Histórias infantis  estimulam inclusão de pessoas com deficiênica

Lajeado

Histórias infantis estimulam inclusão de pessoas com deficiênica

Livros abordam temática da deficiência em contos

Histórias infantis  estimulam inclusão de pessoas com deficiênica
Lajeado
oktober-2024

O fisioterapeuta e escritor Cristiano Refosco apresentou palestra sobre sua coleção de livros inclusivos. A obra transforma personagens como Chapeuzinho Vermelho e Branca de Neve em pessoas com deficiências, com a intenção de trabalhar a temática no público infantil.

Alusivo à Semana da Criança, o evento promovido pelo Núcleo de Assessoria e Consultoria em Educação e Saúde (Naces) ocorreu ontem, na sede da Apae. Refosco trabalha com crianças com deficiência faz 16 anos. Ele falou sobre sua experiência profissional e os motivos para criar a coleção composta por 11 publicações e um CD com a áudiodescrição das histórias.

Conforme o escritor, a intenção de criar os contos de fadas inclusivos é fazer com que as crianças sem deficiência entrem em contato com temas pouco discutidos em casa ou na escola. Entre eles, estão questões como acessibilidade e respeito às diferenças.

Além disso, o trabalho também permite que crianças com deficiências se identifiquem com personagens já conhecidos dos contos infantis. “É muito gratificante quando recebo depoimentos de pais e professores falando do envolvimento e do interesse que as crianças demonstram pelas histórias”

Os contos de fadas inclusivos estão na segunda edição, com inlustrações de Thiago Luz. São 11 livros divididos em três volumes. Entre os títulos, estão Chapeuzinho da Cadeirinha de Rodas Vermelha, Branca Cega de Neve, João sem Braços e o Pé de Feijão, O Pequeno Polegar que não Conseguia Caminhar, Alice no País da Inclusão e Pinóquio das Muletinhas.

“A maioria das crianças com deficiência quer ter uma vida normal”

A Hora – Por que você decidiu escrever livros infantis voltados para a inclusão?

Cristiano Refosco – Encontrar esse nicho de mercado foi uma consequência do trabalho. O que me chamou a atenção para essa temática foi minha experiência como fisioterapeuta, onde trabalho faz 16 anos com crianças com deficiência. Percebi que aqueles meninos e meninas sem deficiência que acompanhavam seus irmãos tratavam a deficiência de uma forma muito natural, ao ponto de fazerem corridas com as cadeiras de roda. Isso me chamou atenção, porque as pessoas geralmente têm uma certa relutância em relação às deficiências. Cheguei à conclusão de que isso ocorre porque desde cedo elas tinham contato com essa vivência com seus irmãos. A partir disso, comecei a pensar em como fazer para que as crianças sem essa mesma vivência tivessem acesso a essas informações. Eu já gostava de escrever desde pequeno, então tive essa ideia.

Por que a escolha de adaptar os contos de fada já conhecidos?

Refosco – Se eu tivesse feito a historinha da Mariazinha na cadeira de rodas seria legal, mas ninguém sabe quem é esse personagem. Já a Chapeuzinho Vermelho todo mundo sabe quem é e tem uma relação de infância com o personagem. Então, colocar ela na cadeira de rodas pode ter chocado algumas pessoas. Mas no geral a ideia foi muito bem aceita e criou essa aproximação entre a deficiência e o personagem já conhecido pelas crianças.

Qual a principal dificuldade que você enfrentou com a proposta diante do mercado editorial?

Refosco – Foram dois anos para conseguir verbas e lançar o projeto, em 2012. Consegui o apoio da Lei Rouanet, mas essa lei não disponibiliza os recursos e sim autoriza a captação de recursos. Montei uma equipe e fomos em várias empresas. Se for pra patrocinar um show da Ivete Sangalo pela Roanet é fácil. Mas um livro sobre inclusão é muito difícil. Como era um projeto caro, de quase R$ 200 mil, a captação foi o mais complicado. O valor era alto porque, além dos livros, também fizemos a áudiodescrição do material. Felizmente, as empresas que ajudaram ficaram bastante surpresas com a repercussão do projeto.

Como é trabalhar temas inclusivos em uma sociedade cada vez mais individualista?

Refosco – Para mim não é tão difícil devido à minha experiência profissional. Quando pensei nesses livros, pensei naquelas crianças sem deficiência e em como elas poderiam ter esse acesso. Em contrapartida, as crianças com deficiência acabaram se identificando com os personagens. Então, escrevo para todas as crianças para que elas entendam que aquelas com deficiência não são nem coitadinhas, nem super-heróis. Nem todo mundo com deficiência quer se superar, como as paraolimpíadas fazem parecer. A maioria das crianças com deficiência quer ter uma vida normal, como qualquer outra pessoa. São pessoas normais, com algumas limitações, com direitos à acessibilidade, educação, saúde e transporte como qualquer outra pessoa.

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