Ex-Militar relembra  episódios da 2ª Guerra

Boqueirão do Leão

Ex-Militar relembra episódios da 2ª Guerra

José da Silva atuou como pracinha na Itália em 1945

Ex-Militar relembra  episódios da 2ª Guerra
Vale do Taquari

O aposentado José Vedoy da Silva, 95, é chamado pelos amigos de “Dedé”. Quem o vê pela primeira vez não imagina a história vivida por ele. Dedé serviu o Brasil durante a 2ª Guerra Mundial. Passou por momentos de angústia e tensão ao lado dos aliados italianos e americanos e também sofreu com a falta de notícias dos amigos e familiares durante os dez meses que ficou no Velho Mundo.

Dedé servia o Exército no quartel de Santa Maria. Após um ano de treinamento, embarcou com outros 19 soldados para a Itália. Era uma noite de maio do ano de 1944. Os soldados gaúchos iam de trem até o comando central da missão, no Rio de Janeiro. De lá, os 20 militares navegaram por duas semanas até atracar no porto de Nápoles, na Itália.

Integrou o pelotão que avançava sobre solo italiano buscando expulsar os soldados da Alemanha nazista. Divididos em grupos de 12 pracinhas, protegiam o armamento e a comida de toda tropa. Vedoy retornou ao Brasil em agosto de 1945, já no fim da guerra, sendo recebido com festa na comunidade de Passo de Pedras Brancas.

Nas últimas semanas em solo italiano, teve receio do futuro. Ele e outros pracinhas temiam ser enviados para o Japão. “Ao embarcar no navio, o medo era de não ser enviado ao Brasil e sim participar das ofensivas de ataque às tropas do império japonês.”

Batalha de Monte Castelo

José Vedoy participou da Batalha de Monte Castelo, em novembro de 1944, após cumprir as missões na frente de batalha no vale do Rio Serchio, avançaram à divisa central das regiões Toscana e Emília-Romanha.

As posições de artilharia alemãs eram privilegiadas, submetendo os aliados a uma vigilância constante, dificultando qualquer avanço em direção à Bolonha e ao Vale do Pó. “Ficamos dias e dias sobre fogo cruzado, diversos soldados morreram nos ataques aéreos.”

Muitos aliados ficaram pelo caminho

A Hora – Lembra do dia em que foi convocado, qual sua reação?

José Vedoy da Silva – Eu tinha 22 anos na época, estava servindo o Exército na base de Santa Maria. Em uma noite de maio, o comandante separou nosso grupo e duas enfermeiras entraram para fazer uma avaliação. Ninguém imaginava que estaríamos indo para a Itália e muito menos para uma guerra. Não deu tempo de pensar em nada.

Como foi ficar longe da família. Teve contato com eles e quanto tempo permaneceu fora?

Vedoy – Foram momentos de angústia, durante os meses em campo de guerra, não tinha como me comunicar com meus pais. O comando brasileiro enviava boletins informativos aos familiares dos combatentes, mas nunca recebemos alguma resposta. No grupo que estava, a maioria era americanos, não conseguia nem falar com eles, mas todos sabiam o que era preciso fazer.

Perdeu companheiros nos campos de batalha. Teve que matar muitos soldados inimigos?

Vedoy – Dos meus amigos e companheiros de quartel, nunca mais tive notícias. Depois que embarcamos no navio com milhares de soldados, perdi o contato. Não tenho nem ideia de quantos inimigos matei, pois era a minha vida ou a deles. Eu não tinha escolha, se nós não atirássemos, atiravam em nós. Não poderia ter compaixão naquele momento. Muitos aliados ficaram pelo caminho e não tinha como salvá-los, era preciso avançar.

Na época era inverno na Itália, passou muito frio, sede, fome e medo?

Vedoy – As temperaturas eram negativas, tinha neve por todo o lado. Mas a adrenalina era tanta que não sentia frio, nem sede e fome. Também não dava para sentir medo, os americanos tinham uma boa estrutura, eles que nos forneciam alimentação, roupa e armas. De certo modo, me sentia seguro ali. A comida era servida em potes de metal que carregávamos junto com o cantil de água. À noite, nos revezávamos a cada duas horas para monitorar a movimentação dos inimigos.

O que mais lhe marcou durante a guerra?

Vedoy – Ver aquelas famílias no meio do fogo cruzado. Crianças em meio aos escombros. A crueldade entre povos sem dúvida impacta minhas lembranças até hoje. Aquilo tudo mudou muito a minha vida. Teve um confronto em que escapei por pouco. Por sorte, sempre carregava uma pá. E, quando o inimigo abriu fogo, tive que cavar uma vala para me abrigar, se não teria morrido naquela emboscada.

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