“Uma semana inteira de trabalho perdida.” A frase do proprietário de uma chapeação instalada no centro de Lajeado define o sentimento de quem enfrentou a segunda inundação em quatro meses. Isaías de Lima não conseguiu trabalhar desde domingo. Agora, calcula os prejuízos. “Vou trocar de ponto. Já peguei quatro enchentes em três anos. Não vale a pena, é muito transtorno”.
O nível do Rio Taquari superou os 25 metros ontem, chegando a 12 acima da altura normal no ponto de medição instalado junto ao Porto de Estrela. “Em menos de dez horas, a água tomou conta do nosso prédio”, diz Lima, sobre o empreendimento localizado próximo à av. Décio Martins Costa. Foi a maior enchente desde 2011, deixando mais de 200 famílias desabrigadas em Lajeado, Estrela, Arroio do Meio, Encantado e Cruzeiro do Sul.
Na maior cidade da região, pelo menos 57 famílias ficaram desabrigadas. Dessas, 33 foram removidas para o Centro Esportivo Municipal, no bairro São Cristóvão, e outras 24 no Montanha. “Além disso, removemos outras tantas para casas de parentes e amigos. Agora, esperamos por donativos, fraldas, leite, bolacha. Tudo para dar mais conforto às pessoas”, diz o coordenador da Defesa Civil de Lajeado, Gerson Barckert.
As famílias flageladas são dos bairros Centro – na área conhecida como “Cantão do Sapo” –, Conservas, Santo Antônio, Hidráulica e Moinhos. Segundo Barckert, são quase 170 pessoas desabrigadas, além de pelo menos 20 animais de estimação.
Ontem, as inundações atingiram também outros pontos de Lajeado. No bairro Carneiros, por exemplo, famílias ficaram isoladas por algumas horas em função do acúmulo de água sobre as ruas Pedro Ruschel Sobrinho e Lindolfo Labres, as duas estradas de chão que passam próximas ao Taquari.
Já nos pontos tradicionais de alagamento, como o Parque dos Dick e a av. Décio Martins Costa e ruas paralelas, o nível da água avançou por dezenas de metros durante a madrugada. Também foram bloqueadas a av. Beira Rio e as ruas Bento Rosa, São Sebastião, Francisco Oscar Karnal, Júlio May, João Pessoa, Alberto Torres, Santos Filho, Arnoldo Uhry, Carlos Spohr Filho, João Abott, General Osório, Pedro Petry e Saldanha Marinho.
Em Encantado, funcionários da empresa Baldo foram de parco para o trabalho. Município contabiliza 32 famílias atingidas pelo avanço do Rio Taquari
Mais de 60 famílias desabrigadas em Estrela
O município de Estrela está entre os mais atingidos do estado com as chuvas que perduraram de sábado até quarta-feira à noite. Segundo a Defesa Civil municipal, mais de 60 famílias ficaram desabrigadas. Dessas, 40 estão em casas de familiares e 22 foram levadas para o Ginásio Ito Snel, no bairro Oriental. A volta para casa deve iniciar na segunda-feira.
A Defesa Civil segue em plantão permanente. Algumas famílias ainda podem ser retiradas de casa hoje. Além disso, a administração começa a mensurar os prejuízos. Segundo a Defesa Civil, cerca de 50 ruas e estradas ficaram interrompidas em função do transbordamento do Rio Taquari e dos arroios Estrela e Boa Vista.
Os bairros mais atingidos são o Imigrantes, o Moinhos – no Loteamento Marmitt – e o Oriental. Até o fechamento da edição, estavam interrompidas, entre outras, as ruas Júlio de Castilhos, nas proximidades do Parque Princesa do Vale, a Arnaldo Diel, Tiradentes, Germano Hasslocher, Albino Francisco Horn, São Roque, Soledade e Santo Antônio, Olinda Mallmann e João Lino Braun.
Rua Gustavo Wienandts ficou parcialmente bloqueada próxima à Área de Lazer Pérola do Vale, em Arroio do Meio
Transtorno em Arroio do Meio
Em Arroio do Meio, a água acumulada pela sequência de chuvas atingiu residências de 61 famílias nos bairros Navegantes, São José e Centro. Desse total, nove foram removidas para o ginásio municipal do loteamento Glória, cinco estão em casas de amigos e familiares, e as demais estavam provisoriamente em pontos e terrenos mais distantes dos pontos de alagamento.
Na rua Gustavo Wienandts, por exemplo, que ficou parcialmente bloqueada em um trecho de quase 300 metros próximo à Área de Lazer Pérola do Vale, alguns moradores aguardavam, na calçada, o nível da água baixar. Com a interdição da via, veículos precisavam utilizar a rua Visconde do Rio Branco para acessar a ERS-130.
Além da rua Gustavo Wienandts, ficaram parcialmente bloqueadas a VRS-811, a rua Maracangalha, Dom Pedro II, Osvaldo de Oliveira, Marechal Floriano Peixoto – a estrada velha que liga Arroio do Meio e Lajeado pela Ponte de Ferro – e ainda as estradas gerais de Forqueta Baixa e da Cascalheira.
Cena curiosa em Encantado
Pelo menos 32 famílias foram obrigadas a sair de casa em Encantado. Dessas, segundo a administração municipal, 24 ficaram abrigadas no Parque João Batista Marchese e as outras oito estavam – até o fechamento desta edição – com familiares. No bairro Lago Azul, uma cena curiosa. Funcionários da empresa Baldo utilizaram um barco a motor para ir e voltar do trabalho. O flagra ocorreu por volta das 8h45min de ontem.
Isaías Lima instalou a empresa de chapeação faz três anos na rua Santos Filho
Demais cidades
Foram verificados problemas em pelo menos outras quatro cidades da região. Em Cruzeiro do Sul, 15 famílias foram retiradas de casa. Em Teutônia, não há registro de flagelados, mas o poder público avalia os prejuízos em ruas e estradas. Em Colinas e Bom Retiro do Sul, houve bloqueios. Só na ERS-129 eram quatro pontos com problemas. Também foi verificado problema em um ponto da rodovia estadual em Estrela, e outros dois em Bom Retiro do Sul, além da ERS-128. Também há registro de bloqueio da ERS-120, em Cruzeiro do Sul.
