Projeto tenta levar paz aos colégios

Vale do Taquari

Projeto tenta levar paz aos colégios

Evento promovido pela 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) abordou a pacificação do ambiente escolar como forma de resolver a violência na sociedade. Painel com educadores, psicólogos e juristas integra programa Cipave, que trabalha o tema nas escolas durante o ano letivo.

Projeto tenta levar paz aos colégios
Vale do Taquari

A violência e a falta de interesse dos alunos das escolas públicas desafiam educadores e autoridades. Casos como o da escola São João Bosco, de Lajeado, onde a indisciplina de crianças do ensino fundamental quase resultou no encerramento de turmas, demonstram a urgência do debate sobre o tema.

Nesta sexta-feira, 14, diretores e professores das escolas de abrangência da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) se reuniram com representantes do judiciário para buscar soluções aos conflitos enfrentados no ambiente escolar. O evento lotou o auditório do prédio 11 da Univates e teve a presença do secretário de Educação, Luís Antônio Alcoba de Freitas.

Freitas enalteceu a presença do Cipave em todas as escolas de abrangência da 3ª CRE. Segundo ele, a região se destaca pela participação da comunidade nas escolas. “Onde a família e a sociedade se envolvem, o pertencimento à escola funciona bem e sentimos isso no Vale do Taquari.”

Primeiro palestrante do dia, o promotor Sérgio Diefenbach falou sobre a necessidade de estabelecer uma cultura de paz nos estabelecimentos de ensino. Para o representante do Ministério Público, não é possível pensar em intervenção social, seja na educação ou na justiça, sem estimular a pacificação social.

“Isso não se dá somente pela punição, que é necessária, mas também na restauração das relações emocionais e sociais”, aponta. Segundo ele, esse tipo de abordagem reduz sentimentos como raiva, ódio e vingança, causadores da violência.

“Se conseguirmos reproduzir essa ideia desde as menores idades, seguramente teremos uma sociedade menos conflituosa no futuro”, acredita. Conforme o promotor, o trabalhos semelhantes ao do Cipave foram exitosos em diversos países do mundo que hoje são exemplos em educação.

Diefenbach ressalta que as escolas representam um retrato da sociedade. Diante de um momento histórico onde a violência alcança índices alarmantes, reforça o papel dos educandários no sentido de reverter essa situação.

Para ele, a ausência de uma segurança pública satisfatória tende a desintegrar as relações entre as pessoas, que passam a não confiar em mais ninguém. “Começamos a regredir como sociedade, e a melhor forma de revertermos esse cenário é na formação que ocorre dentro das escolas, com apoio da família e da comunidade.”

Conforme o promotor, é preciso estabelece métodos para evitar que os jovens encontrem nos conflitos a solução para seus problemas. “Temos consciência de que esse trabalho não vai solucionar o problema da violência de hoje, mas visa resolver a convivência como sociedade nos próximos anos.”

Em seguida, o juiz da vara de Infância e Juventude do Fórum de Lajeado, Luís Antônio de Abreu Johnson, falou sobre os trabalhos da justiça restaurativa, modalidade que visa solucionar os conflitos sem a necessidade de processos judiciais.

O juiz apresentou imagens do presídio estadual de Lajeado para mostrar a realidade enfrentada pelos detentos da região. Segundo ele, propostas como a do Cipave são capazes de impedir que jovens tenham o mesmo destino das pessoas que cumprem pena na penitenciária.

Na parte da tarde, o psicólogo Paulo Henrique Moratellli abordou métodos para implementar os conceitos da justiça restaurativa nas salas de aula. Em seguida, foi a vez da professora Maria Elisa Goulart Chagas falar sobre a mediação dos conflitos nas instituições de ensino.

Juiz da Vara de Infância e Juventude de Lajeado, Luís Antônio de Abreu Johnson apresentou fotos mostrando a realidade enfrentada pelos detentos do presídio regional.  Para ele,  propostas como a do Cipave são capazes de impedir que jovens tenham o mesmo destino

Juiz da Vara de Infância e Juventude de Lajeado, Luís Antônio de Abreu Johnson apresentou fotos mostrando a realidade enfrentada pelos detentos do presídio regional. Para ele, propostas como a do Cipave são capazes de impedir que jovens tenham o mesmo destino

Realidades distintas

A atividade foi encerrado com uma rodada de relatos de educadores e diretores participantes. Para a professora Jacinta dos Santos Cagliari, da escola José Plácido de Castro, de Relvado, os conceitos do Cipave se aplicam mesmo em realidades distintas.

“Nossa cidade é interiorana, sem muitos conflitos, mas trabalhamos na prevenção para que esse clima harmonioso permaneça”, afirma. Segundo ela, os principais problemas existentes no colégio estão relacionados ao Bullying e o programa visa conscientizar os alunos para que os casos não ocorram.

Já a diretora da Escola de Educação Profissional Estrela, Ana Rita Berti Bagestan, comanda uma instituição onde adolescentes e jovens adultos convivem em um mesmo espaço. “Temos alunos em idade de ensino médio e pós-médio e o Cipave veio fortalecer ainda mais as relações humanas e afetivas, auxiliando também no ensino.”

Para ela, Ana a presença de alunos com mais maturidade faz com que a instituição tenha menos problemas na comparação com outros colégios. Mesmo assim, relata a administração de outros níveis de conflito por meio do Cipave. “Por ser uma escola profissional, nosso aluno precisa aprender a administrar também as relações conflituosas no trabalho.”

Diretora da Escola São Rafael, de Cruzeiro do Sul, Ângela Maria Dullius Diehl, o encontro serviu também para conhecer novas formas de perceber a problemática dos conflitos escolares. “O Cipave veio para organizar essas ações que ocorriam de forma isolada nas escolas.”

Segundo ela, o estreitamento das relações com o poder judiciário aumenta a segurança das escolas na implementação dos conceitos trabalhados pelo programa. Conforme Ângela, o êxito da estratégia é favorecido pelo fortalecimento das relações entre a comunidade escolar, autoridades e o poder público.

Coordenadora da 3ª CRE, Greicy Weschenfelder, o seminário cumpriu com os objetivos estabelecidos pelo programa. Conforme Greicy, a participação de representantes de todas as escolas da região demonstra a dedicação dos educadores com o Cipave.

2016_10_14_thiago-maurique_cipave_seminario_painel“O envolvimento da sociedade e da família na escola qualifica a educação.”

A Hora – Como você avalia o seminário e a importância do Cipave?

Luís Antônio Alcoba de Freitas – Este evento é singular no Estado porque reúne também representantes dos magistrados e do Ministério Público, que são atores importantes nesse combate a violência nas escolas. Aqui no Vale do Taquari, para nossa satisfação, todas as escolas de abrangência da 3ª CRE possuem Cipave. A proposta do governo do Estado é formar essas comissões nas escolas para que possam identificar identificar os problemas, encontrar as soluções em contato com órgãos como a Brigada Militar, a Polícia Civil e o Judiciário. Questões trabalhadas no seminário, como justiça restaurativa e cultura de paz, fazem com que possamos ter um ambiente melhor e mais propício para a educação nas escolas.

Programas como o Cipave não exigem grandes recursos para serem executados. Qual a importância desse tipo de iniciativa diante da crise do Estado?

Freitas – O Cipave exige pouca coisa. Gastamos apenas com a elaboração de cartilhas. Depende mais da participação da própria comunidade escolar para se organizar e discutir e propor temas dentro das escolas. O custo é baixo e o resultado é excelente no sentido de reduzir os índices de violência. Queremos que a escola ajude, junto com a família e com a sociedade, a formar melhores cidadãos para o futuro.

Como é o desafio de reunir professores, pais e alunos em um mesmo projeto?

Freitas – Aqui no Vale do Taquari isso ocorre com bastante frequência. A região é um exemplo para as demais, pois temos escolas bem cuidadas, um sentimento de pertencimento por parte das comunidades, que compreendem a importância das instituições para o futuro de seus filhos. Serve como exemplo, principalmente para as grandes cidades do Estado. O envolvimento da sociedade e da família na escola qualifica a educação.

Recentemente as equipes diretivas e pedagógicas das escolas discutiram mudanças para o currículo de 2017. Entre elas, está um maior espaço para a disciplina de Ensino Religioso, com foco em noções de ética e cidadania. Como você avalia esse processo?

Freitas – Nós temos uma discussão para reformular principalmente o Ensino Médio. No atual modelo, os alunos estão aprendendo pouco. É muita matéria e o rendimento não acompanha esse volume. Os índices do IDEB no Ensino Médio são muito ruins e os de evasão são muito altos. Precisamos que a escola se torne mais atrativa e tenha temas mais relacionados com a realidade. Também é preciso uma ligação com o futuro, para que a escola seja útil na vida pessoal e profissional. Precisamos de um currículo mais atrativo, que tenha a ver com segurança, cidadania, meio ambiente, tecnologia e todas as coisas que fazem parte do dia a dia do jovem.

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