Hora de limpar a lama e  reconstruir estradas

Vale do Taquari

Hora de limpar a lama e reconstruir estradas

Estradas esburacadas, pontes destruídas e muita lama nas casas e ruas exige dedicação durante o fim de semana. Municípios contabilizam os prejuízos da cheia

Hora de limpar a lama e  reconstruir estradas
Vale do Taquari

Depois da chuva e da cheia do Rio Taquari é hora de calcular os estragos e limpar as cidades.

Em Lajeado, lava-jatos alugados pelo município limpavam as ruas do “Cantão do Sapo” e a Décio Martins Costa, mais conhecida com Rua do Valão. Nessa sexta-feira, dez pessoas da Secretaria de Agricultura e Urbanismo ajudaram a limpar o espaço da Feira do Produtor, e na tarde o Parque Professor Theobaldo Dick.“A água demorou para descer. Se tivesse sido mais rápido, ficaríamos prontos logo, mas agora ainda teremos muito trabalho pela frente”, comenta o secretário, Marcos Salvatori.

Desta vez, o lodo tomou conta dos locais atingidos, mais do que nas últimas vezes. “Encontramos muito lixo verde também”. Devido a sujeira intensa, o serviço deve ser mantido durante o fim de semana. “Queremos deixar tudo limpo para a próxima semana”, afirma.

A volta para casa

Por volta das 15h, a primeira família desalojada voltou para casa em Lajeado. Outra ganhou a autorização às 18h. As demais devem ser liberadas no fim de semana, e até segunda-feira. “Só permitiremos a volta quando a situação estiver segura para elas”, garante. Até às 16h de ontem, o nível do rio já havia baixado para 18.95 – 6,3 metros a menos do que a máxima atingida na quinta-feira, de 25.26. Nas outras cidades do Vale, apenas Colinas registrou na Defesa Civil Regional a volta de dez famílias para casa. Em Estrela, o retorno só ocorrerá a partir de segunda-feira.

Famílias são surpreendidas

Dorvalino Milane, 49, aluga sete residências no Centro. Todas foram atingidas pela enchente. Diferente das outras vezes em que presenciou o fenômeno, esta foi marcada pelo engano dos ribeirinhos. Parte de seus inquilinos perderam móveis e eletrodomésticos por acreditarem que o nível do rio não passaria dos 21 metros.

“Perderam sofá, colchões, máquinas de lavar, fogão, de tudo”. Em uma das casas alugadas, a água atingiu o teto do segundo andar e a lama cobria o chão, uma bicicleta, parte de um computador e um sofá. “Foi tudo às pressas. Eu nem poderia ajudar, mas fomos puxando o que deu”. O que não pôde evitar foi a queda do muro da lateral do terreno.

O mesmo ocorreu na casa da vizinha, Rosinei Linhares da Silva, 44. Ontem à tarde, com a ajuda dos filhos, ela limpava a residência, e reclamava da situação. “Deixei as coisas com familiares, aí não tive prejuízo. Mas minha irmã, que mora aqui em cima – no segundo andar – vai perder tudo. Ela achou que a água não iria entrar, e deixou tudo ali”. Rosane de Fátima da Silva, 48, ameniza: “Não estragou nada, só molhou”. Sem luz, ela ainda não havia testado os eletrodomésticos e eletrônicos.

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Em quatro meses, duas enchentes

Sem opção de emprego em Taquari, Najara de Vargas Garcia, 25, tenta uma oportunidade em Lajeado. Mora numa casa alugada no bairro São José, desde junho. Neste período enfrentou duas enchentes e perdeu o emprego. “Estragou roupa, alimentos e móveis. Foi tudo muito rápido, não deu tempo de tirar.”

Desempregada, faz faxina e auxilia no irmão Lindomar Vargas da Silva, 22, autônomo, que veio a cidade há um mês. Segundo ele, as perdas somam mais de R$ 1,5 mil apenas em móveis e eletrodomésticos. Está difícil conseguir trabalho e agora com essa inundação perdemos quase tudo, desabafa.

Poucos metros acima, Dilmar João Dias, 63, catador, lamenta a queda do muro na frente de casa, derrubado pelas máquinas da prefeitura durante a limpeza da rua após a cheia. Em 20 anos morando no bairro, calcula ser a vigésima enchente a qual presenciou. “Se tivesse condições compraria uma casa em outro lugar. A gente trabalha tanto para ter alguma coisa e aí vem a água e estraga. Difícil, mas precisamos continuar”. Em outras cidades do Vale, as famílias também limparam as casas ontem.

Um mutirão para limpar a escola

No Projeto Vida São José, cerca de dez mulheres, entre professoras e serventes, uniram-se para limpar a sujeira da enchente. O trabalho, iniciado na manhã de ontem, foi feito a base de lava-jatos, sabão e muita vontade. “Digo que sempre estamos juntos, nas horas felizes e tristes”, comemora a diretora do projeto, Eloir Terezinha Deboben. Além de limpar, elas também reuniam os materiais que deveriam ser descartados. “Perdemos mesas, cadeiras, estantes, classes”, contabiliza. O restante foi levado para o segundo andar da escola, antes que a água subisse.

Próximo à empresa Moamar, entrada do bairro Olarias – Lajeado, buraco abriu na pista após a chuvarada e aumenta o risco de acidentes

Próximo à empresa Moamar, entrada do bairro Olarias – Lajeado, buraco abriu na pista após a chuvarada e aumenta o risco de acidentes

Buracos nas estradas de chão e no asfalto

As estradas vicinais da região foram as mais atingidas pela chuva, e pela enchente. Em Lajeado, a Secretaria de Obras e Serviços Urbanos (Sosur) focou no concerto dos buracos. O Bairro Alto Conventos, segundo o secretário Osmar Rossner, foi o mais atingido. Na manhã de ontem, a Rua Arno Eckardt foi um dos pontos arrumados pelos servidores da pasta, que ainda concertaram a entrada para o Bairro Conventos. Uma travessia situada sobre o Arroio Saraquá também foi alvo da secretaria, assim como as ruas Pedro Sobrinho Ruschel, no Bairro Carneiros e Reinoldo Safran, no Bairro São Bento. “A maioria dos problemas foram causados pelo transbordo da água. Como estamos em turno único, paramos cedo e ainda ficou muito por fazer”, admite o secretário. Para as ruas asfaltadas é estudado o recapeamento.

Acidentes e estragos

A empresária Nildete Saltier, 45, sofre com o problema. Ela tem um estabelecimento na Rua Guilherme Adolfo Rieth na ligação com a ERS-421, no Bairro Conventos. A mulher conta que um buraco aberto há cerca de um mês na rodovia foi ampliado com as chuvas e agora causa risco de danos aos veículos, e perigo de acidentes. “Falei para o meu marido arrumar um cimento para colocar lá. Se passa alguém que não conhece o local, cai dentro do buraco”, teme.

Problemas no asfalto

Na BR-386, a situação não é muito diferente. É possível observar algumas crateras na via, e principalmente nos acostamentos. Os motoristas têm dificuldades para se locomover, e reclamam da situação. “Atrapalha bastante aqui. Percebi também nas estradas de chão”, cita Marcos Ferreira, 19. A reportagem entrou em contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que não respondeu acerca das medidas que devem ser tomadas para melhorar a situação. O órgão estaria sem contrato com a empresa de recapeamento. Em Imigrante, uma via segue interditada, assim como a ponte em Estrela.

Alerta para o perigo

Nesta sexta-feira, a Sosur ainda isolou uma parte do canal do Engenho, na Rua Décio Martins Costa, após a parede do valão rachar. Para o secretário Rossner, há ameaça de desmoronamento no local, o que deverá ser avaliado na segunda-feira pela equipe de engenharia do município. Em Conventos, o pontilhão que caiu depois da chuva, segue no mesmo estado e deverá ser reconstruído somente na próxima semana.

Enchente não deve voltar

Para o coordenador da Defesa Civil Regional, major Ricardo Accioly Gerhard, a enchente não deve voltar na próxima semana, apesar da previsão de chuva. “Conforme previsão dos meteorologistas e hidrometeorologistas, ainda que a instabilidade se afaste do Rio Grande do Sul, a atmosfera ainda segue bem instável e existe possibilidade de chuvas. Porém, acreditamos que a quantidade não será suficiente para causar cheia.”

Famílias desabrigadas

Lajeado: 55 desabrigadas (ginásio São Cristóvão ginásio bairro Montanha);

Estrela: 24 desabrigadas (ginásio municipal Ito Snel)

Cruzeiro do Sul: 11 desabrigadas (ginásio municipal do bairro centro);

Arroio do Meio: 10 desabrigadas (ginásio do bairro Glória);

Encantado: 8 desabrigadas

Taquari: 13 desabrigadas (salão igreja navegantes).

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