A crise política trouxe impacto na composição das Câmaras de Vereadores. Na região, a próxima legislatura terá mudança em 56,1% das cadeiras . Das 358 vagas, 201 serão ocupadas por novos membros. As outras 157 (44%) ficam com parlamentares reeleitos durante votação do dia 2 de outubro.
Os dados podem ser analisados no infográfico ao lado. As informações foram obtidas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas 38 cidades da região, 1.556 nomes participaram do pleito. Deste total, 259 tentaram reeleição. Isso representa 16,6% das candidaturas. Os números levam em consideração vereadores e suplentes. Pelo menos 81,3% do total de candidatos – 1.297 – são nomes inéditos na disputa.
O único município que renovou 100% das cadeiras foi Dois Lajeados. A cidade registrou a menor taxa de reeleição. Osmar dos Santos (PTB) foi o único vereador que participou do processo, mas não obteve vitória. Essa é a primeira vez que ocorre uma alteração tão expressiva. Em 2012, por exemplo, das nove cadeiras houve mudança em apenas quatro. A situação deste ano foi motivada pela conjuntura política nacional e estadual.
Segundo o presidente da Câmara de Vereadores do município, Aldiceu Cenci (PV), esse aspecto tem tornado a imagem do político desgastada e desacreditada. Além disso, o quadro local também influenciou no resultado. “Muitos vereadores trocaram de partido, isso trouxe uma certa instabilidade política local.”
Conforme ele, logo depois, os parlamentares deixaram a base do governo. Após esse processo, começaram a construir uma coligação, que no dia 2 de outubro elegeu Tiago Grando (PMDB), para administrar a cidade pelos próximos quatro anos. “Nossa proposta era renovar o Legislativo e o Executivo. O município era administrado faz 8 anos pelo PDT e DEM. A própria população espera mudanças no cenário político da cidade.”
Na avaliação dele, os vereadores preferiram não concorrer por considerar que a alteração de partidos poderia ser rejeitada pela população. A média de idade dos ocupantes é de 39 anos. Todos são homens, declarados brancos. Sete são agricultores, um é aposentado e um empresário.
Reeleição
Canudos do Vale e Santa Clara do Sul registraram renovação de 22,2% da composição Legislativa. Foram os locais com menor índice da região. Nestas cidades, apenas dois novos vereadores preenchem as cadeiras.
Em Canudos são duas mulheres: Sandra Bianchini (PDT) e Dalva Grahl (PMDB). Em Santa Clara do Sul, Rosani Richter (PP) foi a vereadora mais votada. Ela e Airton Teloken (PP), o Telê, são os novos representantes.
Entre os municípios com maior taxa de reeleição também destaca-se Santa Clara do Sul. Pelo menos, 11 concorrentes participaram do processo na tentativa de permanecer nas cadeiras. Desse número cinco são suplentes.
O reeleito e segundo vereador mais votado é Mauro Heinem (PMDB). Segundo ele, a baixa taxa de renovação ocorre em virtude do reconhecimento do bom trabalho realizado pelos atuais legisladores ao município. “Atribuo meu resultado pela forma como atuei. Neste período consegui obter recursos com o Estado e a União aplicados em projetos na cidade, tive presença ativa na comunidade e todos os anos apresentei prestação de contas das ações desenvolvidas.”
Estrela foi a cidade com índice de reeleição mais alto e pelo menos 13 participaram do processo. Lajeado aparece em terceiro lugar, com 11 nomes. Fazenda Vilanova e Arroio do Meio, cada um teve 10 parlamentares que tentaram retornar ao Legislativo.
Os cinco maiores
Entre as cinco maiores cidades da região, Teutônia registrou maior renovação com índice de 72,7%. Das 11 cadeiras da Câmara, oito serão preenchidas por novos representantes. Sete tentaram reeleição e três conseguiram.
Encantado renovou 63,6%. Das 11 vagas, sete são ocupadas por novos vereadores e quatro foram reeleitos dos sete que tentaram permanecer na Casa na próxima Legislatura.
Pelo menos 54,5% das cadeiras, em Arroio do Meio, passarão para seis novos agentes políticos. Cinco foram reconduzidos para a Casa.
Em Lajeado o índice foi de 53,3%. Oito são novos e sete permaneceram. Estrela registrou a menor taxa com 46,1%. Seis passam a integrar o espaço e sete reeleitos.
Renovação relativa
A crise política foi um dos elementos centrais que resultou na mudança dos espaços Legislativos. Para a cientista política e professora do departamento de história da UFRGS, Céli Pinto, nos últimos anos se construiu uma ideia negativa dos políticos que estão no poder.
“Esse discurso é muito forte e, com isso, os eleitores tendem a votar em novas pessoas. Isso explica a renovação nesse momento.” Segundo a especialista, esse resultado está ligado a desestrutura dos partidos e a ideia que o novo é sempre bom.
Nesse contexto, qualquer candidato com a possibilidade de construir um discurso e se apresentar como uma nova alternativa pode ser vitorioso. Nessas situações, os novos agentes nem sempre simbolizam a alteração esperada e podem trazer traços de práticas costumeiras da velha política.
“Temos um exemplo na história do Brasil que foi o Collor e representa tudo o que foi velho. Ele tinha sido prefeito, nomeado pela Ditadura. Um pai senador durante a Ditadura Militar, mas se apresentou como novo.”
Conforme Céli, tudo que se apresenta nessa perspectiva, em um momento de crise, é atrativo para o eleitor. “Ele vota no novo porque há todo um discurso anti-política e anti-políticos no país.” Na avaliação dela, a construção de uma nova forma de fazer política pelos representantes é relativa nessas situações.
