Redução do preço do leite traz angústia aos produtores

Estado

Redução do preço do leite traz angústia aos produtores

Após alta histórica, produtores amargam queda de até 24% entre julho e setembro

Redução do preço do leite traz angústia aos produtores
Estado
oktober-2024

Enquanto o consumidor celebra a redução do preço do leite longa vida nos supermercados, a situação desanima ainda mais quem persiste na atividade. Com a oferta maior do produto, devido à melhora nas pastagens após o período de entressafra, a baixa angustia os produtores.

Dados do Conselho Estadual do Leite (Conseleite) indicam que o preço de referência pago ao produtor em setembro ficou em 1,0054 por litro – quase 15% inferior ao mês anterior. Entre julho e setembro, a redução chega a 24%.

Segundo o presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva, o valor pago pelo litro caiu até R$ 0,40, enquanto os custos de produção se mantiveram estáveis. “O produtor está angustiado. Temos um cenário de muita instabilidade no setor.”

Vice-presidente da Gadolando, Marcos Tang critica o modelo atual. Esse sobe e desce vai quebrar a cadeia. Se nada for feito, cooperativas e indústrias brigarão pela matéria-prima nos próximos meses, a exemplo do que ocorreu com o milho, aponta.

Ele cobra mais segurança e preços justos a quem aposta na atividade leiteira. Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindilat, atribui a queda ao aumento das importações, principalmente do Uruguai. “O mercado regula o valor a ser pago. A indústria não tem como segurar a baixa, mas é preciso auxiliar quem produz.”

De acordo com o vice-presidente do Conseleite, Jorge Rodrigues, a situação é muito crítica “porque estamos com preço muito abaixo do que deveria. Existe uma oferta maior sim, mas a dúvida é “quem vai resistir nesse mercado.”

Audiência debate saídas

Representantes da cadeia produtiva estiverem reunidos em audiência pública na semana passada em Brasília. O debate foi coordenado pela presidente da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, Ana Amélia Lemos.

Definição de cotas de importação e compra de leite pelo governo federal estão entre os encaminhamentos. Segundo o secretário estadual de Agricultura, Ernani Polo, o cenário é muito dramático. “Muitos fizeram investimentos para elevar a produção e agora amargam prejuízo. Está quase inviável se manter na atividade”, resume.

Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o volume totalizou 25 mil toneladas, alta de 7% com relação ao mês de julho deste ano. Entre os meses de janeiro e agosto, o país importou 153,38 milhões de quilos, 81% mais em toneladas, se comparado ao mesmo período do ano anterior.

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Queda de R$ 0,30

Há quatro anos, a empresária do ramo de construção civil, Alexandra Oliveira, resolveu investir na atividade leiteira, no interior de Boqueirão do Leão. Na época, com a economia em crescimento, especialistas apontavam o leite como uma atividade promissora, relembra.

Com um rebanho de 32 vacas, a média produzida por dia chega a 670 litros. Em agosto, o valor pago pelo litro chegou a R$ 1,29, uma redução de R$ 0,30, comparado com o mês anterior. Enquanto isso, o quilo da ração se manteve em R$ 1,09. “Se cair mais ficará inviável produzir. Precisamos ter um preço mínimo.”

Alexandra não pretende ampliar o plantel ou investir em melhorias na infraestrutura. Seguirá apenas com o programa de melhoramento genético, em que as vacas de menor produtividade serão substituídas gradativamente.

Para reduzir os custos com ração, pretende ampliar a oferta de pasto verde. “Nossa ideia é implantar um sistema de irrigação, mas com a margem apertada de lucro esse projeto ainda será reavaliado.”

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