Ativista lajeadense é objeto de estudos

Vale do Taquari

Ativista lajeadense é objeto de estudos

Universidade Federal de Santa Maria sedia o primeiro encontro sobre Espertirina Martins

Ativista lajeadense é objeto de estudos
Vale do Taquari
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As ideias libertárias da lajeadense Espertirina Martins serão recontadas por um grupo de estudos no Centro de Artes e Letras da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O encontro ocorre neste sábado, a partir das 10h. Serão seis reuniões que ocorrerão a cada 15 dias.

Temas como organização política e inserção em lutas de massas serão avaliados, assim como a Aliança de Mikhail Bakunin, Plataforma de Anarquistas Russas, por Dielo Trouda e especificismo sul-americano, do qual faz parte a organizadora Federação Anarquista Gaúcha (FAG). Serão abordados ainda textos de teóricos e ativistas italianos Errico Malatesta e Camilo Berneri.

Espertirina Martins é uma das figuras pouco conhecidas nos livros de história. É reconhecida, entretanto, como uma das 12 mulheres mais importantes nas lutas operárias do início do século XX. Junto com familiares e amigos, enfrentou o Estado para a conquista de direitos dos trabalhadores.

Os operários, em greve, organizam o enterro de um colega assassinado pelo Estado. Milhares de operários e crianças acompanhavam o cortejo em procissão pela avenida João Pessoa, em Porto Alegre. Na linha de frente, estava Espertirina Martins, com 15 anos, vestida de noiva e carregando um buquê de flores.

Do lado oposto, vinha a carga de cavalaria da polícia para reprimir a procissão dos operários. Quando os dois grupos se encontraram, Espertirina se aproximou dos agentes públicos, prontos a atacar, e jogou o buquê. Entre as flores, estava escondida uma bomba. O artefato explodiu, matando metade da tropa e assustando os cavalos. Começou então uma verdadeira batalha campal e os operários saíram em vantagem.

A bomba havia sido fabricada pelo cunhado Djalma Fetterman, um dos principais apoiadores das Escolas Modernas, exercendo papel importante como articulador de diversas ações diretas contra a opressão do Estado durante a greve geral de 1917, em plena Primeira Guerra Mundial.

O clima da época era de revolta. Borges de Medeiros era o governador do RS e enfrentou uma das maiores greves da história. A industrialização primitiva exigia trabalho pesado, análogo ao escravo. Os salários eram baixos e mal cobriam o sustento básico. Dentro das fábricas, um cenário insalubre, com disseminação de doenças e 15 horas diárias de trabalho.

O levante contra o Estado exigia a diminuição do valor dos preços dos alimentos, água, bonde e aluguéis e, sobretudo, extinguir a exploração da mão de obra infantil. A vida urbana estava tomada por greves e conflitos entre capitalistas e operários.

Um buquê de significados

Espertirina nasceu em Lajeado, em 1902. Era filha de anarquistas e acompanhava a família nas lutas operárias. Teve o curso primário completo, estudou violino, escrevia e era oradora ardente. No prelo portátil, imprimia os panfletos e jornais revolucionários, distribuindo-os nas fábricas e bairros operários. Tornou-se feminista convicta ainda na juventude. Atuou também no Rio de Janeiro, promovendo atividades revolucionárias em grupos feministas e anarquistas.

A irmã, Dulcina, havia casado com Djalma Fetterman, criador do novo buquê explosivo. Se casou com Fabião Carneiro e em 22 de dezembro de 1942 morreu devido às complicações de um parto prematuro e a uma apendicite.

Inspiração vem do Vale

Espertirina foi aluna de Malvina Tavares, uma das mais ativas militantes anarquistas brasileiras, poetisa e pioneira da educação libertária na Região Sul. A professora, que está enterrada em Cruzeiro do Sul, inspirou diversos alunos às ideias de luta de classes.

De acordo com o bisneto de Malvina, o empresário Aristides Tavares, a professora foi isolada pelo Estado ao ser transferida para um vilarejo onde hoje é a cidade de Cruzeiro do Sul que não tinha escola na época.

Segundo Tavares, ela é o maior exemplo para os jovens de hoje. “Eram ideias de pessoas cultas, que viam a possibilidade de um novo mundo.”

Nessa geração de militantes, elencavam admiração por ela Armando Martins, Artur Fabião Carneiro, Cecílio Villar, Dulcina, Eulina, Espertirina Nino e Virgínia, todos de sobrenome Martins. Quando adultos, se tornaram articuladores anarquistas e sindicalistas.

Um buquê-bomba

Djalma Fettermann, cunhado de Espertirina, teve uma atuação na greve geral de 1917 e nos movimentos que precederam e sucederam, principalmente nas ações de rua, contra a polícia e os fura-greves.

Adepto da ação direta, aperfeiçoou um dispositivo de detonação de bombas.

A luta direta era por melhores condições de trabalho. As fábricas não tinham janelas, havia uma carga de 15 horas diárias de trabalho. Muitos acidentes ocorriam em ambiente insalubre, sem indenização. Não havia aposentadoria e grande parte da força de trabalho era constituída por crianças de 5 anos de idade, frequentemente espancadas pelos patrões.

Em 1920, metade dos trabalhadores das fábricas de tecidos do país era de mulheres e crianças com menos de 14 anos. Grande parte dos trabalhadores era de imigrantes vindos da Europa, em especial da Itália.

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