrapicho.

Com o decorrer do tempo, o selim se tornou um ponto de referência aos viajantes e acabou servindo para identificar a comunidade. “Quando eles passavam ou pernoitavam por aqui, diziam que estavam no Selim”, exemplifica o morador Vany Borelli, 78.

O ano preciso em que o acidente aconteceu, a identidade da suposta mulher afogada e a própria veracidade da história são enigmas para os próprios moradores de Selim. “Não tem como provar que a história é verdadeira, mas ao menos era isso que todo mundo contava antigamente”, defende a dona de casa, Ires Giovanella, 49.

Selim é conhecida por ter uma das primeiras igrejas de alvenaria de Progresso

Selim é conhecida por ter uma das primeiras igrejas de alvenaria de Progresso

Assombrações em Selim

Outros relatos dos moradores envolvem assombrações nas proximidades do açude onde teria acontecido o afogamento. Os vultos seriam de uma mulher vestida de noiva e até um homem sem cabeça andando de cavalo. “Cada morador viu uma coisa diferente,” enfatiza a professora aposentada, Elvira Giovanella, 72.

Ela própria tem uma história sombria para contar. Na infância, Elvira e o irmão teriam ouvido conversas ao passar pelo local. “Era como se muitas pessoas estivessem conversando e de repente tudo parou. Não havia mais ninguém na estrada além de nós.”

Nos anos 80, os moradores se reuniram para rezar uma missa aos espíritos. Eles acreditavam que os mortos precisavam de orações para poder “descansar em paz”.

Mesmo com as preces, ainda há quem tema os fantasmas em Selim. “Tem gente que não passa perto do açude à noite nem se oferecer um carro novo”, afirma o presidente da comunidade, Deoclides Berté, 54. Em contraste, há quem seja cético quanto à existências de assombrações. “Pode ser histórias que as mães contavam para as crianças não irem perto do açude”, acredita o agricultor Licésar Borelli, 48.

Proprietário das terras onde fica o açude, Pedro Titello, 68, classifica o espaço como sereno. “Nunca vi nada de estranho lá.” Ele utiliza o terreno para a plantação de milho, eucaliptos e instalação de uma placa publicitária.

Espíritos assombram açude onde mulher teria se afogado, contam os moradores. Terreno é propriedade do empresário Pedro Titello

Espíritos assombram açude onde mulher teria se afogado, contam os moradores. Terreno é propriedade do empresário Pedro Titello

Primórdios da comunidade

Ao lado de Xaxim e a cerca de cinco quilômetros do centro de Progresso, Selim tem um pequeno salão comunitário. Lá está pendurado o selim – símbolo da comunidade e classificado como objeto raro entre os moradores. Em 2015, a sede foi assaltada duas vezes em menos de três meses. “Por sorte, eles não levaram o selim”, comemora o presidente Berté.

De acordo com o livro Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora: 50 anos de uma igreja a serviço do evangelho, as primeiras famílias a se instalarem em Selim foram os Bergonsi, Tomazi, Maffi e Draghetti. Elas eram naturais de Garibaldi.

Em 1913, os moradores construíram uma capela de madeira – a primeira de todo o distrito de Progresso. No local, eram realizados os cultos, a catequese e as aulas ministradas pelo professor José Fernandes.

O padroeiro da comunidade é São João Batista. Ele foi escolhido porque havia muitos moradores com nome de João em Selim. A festa em homenagem ao santo ocorre no terceiro domingo do mês de junho. A comunidade é composta por cerca de cem habitantes. A maioria trabalha com a criação de aves ou produção leiteira. Lá está localizada a empresa de móveis Prosmóvel.

Mapa QUE LUGAR É ESSECuriosidades

*Nas primeiras décadas do século 20, Selim era para ser a sede do distrito de Progresso. Entretanto o fato de os antigos moradores não encontrarem água na comunidade localizada a 600 metros acima do mar impossibilitou o projeto.

*José Battisti, um dos primeiros comerciantes de Progresso, se instalou em Selim. Ele cedeu as terras para a construção da igreja de alvenaria, em 1925, e instalação do cemitério. O objetivo era deixar os símbolos comunitários mais próximos do seu estabelecimento comercial.

*Dono de muitas áreas de terra, Francisco Mariano da Silva, o “Chico Mariano”, é considerado pioneiro e fundador de Progresso. Ele denominou sua propriedade de Gramado São Francisco.

*Com a chegada dos primeiros imigrantes italianos, em 1912, Gramado São Francisco se desenvolveu muito. Devido a isso, em abril de 1939, passou a se chamar Vila Progresso.

*Em 30 de novembro de 1987, o então distrito Progresso se emancipou de Lajeado. Conforme o site do IBGE 2010, a cidade tem mais de seis mil moradores.

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