Tratamento do câncer requer acompanhamento psicológico

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Tratamento do câncer requer acompanhamento psicológico

Conscientização e prevenção são as marcas registradas do Outubro Rosa. Mas quem está em tratamento pode necessitar falar sobre seus medos e sentimentos com profissional da área de psicologia

Tratamento do câncer requer acompanhamento psicológico
Vale do Taquari

Este mês é marcado por uma campanha intensa de conscientização ao câncer de mama. Inerente ao tratamento da doença, o acompanhamento psicológico é parte importante. Isso porque as mudanças na rotina e a invasão do tratamento podem mexer com a parte psíquica da paciente. A psicóloga Rebeca Katz comenta sobre esse momento delicado que requer muito apoio.

A Hora – Qual a importância do acompanhamento psicológico durante o tratamento de câncer?

Rebeca Katz – O tratamento é um processo não só orgânico, como também psicológico e psíquico. O estigma ao tratamento psicológico é muito forte. Ainda se acredita que quem faz acompanhamento é louco. Até os próprios psicólogos se tratam e, muitas vezes, nem têm doenças diagnosticadas. Não é por que se busca um tratamento que o médico vai abrir o manual de diagnósticos de doenças mentais para encaixar o paciente em uma coisa. Não é assim que funciona.

O que deixa o paciente de câncer debilitado psicologicamente?

Rebeca – Tudo que parte das nossas fantasias e medos tem um peso grande. Falamos de uma doença em que a primeira coisa que vem à cabeça é a morte. Para o paciente e a família, é impossível descartar isso. Mesmo saudáveis, as pessoas sentem medo de morrer. Imagine quem está doente. Não é uma doença que você recebe o diagnóstico e vai para casa esperar algo acontecer. É um tratamento invasivo e dolorido, com uma rotina desgastante.

Quais os tratamentos psicológicos nesses casos?

Rebeca – Existem vários tipos. A psicanálise, por exemplo, só é procurada a partir de um sofrimento psíquico, de algo que incomode. O paciente nunca vai chegar para o profissional e dizer que está muito bem e, mesmo assim, quer se tratar. Outras terapias também são buscadas por uma determinada causa, e foca só no momento que você está passando. A psicanálise abrange mais coisas porque ela entende que aquilo é só a ponta do iceberg. Há mais por “baixo”.

Existe o medo da morte relacionado ao tratamento?

Rebeca – Querendo ou não, o câncer é doença relacionada à morte. É um medo inerente do ser humano. O câncer assusta e nos torna muito impotentes. Dá sensação de impunidade porque não há quem culpar. O ser humano não sabe lidar com questões em que não se pode culpar o outro.

A psicologia é ameaçadora também por causar essa sensação de impotência. Ainda mais quando a pessoa se dá conta de que ela não controla as coisas dentro de si. Essa sensação é ruim, por isso, o autoconhecimento é tão bom. E é uma coisa que o tratamento psicológico, ou outros procedimentos alternativos, vão proporcionar.

Como isso é trabalhado?

Rebeca – O primeiro passo é ouvir. O medo da morte existe dos dois lados: do paciente e do analista. Não é um assunto fácil para ninguém. Depende muito de como o paciente traz isso. O medo pode ser muito grande, mas disfarçado. Às vezes, leva tempo para se dar conta de que o que ele sente é medo de morrer. É preciso falar sobre isso, sem dúvidas. Mas o profissional nunca pode ser mais invasivo que a própria doença. É preciso ser respeitoso com aquele momento.

É preciso descobrir o que significa a vida para aquela pessoa. Para cada um há uma resposta diferente. Pode ser o medo de ser cuidado, de se tornar um peso para a família, medo de deixar as pessoas que ama.

Qual a importância de iniciativas como o Outubro Rosa?

Rebeca – A ideia do Outubro Rosa é muito boa porque dá um alento ao mostrar dados de pessoas que se recuperaram. Estamos acostumados a ver o horror. Então, ele quer dar a ideia de “sim, temos o que fazer”. E isso é muito importante. Nos tira um pouco a sensação de impotência, que leva ainda mais para baixo.

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