Pesquisa alerta para disparidades sociais em Estrela

Estrela

Pesquisa alerta para disparidades sociais em Estrela

Aspectos culturais e econômicos condicionam cenário de desigualdade e discriminação. Mulheres, negros, pardos e indígenas são segregados em situações comuns que passam despercebidas

Pesquisa alerta para disparidades sociais em Estrela
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Os contextos de desigualdade e discriminação estão arraigados na sociedade de Estrela. A constatação faz parte do resultado de um levantamento feito pela Faculdade La Salle. A situação não é exclusiva do município e está presente em todo país.

O estudo mostra que a disparidade na distribuição de renda é um dos principais agentes responsáveis por esse cenário. Os aspectos culturais e históricos também exercem influência. A pesquisa foi feita entre agosto e setembro e os resultados serão apresentados na próxima semana, 27, às 19h, durante o 7º Fórum de Ensino Superior da La Salle.

Ao todo, 399 pessoas foram entrevistadas, em 17 bairros. Elas responderam a 30 perguntas baseadas em dados estatísticos do IBGE, do censo demográfico de 2010. As perguntas eram relativas a questões de gênero, raça, renda, escolaridade e idade.

Para o reitor da Faculdade La Salle, irmão Marcos Corbellini, a pesquisa teve o papel fundamental para mostrar a percepção da população em relação às desigualdades do município. “As pessoas sabem que existe discriminação, mas não percebem as proporções em que isso ocorre.”

Segundo ele, a população, mesmo ciente das segregações, tem dificuldade em admitir que determinadas situações ocorrem no cotidiano da comunidade. “Os dados do IBGE mostram, por exemplo, que as mulheres e pessoas de outras etnias ganham menos em relação aos homens, mesmo tendo as mesmas habilidades e competências. Porém, os entrevistados discordaram que essa situação ocorra de forma prática.”

Nesse contexto, o estudo mostra a sociedade inerte perante a disparidade seja no âmbito da renda, gênero e etnias. Para o coordenador, essa situação está tão presente que é considerada normal.

PrintBolsões de pobreza

A percepção nas ruas é clara. Existe uma contradição entre o calçadão, no centro, e a rua dos Marinheiros, no bairro Moinhos, a menos de um quilômetro de distância. A área alagadiça concentra parte da população pobre.

Sérgio de Lima, 56, nasceu no bairro. De família humilde, perdeu o pai aos 5 anos, vítima da violência local, morreu ao ser atacado por um desconhecido, com uma soqueira de metal, conta. Órfãos de pai, os cinco irmãos enfrentaram juntos a tragédia no cortiço de madeira.

Hoje carrega nas costas um saco que chega a pesar dez quilos. Precisa catar plástico e latas para sobreviver. Lima trabalhava como servente de pedreiro, mas problemas na coluna o impediram de continuar.

Na reciclagem, ganha pouco. Com uma carga de caminhão, arrecada em torno de R$ 200. Afirma que compra fiado em um mercadinho para comer. O que ganha serve para pagar ao menos um pouco da conta. Muitas vezes pede pães nos mercados. Lima não tem filhos. E acha que nunca terá. “Se é para sofrer, basta eu.”

Como mudar

Encontrar caminhos e mecanismos para ampliar a paridade de direitos e renda é o convite à comunidade na próxima semana. A tarefa, segundo Corbellini, é dificil e envolve mudanças no comportamento cultural e econômico.

“Isso é difícil. As concepções culturais estão muito arraigadas na sociedade e elas não se alteram rapidamente. A distribuição de renda é um desafio ainda maior e está atrelado a questões políticas.”

De acordo com ele, isso está relacionado a políticas de governo para criar mecanismos para reduzir a disparidade.

Para Corbellini, a renda é uma das raízes principais das disparidades sociais

Para Corbellini, a renda é uma das raízes principais das disparidades sociais

Educação é o caminho

A educação é uma das grandes chaves para alterar conceitos culturais que interferem nas relações étnicas. Corbellini aponta que para isso a educação não pode se resumir ao espaço escolar, mas precisa ser trabalhada em um contexto amplo com toda a sociedade.

“Não é papel da escola resolver tudo, não é assim. A solução é complexa, mas precisamos avançar para romper essas diferenças que irão ser cada vez maiores.”

Fórum

A La Salle convidou dois representantes da sociedade e dois jornalistas para analisar os números e refletir sobre a situação. Entre eles, o secretário da Saúde, Elmar Schneider, o advogado e ex-presidente da OAB Estrela, Daniel Horn, e a jornalista Carine Krüger, do jornal Nova Geração, e o Diretor de Conteúdo Fernando Weiss, A Hora. O Fórum conta com o apoio dos jornais Nova Geração e A Hora.

PrintA pesquisa

Os entrevistados foram escolhidos com base na população de Estrela de 2010. O perfil dos pesquisados pode ser analisados no gráfico ao lado. Durante a coleta de dados, eles responderam a 30 perguntas sobre situações apontadas pelo IBGE.

Os questionamentos mostram uma sociedade em que prevalece a discriminação em virtude de gênero ou etnia. Os brancos têm mais oportunidades em relação aos outros grupos étnicos. As mulheres, apesar do mesmo nível de formação que os homens, recebem salários inferiores. Os mais pobres têm menos oportunidades e enfrentam o preconceito devido à renda obtida.

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